Substância


Vês? Ali, ao longe, é tudo.
É o universo, a verdade crua,
o sentimento despido de interpretações.

A luz que vês é sábia,
é intensa, é virtude...
Ela guiar-te-á.

Eu sei, a sensação é um audaz abalo.
Acaba por fazer ruir os alicerces
onde nos equilibrámos...

Mas sabes, não posso dar-te a chave,
não posso vender-te o mundo
como Orionte vendeu

Que importância tem isso para ti?
Olha para o céu.
O céu tem tudo.

Vê, sente: inspirámo-nos, condessámos a metafísica,
hoje escrevemos com o coração
tamanha obra!...

Que vale a pena na vida?
O indefinido, o incerto, o desconhecido
- isso move os poetas, às escuras, na caverna do desassossego

servos de todo aquele misticismo,
dos devaneios repetidos,
do porquê inverosímil...

Não sabias que sou cego?
O melhor do mundo não é ver,
é sentir além-mim, além-ti, além-tudo...

Álvaro Machado – 04:54 – 29-08-2015

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