Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2013

Velho. Cansado.

Imagem
- Lamento que tenha sido assim; que agora esteja assim, Mas, com o tempo, tu sabê-lo-ás: nada que te inquieta Inquieta mais ninguém, tudo o que podes mudar não podes, Porque estás condenado a nada mudar. E se ao menos pudéssemos alguma coisa mudar... Um tracejado apagar, um salmo modificar, um sentido alternar… Qualquer coisa. Esquecer o es tipulado e recriar de impossível A possivelmente possível… E tenho pena por ter lamentos somente a dar. Poder-te-ia dar outras coisas, como uma casa à beira rio - Na minha adolescência eram esses os tipos de casas Que eu ficava, na varanda, insaciado, a desejar… Cheguei a construir uma pequena embarcação, Quando imaginar não era uma sensação Mas uma verdade irredutível e cheia de razão. E nela eu fugia. E nela eu esquecia, Porque, afinal, vivia! Álvaro Machado - 22:39 - 30-04-2013

Anárquica noite

Imagem
Não me obriguem; porque se obrigarem eu não o faço - Para mim dever há só um: ouvir esta noite assombrosa Por onde passa o vento frenético, de cólera impiedosa, E a escuridão é o caminho que faço e desfaço No mesmo instante, no mesmo espaço. Neste momento de vida, talvez precoce e imaturo, O oceano empurra para a mesma direcção - Que outros vão percorrendo em vão, Outros, esse tais, que da vida soltam inertemente revolução - De caminhos que para mim não procuro. Só esta noite me conhece, só este vento Intercepta a voz, o verso, a inquietação em lamento Com que eu carrego de mão ao peito, Por um sentimento trágico e sem encanto. De fora? Pode brilhar, e pode até iludir. Nunca disse que mais ilusões não estivessem para vir. Só que ilusões não passam de ilusões, e esta noite existe Como o vento e a minha alma. (Ó alma, por que me fugiste?) Álvaro Machado – 23:14 – 29-04-2013

Ao céu

Imagem
Tu. Quem dera que tu aí em cima, Superior a todos nós, Pudesses o meu coração acolher E o meu amor receber. Tu. Queria que me ouvisses, Ias compreender o que ninguém pode compreender (Talvez deixar-me-ias Ulisses reencarnar Para por entre aventuras eu me aventurar...) Tu. Que continuas longe e em mim, Que me ouves e compreendes sem te pronunciares Será que isto tudo vai ter um fim Se longe assim continuares? Álvaro Machado – 13:21 – 27-04-2013

Voz de Deus, na terra.

Imagem
Hoje sei toda a verdade - Que eu não posso nunca mudar, Nem o rosto, nem o modo de vida, Nem os hábitos ou os desejos... Hoje caio e bato no fundo contra a humanidade - Porque eu não posso pertencer aqui de modo nenhum; A humanidade é uma avalanche a que nenhum homem resiste, A que nenhum homem afronta nem sobrevive (E é por isso que tanta vezes se desiste) É fim de tarde. E eu choro sem saber porquê nem por quem. (Será que o meu destino é apenas sofrer, sem razão para sofrer?) Acabo como este fim de tarde: tépido; sem poder escutar uma voz, Nem poder abraçar um conhecido - porque eu não tenho conhecidos, Nem acho transeuntes neste pedaço de terra... Toda a indiferença que me acerca perturba-me sem eu saber porquê. Apenas lhe sinto a dor. Não posso sorrir, sentir, conhecer a vida! E de um voluptuoso suspiro de liberdade, junto de corpos moribundos, Que falam a mentira no que dizem e escondem a verdade no que pensam, Eu vou sentindo-m...

Retorno.

Imagem
Já nasceram e tiveram a eternidade, Já cresceram até à noite primaveral - Enquanto eu vivi sempre igual, Na mesma saudade, Na mesma vida infernal. Um lugar imbuído de nostalgia; Um lugar que tanto me diz sem dizer, Que me pertence e é meu sem poder ser - Porque floresce por todo lado a magia De mais vida poder nascer. De quem eu falo todos sabem. E os que não sabem mentem. - O que floresce são saudades de um jardim E o que nasce são vontades de voltar a viver em mim! Álvaro Machado – 00:47 – 26-04-2013

Vitória de Portugal

Imagem
Dedicado a Salgueiro Maia Venham comigo, venham marchar Portugal tem muita mais para dar Do que por uma janela obscura e cerrada Que há muito se foi pondo ultrapassada Venham comigo, venham lutar Icemos juntos a igualdade Abaixo Salazar, Salazar sinónimo de infelicidade Venham homens e mulheres A felicidade no Paço estamos a conquistar Enquanto os pratos e as colheres Por nós vão aguardar E sempre vamos, vamos a gritar Portugal unido contra Salazar! Álvaro Machado - 23:48 - 24-04-2013

Não ter nexo...

Imagem
Quando quis voltar a ter rumo já tarde era para mim. De novo quis voltar àqueles desertos alucinantes, Àquela prisão de areia - e os camelos tão distantes Juntam-se, a mim, nestes cismos arrepiantes! Não há mais conquistas a ter. Nem futuras a sonhar. Passo horas à espera que frutifiquem Árvores de fruto que nem tão pouco crescem Porque o sol, em vez de criar, há-de queimar. E em vão, a alucinar, eu peco por te desperdiçar, Que nem ter esperança me há-de ajudar, Porque Deus quis que o meu rumo fosse procurar O rumo onírico de nada encontrar! Álvaro Machado - 20:56 - 24-04-2013

Invasão divina

Imagem
Invadem-me, no sonho, deuses das galáxias moribundas, De um suspeito ar desconhecido e imaterial Onde suas mãos transcendem toque magistral Por meio de elegias desencantadas Que, entre um sopro, uma cantiga de amor, Um desgosto avassalador Impede que o meu sono se comece a manifestar Por gotas caírem num sentido de não findar... Tremenda insónia vai agreste do meu quarto ao Olimpo, Que ceptros e bastões não bastam para que o céu seja limpo. Têm forças, outras mais gloriosas, estes deuses que transcendem Outros deuses, deuses da terra, que contra estes tudo perdem. E volto-me para retomar o sonho, que mais parece pesadelo. Esqueço por que me invadem estas noites de sono interdito - De volta à noite calma, inquietante, que ouve o que tenho dito, Só ela sabe o que quis ser e porque nunca consegui sê-lo... Álvaro Machado – 22:55 – 22-04-2013