Desejo concreto
como o mestre, Alberto Caeiro.
Levei-me até a esta rocha, a esta paisagem do ser
Chamada pensamento sublime.
E agora dou por mim aqui - como? não sei...
Dizem que isto é o paraíso, o jardim do éden
É o vento e o sol que agora sinto que me fazem pensar
Leve como esta brisa que quase fala, que fala mesmo!
E esses tantos caminhos não são senão o abismo!
Aqui esqueço. Sou-me na essência dos versos,
Invoco Caeiro e deixo fluir com naturalidade
Cada palavra que acompanha estes raios solares,
Esta erva verde, este escorrer de água do rio...
E peço no fundo de mim: «por favor, deixa-me ficar aqui.
Não posso querer mais do que aquilo que aqui me dás:
Liberdade, honestidade, plenitude... das-me a verdade das verdades.
Por favor, daqui não quero sair.»
Mas perdeu-se-me o desejo, esvaiu-se-me o sangue, gelou-se-me o coração...
E veio logo atrás, a perseguir-me, o som dos carros, as vozes entontecidas, a realidade maldita
Que me deixa fechado em casa às escuras, a chorar...
E eu só pedi aquele momento.
Perderam-se as palavras no eco do monte esquecido,
Quebrou-se a pedra onde havia estado sentado
Para todo o sempre que vivi.
Álvaro Machado - 23:58 - 13-03-2014
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