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Carruagem sem autor

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A quele homem está, logo pela manhã, mergulhado na sua comum mortalidade quotidiana, passando os dias vazio e imóvel, como se nem mesmo o comboio, com o som estridente a ecoar nos tímpanos, fosse capaz de mover-lhe a alma. Nada o inquieta. Nada perturba o seu pensamento ou rompe os seus ideais. Assim, a sua condição torna-se numa pura expressão de espírito, serena e intocável.  Álvaro Machado - 24/02/2025

Herege sóbrio

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Os pequenos passos que dou Num obscuro ir se me pesam; Parece que de mim não sou E os sonhos se me cessam... O breve respirar defronte É já o universo inteiro a pesar; Vã e solene, feliz que encontre, A vida sóbria sem se embriagar... Dize o mestre aos estatuários da poesia, Aos que lhe corrói o lento deambular, Que alto é quem se revê na heresia De nunca em si acreditar... Álvaro Machado - 12h41 - 31-10-2015

Perda de tom

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Lenta e drástica vem Num soar disperso E se me pesa, pesa-me tão bem Como que a todo o universo E a curva da esquina será indefinição Em esse sempre eterno e fiel; Servos leais que nunca vêem no não O rodar livre de um carrossel. Assim são os que nas montanhas se refugiam, Leis esquecidas, vácuos desertores, Os poetas que nesse virar de esquina escreviam Insubmissos e inatos sonhadores!... Álvaro Machado - 14h58 - 10.08.2015

Ébria fuga

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Com o copo de vinho que tenho defronte desfaço-me da realidade como as crianças fazem sem o saber. Assim, tenho só um pensar cru e imaculado, a certeza de que o belo me contagia, que sou um pobre feliz... Ah, e não o pude ser antes... Antes atravessaram-me os pensamentos mais torpes, a escuridão plena dos meus maiores medos... Não sabia ser. Tudo era imenso, disperso, desfragmentado... Não sabia não pensar quando me via sozinho na berma da estrada... E Caeiro era tudo para mim. Com ele era-me livre... Mas havia sempre a sensação que a vida é uma nau sem porto onde possa atracar, aonde a dor nunca cessaria, e que em mim isso estava cravado no coração para todo o sempre. O vinho acaba por me levar além da realidade doente e eu sou uma criança muito pequena cheios de sonhos por concretizar. Álvaro Machado - 16:03 - 27-07-2015

Criação do Ser

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Numa imensa vastidão de floresta e de liberdade, Por entre os maiores mistérios que assombram o meu pensamento, Eis que me sento, reconfortado, no cimo de uma jaspe desgastada já pelo tempo, Ao lado do meu companheiro e mestre Whitman, Para saber o que esperar de nós. Compreendemos que tudo é possível nesta tarde de sol Que supomos só nossa, E por isso elevámo-nos como os tais criadores do imperceptível, Do desajustado, do longínquo Que é nosso por direito. Fazemos das nossas dúvidas e das nossas incertezas Um dogmatismo deplorável, mas autêntico; E eis-nos mestres deste Tempo, E servos do outro que coabita interiormente, Lá numa cavidade insubmissa e altiva... Percebemos que o nosso rosto de agora Reluz uma força tamanha De conquista, de desejo intenso, de posse perante todo o universo! E não quebrámos perante vozes inócuas e risos torpes Dos vazios corações do outro lado. Álvaro Machado - 16:02 - 24-05-2015

Palavras.

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Sim. Podia ser melhor. Podia ser aquilo que todos são. Sim, vamos ser isso, vamos ser muito mais, Vamos ser tudo menos nós. Vamos falar e esquecer que falámos, Sentir para dizer que nos magoámos, Ver para acharem que nos preocupámos, Ficar para saberem que não nos distanciámos. É imenso o sol ao fim de tarde. As ruas confundem-se, à distância não existo, e ao calor não me sinto existir... Mas para mim tanto me faz, viver, morrer... Apraz a intensidade que me dás, isso basta... Basta-me entrar na rota do desajustado, do entontecido... E tudo isto para te dizer que não sou melhor. Sou o que sou, sou a liberdade que deixo criar, o sentimento que faço por adivinhar - ruas paralelas à cavidade do meu coração, pontes onde o declive torna ébrio o fitar, e a passagem somos nós em volta... isto sou eu. resto disso é distância e mar dessa distância. Álvaro Machado - 14:36 - 22-06-2014

sem desfecho

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para mim estar nessa multidão é como se não existisse. cada passo e cada suspiro meu é uma tremenda ilusão. é cair de rastos no chão sem me conseguir levantar mais. são as iluminações e os barulhos, eles confundem-me; e o corpo e a mente perdem-se horas a fio, sem nunca mais se encontrarem... caminho, porém. lado a lado com a lua, eu caminho sozinho... p'ra onde? p'ra lado nenhum... lado nenhum, pois; então é tudo um vácuo e eu sentir não vos importa coisa alguma... é mais um que na sombra se mexe e na sombra se perde até à eternidade do ser. é só mais um com fantasmas e receios, com cadafalsos e mentiras entre eles... que me importa viver? viver assim é não viver assim. pouca coisa resta, porque eu por dentro morro em um requiem de obscuridade ébria... estarmos juntos no amanhecer? mas que amanhecer nos há-de juntar se nós fomos feitos para estar sós, longínquos, sem sabermos da existência um do outro, ainda que saibamos perfeitamente que...

Universo que espera

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Sei que tudo está à minha espera. Que o universo está no infinito Da minha voz e dos meus sonhos E vai adiante, a multiplicar-se O sentimento que é grande Como um Deus. Por mim a força do mar E a luz do astro-rei Se concentram, Brotam em força transcendente Pronta a derrotar o conformismo Que sustem o mundo. Irei escrever os versos sublimes Que o meu coração tanto reclama. Tudo me espera. O mundo inteiro! Enchem-se as praças de sensações, Aves que pelo céu voam alegres, Ruídos dos carros deste século Sem chama. Mas eu subo a esta mesa de madeira E digo-vos que este sou eu, Sem medo nenhum da verdade; E sei ter a consciência que a morte é um desfecho Do mais natural pensamento concebido por Deus. Aqui em cima sou livre. Tenho a alma inavegável. E os sonhos vão conquistar o mundo. Ele espera por mim! Álvaro Machado  - 23:19 - 18-03-2014

Desejo concreto

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como o mestre, Alberto Caeiro. Numa longa espera, que nunca será vinda, Levei-me até a esta rocha, a esta paisagem do ser Chamada pensamento sublime. E agora dou por mim aqui - como? não sei... Dizem que isto é o paraíso, o jardim do éden É o vento e o sol que agora sinto que me fazem pensar Leve como esta brisa que quase fala, que fala mesmo! E esses tantos caminhos não são senão o abismo! Aqui esqueço. Sou-me na essência dos versos, Invoco Caeiro e deixo fluir com naturalidade Cada palavra que acompanha estes raios solares, Esta erva verde, este escorrer de água do rio... E peço no fundo de mim: «por favor, deixa-me ficar aqui. Não posso querer mais do que aquilo que aqui me dás: Liberdade, honestidade, plenitude... das-me a verdade das verdades. Por favor, daqui não quero sair.» Mas perdeu-se-me o desejo, esvaiu-se-me o sangue, gelou-se-me o coração... E veio logo atrás, a perseguir-me, o som dos carros, as vozes entontecidas, a realidade maldita Que me ...

Voando na inconsciência

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Voa um pássaro Na inconsciência que Deus lhe concedeu Por sorte ele voa nas brisas que vão calhando Sem pensar, a bater as asas, para a frente e para trás Só para conhecer o mundo. E para ele tudo é assim. Assim do nada é tudo. O mundo existe só para ele, Vem o sol, vem a chuva, Somente gira p'ra si. É feliz, então. E às vezes, pelo acaso da vida, lá se encontra Com outros pássaros a meio da viagem. Mas todos são felizes e verdadeiros companheiros Na ironia da vida. Álvaro Machado - 18:03 - 23-02-2014

Essência.

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Debaixo de ti Rios correm, anos passam, crenças se perdem, sonhos se transportam. Por cima de ti Sóis doiram, luas encantam, astros movem, estrelas alentam. E em ti, e só em ti, Um mundo à parte surge especial Sem que a razão e a estética compreendam Nem que os olhos de ninguém fite. Só para ti ele existe, só para ti ele o é. Mais ninguém dele fará parte. Não temos tempo, é-nos escasso, somos nós contra a força natural. Em breve, levar-nos-ão. Para onde, é escuro e frio? Aquece-te à fogueira da liberdade, deita o medo para a profundeza do mar. Quem tem o seu mundo, tem a sua liberdade, é único entre outros, Pertence a uma espécie muito rara de deambulantes. Debaixo de ti, por cima de ti, Estão os teus sonhos, a tua voz, o teu coração. Libertário!... Álvaro Machado - 14:52 - 05-02-2014

em honra ao mestre de Abril

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Dedicado ao poeta Ary dos Santos quebrar os braços, jamais. eis que se quer erguer a liberdade, quer-se vidas iguais, quer-se nos rostos a felicidade que estes regimes ditatoriais encobrem, matam por maldade! viesse chuva, viesse tempestade, viesse a PIDE, viesse a repressão. que a força das palavras é toda uma vontade que nenhum poder consegue pôr travão! se querem calar esta verdade mandem-no para a prisão! pensais vós, porque ninguém cessa um lutador. ninguém sabe do povo que tem dor que agora é de vitória e esperança que o nosso povo é feito. cantamos o hino com a mão no peito e cantamos liberdade com amor. somos assim, à bravura dos nossos antecessores prestamos um eterno louvor. somos assim, somos portugueses vencedores! Álvaro Machado - 17:51 - 18-01-2014

Um navio de personagens

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Gostava, às vezes, de não pensar no que está à minha volta. Quem não pensa, não tem a penumbra como horizonte, Tem, porém, outra coisa, talvez superior, chamada inconsciência E a janela do seu quarto é fulgente. Quem não pensa, não vive aquelas horas de agonia Em que até chover nos dói, ou até quando faz sol... Não tem aquelas insónias que só nos deixam mais a sós Do que a nossa solidão nos permite enquanto sonhámos... Mas temos, ainda assim, que viver. Alguém tem que gostar da arte, Criá-la, mantê-la viva, exaltar os artistas... Por isso, eu tomo a vida com uma constante liberdade de pensamento Que me faça roçar no outro universo paralelo deste... E não, não estou sozinho nesta viagem. Também eu criei pequenos pensadores Dentro de mim, para que possam estar justamente na constante busca Do incompreensível, do longínquo segredo que arrastou gerações inteiras! O barco leva-nos para onde calhar. No convés vai Mister Winston , a minha recente criação, Acompanhado de Leonard Sagè , o po...

The Anarchist

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Anarquia! Respiro-a entre cada intervalo de tempo Que Deus me impingiu, pois nem sequer concebido foi. Foi impingido como um gládio doloroso pelas costas do inimigo... Anarquia! Viva a ti, ó anarquia! Mister Winston - 21:17 - 01-10-2013

O perdão nunca perdoado

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Chove lá - do outro lado da rua imaginária - Como se isto tudo fosse um sonho. E eu choro. É o meu coração quem eu perscruto, Despedaçado, sozinho, intolerado... A todos vocês, peço perdão pelos meus pecados. Pecados de quem aceitou a liberdade concebida como ilusão, De quem se refugiu nela entontecendo-se para doer menos, De quem naufragou antes do barco chegar ao porto... «Passou a vida. Estás morto, és meu servo agora» Disse-o uma voz que no momento a seguir sucumbiu Num nevoeiro distante e saudoso, como aliás é todo o significado De ter vida... Álvaro Machado - 20:57 - 01-10-2013

Para Winston

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Parte em cada pôr-do-sol Enquanto é vontade. Parte senão fica tarde. E com o tempo virá a saudade. Parte livre e bate asas Enquanto em tua mente ninguém mandar. Parte e mede bem tudo aquilo que faças E o destino só o bem te irá dar. Parte meu amigo, parte. Mostra ao mundo a tua arte. Renasce ao pôr-do-sol! Álvaro Machado – 00:57 – 20-08-2013  

Cara liberdade

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(Que as linhas que hoje escrevo Sejam a memória precoce De alguém que tudo poderia ter sido, Mas que, verdadeiramente, nunca viveu.) Encontrara-se estes versos ainda com tinta fresca Sobre uma cómoda velha, que parecia imbuída de recordações; Num segundo momento, os olhos procuravam quem havia escrito os versos, Mas que nunca ninguém encontrou. - Que, francamente dizendo, se achou Vindo de outro local; que, inocentemente, pensou Ser um libertário entre homens, Mas que a liberdade nunca conheceu. "E, no entanto, libertário!", disse sempre. Aliás: disse-o e sempre o disse bem. Que, quando a sua voz cessou, Memória em nós eternizou!... E, no entanto, ficou conhecido entre nós Pela vivência em constante liberdade, Liberdade essa que foi o preço a pagar Com a sua precoce partida!... Álvaro Machado – 22:36 – 29-07-2013

Monólogo

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A vida (sim, esta vida, companheiros) nunca há-de mudar Tenha-se a crença que se tiver. Que, quando abro as janelas de minha casa, a corrente de ar Não sabe que não me quer. E sim, de facto, sinto a corrente da liberdade Quanto mais não seja só de a ter em saudade. E afinal o que será de mim, amigos nunca conhecidos? (Sonhos que se atravessam perdidos...) Eu abdico da minha felicidade; quanto mais não seja Para olhá-la em vós e a quem vos deseja. (Não sei bem por que escrevo, nem para quem) Estou vivo e vivo por alguém. A vida tanto me inquieta... (Gargalhadas) Estou sozinho e teimo, mesmo assim, em não acreditar Até que a vontade de novo se me desperta: E eu só tenho de continuar! Álvaro Machado- 22:44 – 25-07-2013

A minha lição de vida.

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As lições que eu tomo da vida São suposições - quando penso - e crenças, Somente minhas, do que há do vasto universo! Para mim isso é verdadeiramente a lição Em que poucos, muito poucos, se debruçam Enquanto seres humanos inertes. Pelo meu coração escorregue quase tudo Que tem um constante buscar além... Olho a lua, olho as estrelas, e olho para a vida. E paro: não vejo tão nítido como homens tudo isto, este mundo!... Não me revejo na insignificância do ouro e das terras E, lamento dizer, não me revejo em nada do ser humano... Revejo-me sim nas estrelas, no mundo que por mim espera! Sozinho a conquistar novas sensações, explorar a vastidão dos sistemas! Quem sabe até outros deuses e outros homens não irei encontrar? É fabuloso deduzir tudo isto enquanto se esvai o fumo do cachimbo pelo quarto... E, depois de algum tempo, lá vêm os senhores da razão: «Sem dinheiro e sem regras tu não consegues viver; larga as crenças e os valores, O dinhe...

Libertai-vos.

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Mas quem é que me diz o que faço? Quem? Eu sou livre! Tenho alma como ninguém tem! Eu deambulo por entre todo o espaço! Vocês: todos iguais, São um excremento; Ao mesmo tempo todos são intelectuais, Mas ninguém têm um pensamento Nem por um breve momento! Grito! Estou vivo se ouso gritar! Subo ao púlpito de Deus E grito com todos os sonhos meus: Só a minha vida posso eu comandar! Isso! Façam enchente, contestem-me na praça! Vociferem insultos, lancem em mim a desgraça! De vocês não tenho medo: tenho coragem! O mundo, sim, o mundo... Lá vem a conversa inútil! Quem, no meio de vós, pode sequer ousar Escolher o caminho que eu hei-de caminhar? Nenhum! Jamais! Nem nenhuma regra, nenhuma instante. Eu sou quem escolhe o que vou ser daqui adiante! Tomarei o rumo que assim tomar Contra tudo aquilo que no meu caminho se atravessar! Porque tenho em mim a liberdade de pensar Qual o rumo a tomar! Vós não. Vós só sois o que os out...