Mensagens

Sábio experiente

Imagem
Durante a passagem na floresta Ao sabor da liberdade, a fogueira pujante Ilumina a experiência daquele semblante Que discursa o que ainda lhe resta Conta as histórias do seu passado Convicto dos seus erros, incerto das suas acções... Nunca poderá contar-me o que havia passado Se tivesse sido outro noutras ocasiões... Dizia ele naquela noite selvagem Para não desperdiçar coisa nenhuma, Para apenas encher-me de coragem Na manhã seguinte de bruma. Acordei como se ganhasse novo alento, Ergui-me perante o céu de grandes esperanças E sozinho, sempre sozinho, indo com o vento, Fui atrás das abandonadas lembranças... Mas para sempre na memória fica Este sábio golpeante... Velho mestre de olhar triunfante Conquistador d'minha alma perdida! Álvaro Machado - 15:38 - 27-10-2012

Nevando corpos

Imagem
Nevava junto à casa a neve de dois corpos Arrastados pelo chão gélido, enevoado. Ali todos os segundos contavam uma história E o rascunho, apaixonada neve, era o sorriso Como num grito, das mil palavras ditas, Um breve suspiro contando segundos Que passavam enquanto a neve descia Sobre os dois corpos imotos Ambos fumavam um belo cigarro Duradouro até à madrugada seguinte... Ambos dissolviam o fumo nas veias E filosofavam ignobilmente Ele tinha apoiado o braço no seu pescoço Encostando-lhe à cabeça o rascunho - Que levaria em conta o amor nutrido; E avançou de uma vez só com a voz: «- Quando neva confunde-se-me a razão, Por não saber o que sentir... - Quando neva iluminas a minha alma Como se na neve morde-se os lábios» «- É assim que te deslumbro, mas encantado Eu grito à luz que me viu nascer algo mais Grito de amor, que não possuo, e grito de dor Contigo ao meu lado!» Caía ainda neve posterior à casa e aos dois... ...

Voa gentilmente

Imagem
Voarmos sempre foi possível Ainda que desconhecido. Voar até ao céu esquecido E fazer desse voo algo inesquecível Sempre será possível ao corpo voar Ainda que as pessoas digam que não... Por isso, voa por esse mundo para olhar O que aqui em baixo nunca te dirão... Foi sempre escrito nas paredes Coisas mais belas do que somos E, para sempre, seremos nelas Aquilo que afinal não fomos... Lá em cima as brisas esfriam E somente nos resta respirar Aquele dócil ar Dos que, como tu, voam... Sobrevoar montanhas, oceanos e algo do género! Sentir o cheiro a liberdade pairar! E ver cá em baixo coisas estoirar Como se voar fosse efémero! Álvaro Machado - 17:19 - 26-10-2012

De costas voltadas

Imagem
Vai embora, ainda é tempo. Foge desta escuridão sem fim. Deixa o resto pr'a mim Porque é meu lamento... Corre por essa névoa eterna! E não olhes mais para trás! O resto são sensações más Que o vinho dá na taberna. Entrámos noutra dimensão... De costas voltas p'ra ti, que vais longe, As cores enfraquecem pela escuridão... A chuva que chove leva-te ao deserto E cedo encontrarás a esfinge (Serve-a de coração aberto!) Álvaro Machado - 11:41 - 26-10-2012

Atmosfera evaporada

Imagem
Quando a atmosfera evapora as lágrimas, E os transeuntes se alegram de felicidade, O ar é-nos a coisa de mais simplicidade Transbordado d’lágrimas… Indiferentes aos que passam, eles ali vão Como se não partilhassem da angústia… Começa a chover e no estrondo de um trovão Vem a partilha d’angústia… Não verás tu, homem, que quando sorris E achas ser um dia alegre, porque ris, Não passa de um dia entristecido? Porque é quando nós sorrimos às pessoas, E felizes pensámos como fino tecido, A razão triste buscando um sentido… Álvaro Machado - 19:51 - 25-10-2012

Morram!

Imagem
Por mais que o dia seja belo e que a noite bela seja Não passa nada, nada, nada de um sonho suposto! Por mais que haja harmonia e paz, que se deseja, As coisas continuarão como sempre foram E nosso Destino é viver do lado oposto: Onde há ricos e pobres, loucos e génios; Onde há formosas mulheres altivas Armando a ferradura do cristal das ogivas! Onde há inutilidade supérflua das aparências! Onde há espaços degradados, nas mentes, Que estabelecem a barreira entre o físico e os boémios! Porquê? Porquê? Porque apenas não sentes E deixas que dias e noites morram? Álvaro de Magalhães – 19:06 – 24-10-2012