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A mostrar mensagens de julho, 2012

Anos de apagão

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Os poetas dedicaram toda a sua poesia à nossa estrela, o Sol – considerado por todos como a nossa estrela mãe. Porém, é uma ideia errada. Haverá outra mãe antes do Sol e , por isso, essa é a responsável para criação da vida e não outra! Triliões de anos passavam e a luz – Que tanta vida preencheu em vastas galáxias Foi levada pela imensa escuridão… E o fim veio aproximando-se com uma incerta exactidão, Dando disformes formas aos nossos dias. De repente, um apagão surge na humanidade E não mais há supernovas, luas, planetas… Aquela bela luz solar que saciou odes em tantos poetas Era a rainha que despenhava enormes cometas; Era o império de ilusão e crueldade! Já não existem novos universos de luz artificial… Pobre coração iludido pela mente espacial… Álvaro Machado – 21:19 – 31-07-2012

Caminhos de nós

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Todas as vezes que passeávamos pela Alfândega Detínhamos em nós uma incompreensível superioridade... Nem as ruas, nem nós mesmo notávamos Razão de ser daquela onírica cumplicidade E aquele amor entre mim e a imaginação de sentir Levou-nos às belas paisagens impossíveis de chegar, Pelo corpo que me prende e mata lentamente, O dom de contigo passear, Pelos harmoniosos caminhos que fiz junto de ti… As conversas, os gestos, o possível amor, Atormentava-me e não mais queria sonhar-te… Ó meu furacão atómito… Cúmplice de mim e daquele sonhador… Dista de nós o meu impenetrável coração… Álvaro Machado – 21:14 – 31-07-2012

Perfume

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Esqueço o que sou, arrasto o coração Divagando uma saudade inacabada Levo a fragrância perfumada Do teu cheiroso perdão. O vento perfuma-se de maresia, Que passa, e quando passa, Leva-te às riquezas e à cortesia E a dádiva escassa. Perfume de uma figura disforme! Arrasta-me para um novo mundo, De falsidades e esmolas perpétuas! E vejamos, pois, um aroma oriundo, Desse teu arrojado uniforme E das fragrâncias tuas... Álvaro Machado - 16:02 - 28-07-2012

Sonho.

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O sonho que nunca foi sonhado, Que nunca cheguei sequer a sonhar É o sonho em que me vejo Pela gélida expressar do meu olhar O sonho que nunca foi expressado, E que todos o acham no passado É o sonho em que desejo Ser um desconhecido. E, na verdade, sou vago de mim... Os que me acham no trabalho, Sabem que todo eu falho, Quando tudo é imaginado. Atravessam caxemiras pelo reino adentro... Vêm o medievalismo à janela por fim, Cantar as conquistas do reinado E de todo o seu sofrimento... Castelos foram erguidos à luz matinal, Que em tempos fora ávida... Nações foram erguidas no final, De toda a vida!

Cinzas do corpo

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Vento... Leva as cinzas deste corpo mortal, Que vagueia horas e horas e horas e não se encontra Horas passam... E o homem esquecido afronta, Um despercebido sentimento sentimental E leva com ele as lágrimas dos que nunca choraram, Tristemente no funeral vácuo de abstraccionismo E homens e mulheres que para ali nunca olharam Fitavam um jazigo brotado num bruto cinismo Salta a terra sobre o morto que não está morto... Mas na boca do povo esteve-o; Nas  horas de sofrimento, Passava pelas ruas nocturnas um vazio absorto Soltando um grito, gritava de lamento... Cheguei a Hades ainda mais imortalizado do que julguei E a minha alma pesava obscuras cinzas mortais! Ó rajadas incontornáveis! Ó ventanias que sonhei! O corpo foi levado em troca de belos cristais! Álvaro Machado - 13:47 - 27-07-2012

Uma data

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Há dezassete anos atrás tudo estaria mudado Todas as trajectórias enalteciam outros casais E o mar era um envólucro rodeado por sais, Que nunca ninguém havia navegado. Ah! Como esses tempos me levam a pensar! Deus deu-me um sinal para descer, Sobre a terra que me viu nascer, E sobre o céu que olhei quase a cegar! Agora que, abandonado aos olhos do senhor, Sou uma nau perdida num oceano fulgente Afogo todos estes anos tristemente, E cheio de dor... Álvaro Machado - 21:50 - 23-07-2012  

Ciclo de cepticismo

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De uma vez por todas desistamos, pois, de viver um ciclo de cepticismo E encontremos uma outra via, um outro lado mágico em que não haja sentidos, Não haja Destinos quebrados, nem mágoas provocadas por um cismo... Qual será a vantagem de ver, ouvir, sentir, caminhar? Ao que dará, o nosso corpo, mais ouvidos? Às formas inexistentes que s ó existem no seu pensar... Cresce um aglomerado de cépticos da rua abaixo e limitam-se a olhar... Vêem apenas uma rocha fria e não procuram saber o motivo... Será que, estes homens, têm crença depois do fim? A mente vais mais além. A nossa alma inquieta remexe o tempo em mim... E o que encontro é alegrias, paraísos, infernos bons de passar; Eu que caminhava morto julgando-em vivo... Esqueçam os sentidos que nada vêem ou ouvem, Apenas nos enganam e nos prendem. (E sejam como eu: sonhem toda a vida) Álvaro Machado - 14:26 - 23-07-2012

Não haja perdão

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Nunca me perdoes, nunca haverá um perdão. E por ti passam todas as razões possíveis, Para perdoares estes versos imperdoáveis... Não se encontra nada onde só há sangue a escorrer... Pelas portas quebradas, pelos pesadelos de então... E já desaparece a dor ao amanhecer... Nunca me ouvis-te dizer uma única palavra, Nunca acreditei o que é ser e viver e morrer; E a palavra viva é a palavra escrava. Porque hei-de eu vaguear um deserto? As tempestades cegam os que querem ver Um estilo de vida certo.. Porque hei-de eu viver o inútil? Nem há-de existir, porventura, Uma única razão de viver uma loucura... Ó vida, vida despedaçada e fútil! Sonho ser alguém noutra ocasião E espero que lá me aceites o perdão Álvaro Machado - 21:15 - 22-07-2012

Véspera da cortina

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Passou por mim, por nós, indomáveis experiências, E o público suscita tremores horrorosos... Cai a cortina, despe as essências, Entre os nossos sonetos amorosos. O sentimento entre o jazigo da sensatez, E a vontade corpórea da falsa lucidez (Nasce à luz, só e extasiado) Um sopro triste e embriagado. Pergunto ao céu o porquê de estar ainda vivo... Como as mármores frias em solos horizontais Assim vivo, eu, nas plenas formas verticais, Apegando-me ao teu cativo. Jazigo de mim, cativo de alguém... Ressuscita uma nova forma, mas distante... E eu, cavaleiro triunfante, Conquisto o fusco além . Álvaro Machado - 15:03 - 21-07-2012  

Os meus versos derradeiros

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Parece-me, sinceramente, serem estes os versos derradeiros Em que exprimo formidáveis estátuas como se me pertencessem E, no fundo, sempre esperei serem estes os versos que enaltecessem Os tempos que percorri com os marinheiros Alongava-se o Sol nas costas orientais… Desaparecia nas esquinas esfriadas… Lançávamo-nos ao Mar, lançávamo-nos à derradeira sorte… Sempre quis ser assim, sempre quis estar assim – longe da morte E com as memórias renovadas. Desenlaço de cores primárias, desenlace de primatas... O homem que é, e sempre será, uma corrente em alto-mar, Sonha ser um esbelto marinheiro. E quem o é nunca há-de voltar, Pois nas marés não existem datas… Ó oceano cheio de maus sentimentos! Maré volta para mim, Que eu espero-te, saudoso, numa saudade sem fim. Saudade não te afastes! És tu que navegas este interior Que sonha, vive e pensa em terror. E assim escrevo o meu único desejo enquanto mo permitiram: Costas recortadas, nuvens esmiuçadas, pontos cruciais! E o que é sentir termos u

O universo que há em mim

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O universo nega-me o que, possivelmente, é infinito. E a minha vida mortal e monótona rege-se sobre um tom, Que nasce, sobrepõe-se e acaba - e por isso finito, Passa por mim como vago som. Imortaliza-se-me novas vidas para além mundos, E o corpo é apenas um lugar sem gestos. Porém, a minha alma cheia de afectos Imortaliza meus segredos mudos. E o que haverá mais além que o próprio além? Galáxias, planetas, estrelas moribundas? Não sei... Explosões acontecem, provocadas por alguém... Isto para saber ser infinito d'almas oriundas... Tu confundes-me os sentidos pela tua beleza. Enalteces-me o coração só de te olhar. Bela e fogosa princesa, O que enaltece não sabe amar... Tu desesperas-me à saída da estação. Tantos que por mim passaram e tudo não. Cruzei os braços, acendi o cachimbo, esperando, Na noite escura, desesperando... Esqueço tudo que há em mim mulher invisível! Desde que nasci - anos que já lá vão, Esperei por ti e por essa forma inconfundível! E foi assim que enalteces-me

Coisas Mil

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Tudo em mim mudou: deixei as minhas crenças religiosas, Abandonei as teorias futuras, desacreditei em todas as previsões. Agora sou um artista pleno das minhas sensações E pleno das almas virtuosas. Agora já sei que sou um esquecido em terras esquecidas... Vêm os ventos Elísios (que me relembram o passado) E agora, infeliz esquecido encantado, Sou alguém com mil vidas, Mas tu sabes isto não sabes? Vocês todos sabem. Porém, escondem e dizem que desconhecem Mil vidas que afirmam serem mil pesadelos E eu, estou a vivê-los. Mas de que me valem estes suspiros? As minhas palavras são repugnantes, Em todos os sentidos, em todos os horizontes, Sou alguém que navega mil navios, Perdidos ao longo d'uma costa Oriental... Dou-lhes as coordenadas para desaparecerem, Ao último meu último suspiro as águas escurecem E este é o meu final... Álvaro Machado - 21:21 - 12-07-2012

Composição do Eu

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A palavra é o meu grito, o silêncio é a minha solidão... Eu grito com todas as minhas forças para que me oiças Lá no fundo e sem nenhuma esperança no coração, Espero ainda que me oiças. A minha voz que não responde, os meus olhos que não vêem... De tanto imagino um momento que chego a confundi-lo Um momento que todos têm Mas que sou único a senti-lo. O suspiro que respiro, o sofrimento que é teu... No alto da colina, debaixo do profundo... Choro em mim o que de ti é meu... Minha tragédia que me naufragas-te ao nascimento! Fui único a ter-te em mim, fui único ao mundo! Mas isto sou eu... eu em sofrimento! Álvaro Machado - 16:39 - 12-07-2012

Acusado!

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Fui acusado por vossa santidade de ser cobarde Inda eu calçava a infância. Ó meu arcebispo de longa idade Você é tal qual a discordância... E de tanto perdão (que me foi dado) Você decidiu que eu estava enganado! Rais partam as mentes dos cléricos Que brilham nos seus pensares ricos! Vejam o meu caminhar! Escutai estes passos!... São de alguém inocente! Vejam o meu olhar! Olhai estes olhos!... São de alguém inconsciente! Porém, ja nos corredores da morte, desinteresso-me de tudo... As naus partem: Vasco da Gama iça no Sul a bandeira... E o barco, gigante barco! Enco-lhe-se à costeira N'um mar no fin de tudo... Álvaro Machado - 03:06 - 10-07-2012

Tarde de Caim

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Subiam escadas sobre mim, levadas a um quarto andar E a tranquilidade incidia-se por entre os livros, por entre as palavras… Escadas que pareciam mais nuvens cheias de ar E onde elas subiam sobre mim como escravas… Entre o primeiro e o terceiro andar achei a plenitude Dentro de mim imaginei-me um grande autor. Cercam-se livros sobre mim – eram eles o meu leitor, E eu o príncipe, o rei, a majestade da virtude. E na insígnia de grande em palavras havia outro local, Chamado segundo de andar. Lá reinava o vazio entre escadaria E nós, visitantes, passávamos indiferentes ao lugar espacial Menos o tal escritor, aquele que mais tarde seria. Mas foi no último de todos que a conversa calorosa chegou! Ó homem digno d’um nobel!… Tu vales a minha visita! Incidiram sobre mim olhares e a senhora que me conversou Falou-me dos teus últimos suspiros! Do último Caim! Da tua escrita!... Álvaro Machado - 19:59 - 09-07-2012

No fundo de mim

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Dou voltas à minha cabeça e nunca chego a lado algum A vida mantem-se morta na viva esperança Meu corpo é apenas uma lembrança De lado nenhum Sou uma contradição sem nome; sonho acordado Ao som do vento que passa na noite movimentada… Sou uma brisa tépida na escuridão nublada… Dentro de mim sou rodeado de natureza, de grande pureza Mas de que vale este império sonhado? Para ti, ó brisa que me invades, sou a razão da tua incerteza… Dou voltas à minha cabeça e o coração sofre, sofre demasiado… Queria eu que tu soubesses que sonhei algo connosco, Sonhei, sonhei tanto… Mas este coração é algo fosco Que nunca soube ser perdoado… Álvaro Machado - 01:42 - 09-07-2012

No silêncio da noite

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No silêncio da noite, rouco de mim, esqueço quem sou… As ruas estão cobertas de diversão e a atmosfera é densa Sopra o vento que ao longo mal se notou Da mesma força que esta voz intensa Me abandonou Dentro de mim sou apenas um esquecido (Como é triste viver em esquecimento!) E choro ao ver que fui vencido Por este desconhecido sofrimento… Em mim tudo se distância: o coração, os sentidos; O amor da paixão, a paixão do amor… Tudo o que vejo é cavaleiros feridos Morrendo destemidos, Como eu quando sou sonhador. Mas tudo se apazigua… a noite já desaparece Pelo silêncio das moradias. E eu, este ser que entristece, Não entende estas ventanias… Álvaro Machado - 2:57 - 07-07-2012

Malas velhas

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Tenho dois mil anos de vida Percorri-os até dizer chega... Minha alma (vejo que se apega!) Quando estou de partida Arrumo as malas velhas, abandono-as pelo quarto Elas estão cheias de pó; juntos delas vão fotografias Tiradas, por turistas, retratam as antigas vias Do Infante, de nome quarto. Percorri estes dias fitando o Tejo... E, de costas voltadas, vi-me mergulhar Numa paz e num sossego que me fez pensar Estar a sonhar o belo Tejo. Álvaro Machado - 1:41 - 05-07-2012

Vida de Ventanias

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A vida não é mais do que ventanias, Tempestades e alguns momentos Tudo é falso! O homem é cheio de manias E constrói variadíssimos monumentos, Esperando, por fim, em pedra imortalizar Vida curta de um grande amor... Vai esperando até acabar Desaparecendo cheio de dor... Este sou eu: a pensar sem pensar, A passear distraidamente; Continuo neste meu andar, Imortalmente... E paro: observo vastas multidões! Tudo é tão semelhante! E alguns acham, em andar desconcertante, Valer mais de mil tostões! Mas acham na sua heterogeneidade Estúpidas manias de um povo bárbaro! Eu, viajante, achei pouco raro, Por tudo ser feito de homogeneidade. Álvaro Machado - 23:57 - 04-07-2012

Pelo rossio

Pelo Rossio fora, deambulando Fui poeta, fui alguém, Se agora sou ninguém Pelo rossio dentro, recordando Fui tudo e mais além. Álvaro Machado - 21:52 - 04-07-2012

Em espera...

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Perdi a vontade inocente em que noutros tempos vivi E o meu coração agora é a dor que não finda; É um buraco De corações vazios onde noutros tempos exprimi, Observações e infinitas dores de um eu enfático. O meu agora é humilde, pacato e inocente, Ainda que, sem vontade, acho ser humilde gente Que esfrega o seu flagelo em águas tristes… Nas incompletas águas das fontes… E, entre a perda e a dor, descobri humildemente Ser um homem p’ra na vida esperar Pelo coração que nunca chegará fisicamente E resta apenas espiritualmente acreditar, Neste espiritual coração que sofre nas altas colinas Os dias tornaram-se monótonos e perderam-se vontades… Neste físico coração esbofado de contrariedades Chegará o dia em que só restará cinzas e ruínas… Álvaro Machado - 14:32 - 02-07-2012

Momentos desconcertantes

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Em vidas que tudo fiz e nada recebi, naquelas vidas inconstantes Encontrei afinal, desconcertado, em caminhos longos e distantes; Momentos que se tornaram gestos carinhosos, Audazes e pouco, ou nada, conflituosos. Mas esses momentos foram desconcertantes! Por milésimos de segundo cheguei à parte em que nascer Num corpo lasso e extravagante, É julgar sair com um olhar triunfante. Mas no final somos derrotados por desconhecer Tudo da vida e em nada a conseguimos vencer. Álvaro Machado - 19:14 - 01-07-2012