Nevando corpos
Nevava junto à casa a neve de dois corpos
Arrastados pelo chão gélido, enevoado.
Ali todos os segundos contavam uma história
E o rascunho, apaixonada neve, era o sorriso
Como num grito, das mil palavras ditas,
Um breve suspiro contando segundos
Que passavam enquanto a neve descia
Sobre os dois corpos imotos
Ambos fumavam um belo cigarro
Duradouro até à madrugada seguinte...
Ambos dissolviam o fumo nas veias
E filosofavam ignobilmente
Ele tinha apoiado o braço no seu pescoço
Encostando-lhe à cabeça o rascunho -
Que levaria em conta o amor nutrido;
E avançou de uma vez só com a voz:
«- Quando neva confunde-se-me a razão,
Por não saber o que sentir...
- Quando neva iluminas a minha alma
Como se na neve morde-se os lábios»
«- É assim que te deslumbro, mas encantado
Eu grito à luz que me viu nascer algo mais
Grito de amor, que não possuo, e grito de dor
Contigo ao meu lado!»
Caía ainda neve posterior à casa e aos dois...
A casa e o jardim cobertos com flocos
Deixavam-na cair sozinha, eterno flagelo
E o grito nunca mais se fizera ouvir.
Álvaro Machado – 19:58 – 26-10-2012
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