Do desassossego eleito


Cada dia que passe é menos sol que se me esbate na fronte.
Cada dia que passe sou-me menos, excepto do ser menos que sou cada vez mais.
Cada dia, do universo extensivamente cansado, a percepção do afecto desvanece...
Guardo, enfim, das memórias que a noite faz recordar (e devidamente comover)
um ou outro episódio mais caricato, talvez de uma jantar onde fomos qualquer cousa,
talvez dos sonetos escritos sobre o asfalto...
Tu aí, viajante submisso, onde ousas ir? À descoberta do mundo?
Não o faças; ignora o que vives, esquece os sonhos, vive-os somente aí, nesse estado de alma...
Verás, como eu, que não há nada ali. É tudo um grande vazio.
Nada queiras que não esteja já em ti, não anseies abraçar cousas que serão veneno
nem despertes em ti a paixão que te fará cegar do teu sonho...
Do poder - e do poder inda mais afincadamente - afasta-te!
E serás assim o poeta que escreve e rasga do caderno inteiras confissões mentais,
que num êxtase momentâneo se enfurece com a chuva e a descreve exaustivamente
num poema qualquer, ali, abandonado de toda a humanidade!...
Sabes..., eu não me esqueci dos que amo, mas tinha que ser assim,
se quisesse descrever-te o medo e a sensação que me corrói
o sofrer inevitável seria...

Álvaro Machado - 15h33 - 02-04-2016

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