Queria que todas naus começassem a navegar... Que cidades inteiras - todas as luzes - sucumbissem E mergulhássemos em plena escuridão... Os lobos viriam das montanhas e os sinos alarmar-nos-iam - Também se vive lá no cimo!... Fossemos todos a mesma nau e a mesma viagem, Sem que a luz iluminasse a não ser em nós mesmos, E o medo que paira sobre o ar pesado do nosso quotidiano, As dúvidas, as preces, tudo isso Seria nada no porvir!... Tenho receio que isto seja apenas uma alucinação Do meu interior nefasto e torpe... E tenho por tantas incertezas o naufrágio desta nau no pensar Que me dói a alma, e se as águas agitam, pelo pouco que seja, Especulo tão-só!... Deus meu, não pode afinal o universo ser como eu quero? Porquê? Porque mo atiras tão cruelmente para o precipício de um poema? Creio que talvez, ou talvez não, quem sabe!, nunca vais ouvir tamanha confissão Nem escutar devidamente o pobre coitado que desespera, vão e inútil, Por uma breve certeza!... Álvaro Machado - 23:04 - 07...