Ébria fuga


Com o copo de vinho que tenho defronte
desfaço-me da realidade
como as crianças fazem sem o saber.

Assim, tenho só um pensar cru e imaculado,
a certeza de que o belo me contagia,
que sou um pobre feliz...

Ah, e não o pude ser antes...
Antes atravessaram-me os pensamentos mais torpes,
a escuridão plena dos meus maiores medos...

Não sabia ser. Tudo era imenso, disperso, desfragmentado...
Não sabia não pensar quando me via sozinho na berma da estrada...
E Caeiro era tudo para mim. Com ele era-me livre...

Mas havia sempre a sensação que a vida é uma nau
sem porto onde possa atracar, aonde a dor nunca cessaria,
e que em mim isso estava cravado no coração para todo o sempre.

O vinho acaba por me levar além da realidade doente
e eu sou uma criança muito pequena
cheios de sonhos por concretizar.

Álvaro Machado - 16:03 - 27-07-2015

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