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A mostrar mensagens de junho, 2014

Palavras.

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Sim. Podia ser melhor. Podia ser aquilo que todos são. Sim, vamos ser isso, vamos ser muito mais, Vamos ser tudo menos nós. Vamos falar e esquecer que falámos, Sentir para dizer que nos magoámos, Ver para acharem que nos preocupámos, Ficar para saberem que não nos distanciámos. É imenso o sol ao fim de tarde. As ruas confundem-se, à distância não existo, e ao calor não me sinto existir... Mas para mim tanto me faz, viver, morrer... Apraz a intensidade que me dás, isso basta... Basta-me entrar na rota do desajustado, do entontecido... E tudo isto para te dizer que não sou melhor. Sou o que sou, sou a liberdade que deixo criar, o sentimento que faço por adivinhar - ruas paralelas à cavidade do meu coração, pontes onde o declive torna ébrio o fitar, e a passagem somos nós em volta... isto sou eu. resto disso é distância e mar dessa distância. Álvaro Machado - 14:36 - 22-06-2014

À memória!

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em memória a ti, companheiro. muito mais importante que as palavras são os pequenos gestos. gestos que nos enchem o coração da saudade de um que estará para sempre connosco. então não são pequenos... são gestos largos, nobres, que significam tudo. as vozes entoaram e prosseguiram a sua rota natural acompanhadas pelas guitarras que soaram tristeza nas notas... capa negra, assim, como sabemos, homenageamos. e é com a capa negra que sempre diremos: nós, contigo, sempre estamos. Álvaro Machado - 20-06-2014

sem desfecho

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para mim estar nessa multidão é como se não existisse. cada passo e cada suspiro meu é uma tremenda ilusão. é cair de rastos no chão sem me conseguir levantar mais. são as iluminações e os barulhos, eles confundem-me; e o corpo e a mente perdem-se horas a fio, sem nunca mais se encontrarem... caminho, porém. lado a lado com a lua, eu caminho sozinho... p'ra onde? p'ra lado nenhum... lado nenhum, pois; então é tudo um vácuo e eu sentir não vos importa coisa alguma... é mais um que na sombra se mexe e na sombra se perde até à eternidade do ser. é só mais um com fantasmas e receios, com cadafalsos e mentiras entre eles... que me importa viver? viver assim é não viver assim. pouca coisa resta, porque eu por dentro morro em um requiem de obscuridade ébria... estarmos juntos no amanhecer? mas que amanhecer nos há-de juntar se nós fomos feitos para estar sós, longínquos, sem sabermos da existência um do outro, ainda que saibamos perfeitamente que...

O eco que vai por Coimbra

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Ecoa no Mondego desta cidade o som de outros tempos. Oiçam, bem de perto, a intemporalidade que vai na corrente e que são versos. (Ecoa neste rio o meu coração...) Eu que, isolado, sem saber tomar uma direcção, pergunto aos deuses do universo se algum dia me hão-de recordar como eu os recordo... Não sei, porque me dói muito querer saber. Dou um breve suspiro, fito as indefinições do ar, e penso para mim: quero é morrer. Por que hei-de outro caminho querer, se por mim ninguém vai suspirar? Mas é deste rio que me vem a veia de artista - incerto, desconhecido, embriagado pela sublime paisagem. E continuei pensando: nem que isto me leve ao suicídio, nem que da minha vida desista, o que eu quero é saborear esta viagem aos tempos passados. Álvaro Machado - 20:12 - 10-06-2014

Total perda

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Perdi tudo... Mesmo esse nada se esvaiu de mim... Tornado escombros, vagabundo... Aqui gelo; e que sou? Em multidões escondo-me, mas por dentro morro. Toda a crença é cavar mais fundo na minha cave de inércia... Perdi o controlo... Tornei-me num deus frio, não sabia... E quando cumprimentei o barbeiro ao pensar nisto, ele sorria... Pois agora solto um breve suspiro ainda antes de partir... Se soubessem o fardo que carrego e, inda assim, nunca o tiro... Só quero apagar o cigarro e sorrir... Mas agora é tempo perdido - o que perdi, é fugido, e o que tenho é efémero para voltar a viver. Álvaro Machado - 20:38 - 30-05-2014

pranto recalcado

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silêncio: é noite, chove e eu não existo. na fé oiço, calo e desisto. estou só, sofro, e é assim que eu quero estar. cubro-me com o vácuo, fito o mar e penso: quero-me ir, quero findar. Orionte - 00:10 - 28-05-2014

questionar o inquestionável.

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deus? sou ateu. só creio em deus quando me sinto a morrer. e só, também. sou mau por isso? não creio nele. o olhar de soslaio é quanto baste - as estrelas vigiam-nos enquanto dormimos... sei bem quem sou. não façam barulho... já vos disse: sei quem sou. e calem-se, calem-se já. que agora volto-me para o céu e fico destroçado... venha a morte. aí, e só aí, creio em deus. porém, antes disso, nunca me acerquei de velas e preces destoadas do real. e morto, morto agora mesmo, vos digo... digo... esperem... não digo nada... o maior segredo do mundo é mesmo esse: a indefinição. fim, começo? deus sabe. Álvaro Machado - 22:29 - 19-05-2014

nau inocente

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ontem fui. hoje é que não sou. ontem balbuciei o que restava de mim. hoje sou mudo. aquele barqueiro em uma nau, indo inocente, diz que procura a índia. não... ele continua em busca desse mar paradisíaco onde não precisa de pensar. hoje é ele. ontem fui eu. fui eu quem passou e por esse mar naufragou... vai-te. foge desta onda. que ela há-de levar-te e nunca mais entregar-te. Álvaro Machado - 21:47 - 18-05-2014

Desconexão

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Desta complexa e entontecida noite, Sobra a mão morta Que transparece o estado atónito Do que ecoa baço... E, em redor, um impulso Agiganta o desejo absurdo Para que a razão entre e responda Quem sou eu. (Um doido. Um doido sem nome próprio e sem ninguém para o compreender) Talvez seja isso, talvez. Afinal, qual é o desfecho depois de sofrer numa noite assim? Álvaro Machado - 01:28 - 18-05-2014

noite.

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a minha vida é breve como o vento e vazia como o silêncio do vento. eu disse-te isso. e tudo passou... mas a noite passada trouxe-me o teu flamejante olhar, a doce e inocente voz, e por um breve instante pude ter-te como deus tem o universo. eu devia ficar calado. eu sei. mas eu nasci para dizer tudo o que embarca o coração, todas essas sensações que ninguém entende... é o estar sentado sobre o enternecido luar e suspirar afincadamente... sabes, o normal. o normal ciclo de alma errante - o não ter nada nem ninguém, as raízes espalhadas por aí fora a sofrer intoleravelmente. breve é tudo: eu, tu, todos... mas permite-me dizer que nesse breve instante tenho a sensação de te ver p'ra sempre. Álvaro Machado - 18:13 - 16-05-2014

desfragmento

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se me dizem para te amar eu não amo. se me dizem para te esquecer eu não esqueço. se me dizem, se me não dizem, eu não quero saber. este sou eu. uma náusea de consciência. uma mágoa vendida à sorte. o desfragmento, o estúpido, o artista de nada... o não ter sentido, tendo-o. o vácuo de todo mundo num rasgo de génio, o cadafalso permanente e a morte à vista... o verso disforme. nenhum ser merece escrevê-lo. tanto tormento. tanto, tanto... disseram-me para te amar e eu amei, disseram-me para te esquecer e eu esqueci... morri. morri porque nunca vivi. ébrio suspiro da corrente... meu amor. Álvaro Machado - 17h47 - 14-05-2014

Teoria

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O que é morrer? É o que eu sinto. Lentamente, sinto-me desvanecer Com a embriaguez do absinto. O que é morrer, senão morrer? Nada. É alguém que já existiu. Que não existe e se esqueceu que se viu. É tudo de mim a desaparecer... É quando está muito frio, é quando nós desaparecemos E arde no fundo do mar a nossa imagem... É quando é calma e silenciosa a viagem Onde nós já morremos. A vida é assim: sinistra, complexa. Num momento tudo se move E, de um momento para o outro, extingue-se Como se nada fosse... Álvaro Machado - 22:24 - 02-05-2014

Paragem.

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I. É só uma sensação. Um pequeno desconforto, disse eu, Olhando em volta Para o sentido que me move Inerte, frágil, ridículo… E paro. Não quero continuar. Deixo que tudo desmorone! Não tenho mesmo vontade nenhuma De me erguer p’ra poder viver. Da vida o que posso esperar? Ilusão errática, Agonizante, cismática… E não mais que isso. Um eco profundo que eu invoco Só porque não valho nada… II. Para além da vida, Este meu eu que me corroí por dentro Leva-me ao suicídio da alma Pela súbita inveja De uma pomba voar… Quão frio me sou quando rodo numa náusea de suposições O que esta pomba faz sem sentir, e muito menos sem pensar. Feliz porque Deus é egoísta e a deixa ser feliz Para nos escarnir. Olhámo-la com uma inquieta e estranha curiosidade. Olhámo-la porque vemos nela o que não vemos em nós: Vemos-lhe liberdade, meus caros. Liberdade! Liberdade e inocência, pura inocência Que a faz voar muito mais além… Álvaro Machado - 23:26 - 01-05-2014