Inconsequente como um raio


Quem sabe a real verdade? Quem sabe quem é?
Quem és tu, quem sou, quem são eles?
Quem fez estas normas sociais e diferenciou o correcto do não correcto?
Quem me faz menos do que a si?

Levantamos dúvidas ao céu, olhando-o.
Cremos em deuses só para termos algum sinal.
Somos iguais para não parecer mal.
Fugir a isto é pedir morte antecipada.

(Mas a mim ensinaram-me a ser normal. A mim disseram-me para ser normal.
A mim, e de mim, fizeram-me uma normalidade que já daqui não sai
Por mais que queira, deseje, sonhe, ame!
E eu vejo, pelo mundo fora, todos os génios que partiram...
Reduzidos a pó; autênticos talismãs, autênticas pedras preciosas
Que partiram, partiram e não voltam. Que foram e não são.)

Todos têm sido normais desde então. Ninguém refuta o irrefutável,
Ninguém contraria o único sentido, ninguém pasma o ridículo!
O essencial está no exterior, sublime e imprescindível,
Porque nos dá acesso à impossibilidade que a nossa condição assim estabelece.

Por fora se vêem autênticas relíquias - mas apenas se parecem!
Por fora se vêem frias distâncias, altivos desprezos, actos inconsequentes!
Homens e mulheres que troçam de outros homens e mulheres,
E os pequenos troçam de outros pequenos.

O essencial, por agora, é parecer ser real; sê-lo não sendo.
E é tão generalizado viver no século vinte e um,
Nem espaço há para doidos e génios, nem há moral para que, indo na rua,
Gritemos com a alma as incoerências que sentimos!

E sinto-me distante como uma paisagem. Vêem-me apenas ao longe, resignado,
Como quem quer alcançar e não consegue; como quem deseja e não tem.
- Tudo só porque o mundo não dá espaço à verdade nua e crua
Do real que é o ser humano.

Álvaro de Magalhães - 22:42 - 17-06-2013

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