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Ébria fuga

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Com o copo de vinho que tenho defronte desfaço-me da realidade como as crianças fazem sem o saber. Assim, tenho só um pensar cru e imaculado, a certeza de que o belo me contagia, que sou um pobre feliz... Ah, e não o pude ser antes... Antes atravessaram-me os pensamentos mais torpes, a escuridão plena dos meus maiores medos... Não sabia ser. Tudo era imenso, disperso, desfragmentado... Não sabia não pensar quando me via sozinho na berma da estrada... E Caeiro era tudo para mim. Com ele era-me livre... Mas havia sempre a sensação que a vida é uma nau sem porto onde possa atracar, aonde a dor nunca cessaria, e que em mim isso estava cravado no coração para todo o sempre. O vinho acaba por me levar além da realidade doente e eu sou uma criança muito pequena cheios de sonhos por concretizar. Álvaro Machado - 16:03 - 27-07-2015

Solidão de universo

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Um espelho estilhaçado. Um caminho com duas direcções. Sentidos de mim reflectidos Por entre a escuridão. Ecos profundos que se erguem E me assombram e me afugentam de tudo que mexe. Quem és tu, afinal? E o silêncio logo se torna perpétuo; nessa hora flagelo se me cobre por entre todo meu sangue... Olhar e saber o que o olhamos É uma dor que ultrapassa qualquer ciência. Por isso, eu calo, eu fujo de tudo que se me cruza No acaso da vida infortuna. E estas perguntas, vãs como toda a alma humana, Existem para que nós existamos de mesmo modo. Não sendo nada, nada sendo, sendo tudo... Querer sem saber o que querer, saber querer sem saber... Que idiota, Deus. Que idiota que és. És e não aclamas seres. E, inda assim, invades-me os sonhos, tornas-me solitário, Fazes-me poeta só por egoísmo... Como consegues? Fizeste-o sem me perguntar. Fizeste-o sem escrúpulos, sem sentido nenhum... Fizeste-me não ter sentido nenhum! Fizeste-me ser dois. Não consegui ser...

desfragmento

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se me dizem para te amar eu não amo. se me dizem para te esquecer eu não esqueço. se me dizem, se me não dizem, eu não quero saber. este sou eu. uma náusea de consciência. uma mágoa vendida à sorte. o desfragmento, o estúpido, o artista de nada... o não ter sentido, tendo-o. o vácuo de todo mundo num rasgo de génio, o cadafalso permanente e a morte à vista... o verso disforme. nenhum ser merece escrevê-lo. tanto tormento. tanto, tanto... disseram-me para te amar e eu amei, disseram-me para te esquecer e eu esqueci... morri. morri porque nunca vivi. ébrio suspiro da corrente... meu amor. Álvaro Machado - 17h47 - 14-05-2014