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A mostrar mensagens de maio, 2015

Onírico papel

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Dos sonhos que construo à escuridão de onde me sustenho p'ra toda a vida vou subindo cada degrau vão até que a chuva lá fora se torna pressentida e no horizonte surge um clarão... Surge não sei de onde, não sei porquê... Qualquer coisa de mundano ergueu um homem que nada vê onde tudo vem em seu engano e por isso em nada crê... Rasgo o papel. Os versos morrem-me ainda no sangue. E no meio da mágoa onde um poeta se há-de esconder escurece, perdem-se os sentidos, e exangue vejo a lua do outro lado do cais a desaparecer e com ela também a mim deixarão de ver... Álvaro Machado - 03:01 - 30-05-2015

Criação do Ser

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Numa imensa vastidão de floresta e de liberdade, Por entre os maiores mistérios que assombram o meu pensamento, Eis que me sento, reconfortado, no cimo de uma jaspe desgastada já pelo tempo, Ao lado do meu companheiro e mestre Whitman, Para saber o que esperar de nós. Compreendemos que tudo é possível nesta tarde de sol Que supomos só nossa, E por isso elevámo-nos como os tais criadores do imperceptível, Do desajustado, do longínquo Que é nosso por direito. Fazemos das nossas dúvidas e das nossas incertezas Um dogmatismo deplorável, mas autêntico; E eis-nos mestres deste Tempo, E servos do outro que coabita interiormente, Lá numa cavidade insubmissa e altiva... Percebemos que o nosso rosto de agora Reluz uma força tamanha De conquista, de desejo intenso, de posse perante todo o universo! E não quebrámos perante vozes inócuas e risos torpes Dos vazios corações do outro lado. Álvaro Machado - 16:02 - 24-05-2015

Não sou conduzido, conduzo

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Nada oiço do que se propaga do outro lado de mim. Não deixo minha voz trémula nem minha crença desmoronar por uma praça cheia de sangue. Mantenho-me surdo para os aterradores gritos que infligem dor alheia. Pois eu calo, e no silêncio amargo Só oiço meu coração De herói solitário A seguir passos em que acredito. Quem é lá fora eu não sei... O tempo em nada me pertence nem a meus sonhos... Apenas o lado em que chove sou íntegro... ( Vácuo!... ) Álvaro Machado - 01:33 - 24-05-2015

Nota final

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Encaro o suicídio Como inevitável e como única certeza Que entre os largos devaneios distantes Meu coração suporta... Sentado, debruçado sobre qualquer coisa de natural, Encaro a frio a realidade que a meus olhos pesa e persiste. Depois caio, porque não sou mais nada Senão uma queda permanente. E a sociedade que por dentro me corrói e se me afasta? Que é do vadio que no cimo do mundo se escondeu, Se encovardou de olhar de frente Para a Dor e para a Morte? Coitado. Álvaro de Campos, coitado de ti, que ninguém chorou essa dor tão fúnebre!... Coitado do que és, uma sobriedade desajustada às leis do universo!... E do nada que não existe, somos nós e assim permanecemos Até ao fim do largo oceano!...

embalar do senhor

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e agora que o tempo chora embalo a canção da minha hora... e agora que o tempo chora caído não me levanto como outrora... e agora que da minha mão o tempo voou é que não quero ir embora... e agora que tudo que era se esvaziou é que não quero ir embora... e agora, embalando-me, cantando, sorrindo, vou como que afastando-me, vou longe indo...

Eternamente esquecido

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A um dos frios recantos da cave, Num cessar de luz cerrado, Come a criança bolachas Enquanto principia o dia. E nesse passar de tempo, As aves entoarão o mórbido que jaz E nada mais restará Senão o esquecimento... Mas estou bêbado e mal me peso Em um contrabalanço do viver estando morto Não quero ficar, passo fome na alma E a um mendigo ninguém estende a mão... Álvaro Machado - 16:31 - 17-05-2015

Índole sábia

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à frente do nada onde a alma é o ver nunca soube do saber e a morte nunca havia de querer sair dos que a ouviram... então soara cada vez mais lá do fundo, da casa longínqua, o eco onde mortes são iguais a um virar de página... sempre indo à deriva ( vendo-nos de permeio... ) num ir diante de uma escuridão cerrada às avessas com a verdade... para quê um sábio no meio do nada que é cave habitada pela alma do outro lado da estrada? Álvaro Machado - 19:05 - 03-05-2015

Coimbra dos doutores

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a cada vibrar de corda, a cada soar de voz escorre a lágrima sentida e saudosa vestida de capa negra por todo o estudante em cada um de nós perpassa o sentir Coimbra muito além e quando outros nos ouvem, do sentir de aqui, nada compreendem... o silêncio enternecido no cessar de uma canção nos leva para um passado, para uma geração, imbuída de crenças e de sonhos e aí compreendemos esta cidade, tão-só ela se despe, desinibida dos que a vêem, e se preenche em cada recanto de vida e esperança... retoma o vibrar de corda e o soar de voz desta cidade que vive dentro do meu coração!

Cave do coração

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Na cave do coração magoado Uma perturbadora e entreaberta porta deixa a dor surgir Por entre a madrugada distante. Eu, envolto nos mais desesperados embalos para a morte, Deixo fluir a escuridão que há em mim - vejo-a expandir por todo o universo Em eterno vácuo... E que só tu, noite de recantos infinitos, Me compreendas e me leves no coração... Porque o resto eu calo e guardo E mantenho gélido... Gélido então, pois a vida me deu sombra e solidão Quando havia sol e alegria; Abriu-me, sem que notasse, uma ferida nessa cave Que eu chamei de coração... Álvaro Machado - 01:24 - 01-05-2015