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A mostrar mensagens de agosto, 2014

carta de refugiado

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sentir? o céu escurece. os sentidos caem para o mar ensanguentado. sentir-me português, dizias-me? basta olhar em volta: uma paisagem de terra distante faz-nos não ter pátria, faz-nos esquecer o espírito guerreiro, (os tais doidos varridos caralho!) que haviam entrado mar adentro com naus a apodrecer e a cheirar mal... eu vivo num esquecimento. fui esquecido pelo tempo, o amor abandonou-me muito cedo, o mar soltou a ira para meu desaparecimento. que te hei-de dizer? não sei quem me escrevo, os dias incomodam-me, as rotinas corroem-me, a vida atormenta-me... e só me resta a morte, essa, de tão natural, alivia-me do flagelo... tudo o resto deixa-me deprimido. já tudo se tornou igual, mesmo o inesperado já o havia esperado... mesmo uma voz diferente, um rosto desconhecido, na minha alma soam-me repetidos. e isso, creio, para um jovem como eu, é já como se fosse um fim precoce. o por termo à minha vida nunca me intrigou. tornei-me um espelho estilhaçado com ...

sim.

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se me dissesses sim tudo unia, tudo tinha razão de ser. se nos juntássemos, no jardim todas as flores iriam florescer. o vento tomaria só uma direcção. o mar vinha sempre desaguar no mesmo espaço onde o nosso coração soube o que era amar. os males, os olhos mal voltados, os ignóbeis gestos, sucumbiam de tão ignorados. os deuses do olimpo o céu escureciam e, inda assim, em nossos olhos modestos as estrelas brilhariam... se nós... Álvaro Machado - 04:33 - 26-08-2014

Subconsciente

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Os sentidos na noite purificam Até ao infinito. Noite significa morte. Silêncio. Amor. Contradições. Qualquer coisa que a montanha insista como impossível... Um barco parte. Sem significado, O horizonte espera como que pelo sol que virá não tarda. Nem é cedo, nem é tarde. São os contrastes do pensamento metafísico, Da alma cortada por uma faca despida de preconceitos. Tem calma, todos somos assim. Deixa o silêncio entrar. Nada é de outra maneira senão nada... Encontro no excesso O meu refúgio para viver Os disformes espaços que Ora surgem ora desvanecem No mesmo tempo... Descansa, dorme. Solitário homem. Álvaro Machado - 02:36 - 18.08.2014

Nós.

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O universo move. Nós paramos. O fogo sobe. Nós encontramo-nos. O destino? Junta. Separa. Da significado. Eterniza-nos por essa essência. Álvaro Machado - 19h54 - 15-08-2014

silêncio do condenado

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digo-te não. os corpos nem são como dizíamos ser... digo-te, numa canção, o que nunca soube dizer ao meu coração... é o não que é sim, o nunca que é para sempre e até ao fim... fui embora. agora vagueio por esta estrada fora cheia de disformes movimentos à roda... é irónico o destino. sermos tudo, termos tudo, fazermos tudo... para quê? não tarda, acabamos. o que fomos, já não somos. o que somos havemos de não ser. ... e no meu não fica o verso que te diz: hei-de voltar. Álvaro Machado - 14:24 - 10-08-2014

Solidão de universo

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Um espelho estilhaçado. Um caminho com duas direcções. Sentidos de mim reflectidos Por entre a escuridão. Ecos profundos que se erguem E me assombram e me afugentam de tudo que mexe. Quem és tu, afinal? E o silêncio logo se torna perpétuo; nessa hora flagelo se me cobre por entre todo meu sangue... Olhar e saber o que o olhamos É uma dor que ultrapassa qualquer ciência. Por isso, eu calo, eu fujo de tudo que se me cruza No acaso da vida infortuna. E estas perguntas, vãs como toda a alma humana, Existem para que nós existamos de mesmo modo. Não sendo nada, nada sendo, sendo tudo... Querer sem saber o que querer, saber querer sem saber... Que idiota, Deus. Que idiota que és. És e não aclamas seres. E, inda assim, invades-me os sonhos, tornas-me solitário, Fazes-me poeta só por egoísmo... Como consegues? Fizeste-o sem me perguntar. Fizeste-o sem escrúpulos, sem sentido nenhum... Fizeste-me não ter sentido nenhum! Fizeste-me ser dois. Não consegui ser...