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A mostrar mensagens de julho, 2013

Cara liberdade

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(Que as linhas que hoje escrevo Sejam a memória precoce De alguém que tudo poderia ter sido, Mas que, verdadeiramente, nunca viveu.) Encontrara-se estes versos ainda com tinta fresca Sobre uma cómoda velha, que parecia imbuída de recordações; Num segundo momento, os olhos procuravam quem havia escrito os versos, Mas que nunca ninguém encontrou. - Que, francamente dizendo, se achou Vindo de outro local; que, inocentemente, pensou Ser um libertário entre homens, Mas que a liberdade nunca conheceu. "E, no entanto, libertário!", disse sempre. Aliás: disse-o e sempre o disse bem. Que, quando a sua voz cessou, Memória em nós eternizou!... E, no entanto, ficou conhecido entre nós Pela vivência em constante liberdade, Liberdade essa que foi o preço a pagar Com a sua precoce partida!... Álvaro Machado – 22:36 – 29-07-2013

Monólogo

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A vida (sim, esta vida, companheiros) nunca há-de mudar Tenha-se a crença que se tiver. Que, quando abro as janelas de minha casa, a corrente de ar Não sabe que não me quer. E sim, de facto, sinto a corrente da liberdade Quanto mais não seja só de a ter em saudade. E afinal o que será de mim, amigos nunca conhecidos? (Sonhos que se atravessam perdidos...) Eu abdico da minha felicidade; quanto mais não seja Para olhá-la em vós e a quem vos deseja. (Não sei bem por que escrevo, nem para quem) Estou vivo e vivo por alguém. A vida tanto me inquieta... (Gargalhadas) Estou sozinho e teimo, mesmo assim, em não acreditar Até que a vontade de novo se me desperta: E eu só tenho de continuar! Álvaro Machado- 22:44 – 25-07-2013

A minha lição de vida.

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As lições que eu tomo da vida São suposições - quando penso - e crenças, Somente minhas, do que há do vasto universo! Para mim isso é verdadeiramente a lição Em que poucos, muito poucos, se debruçam Enquanto seres humanos inertes. Pelo meu coração escorregue quase tudo Que tem um constante buscar além... Olho a lua, olho as estrelas, e olho para a vida. E paro: não vejo tão nítido como homens tudo isto, este mundo!... Não me revejo na insignificância do ouro e das terras E, lamento dizer, não me revejo em nada do ser humano... Revejo-me sim nas estrelas, no mundo que por mim espera! Sozinho a conquistar novas sensações, explorar a vastidão dos sistemas! Quem sabe até outros deuses e outros homens não irei encontrar? É fabuloso deduzir tudo isto enquanto se esvai o fumo do cachimbo pelo quarto... E, depois de algum tempo, lá vêm os senhores da razão: «Sem dinheiro e sem regras tu não consegues viver; larga as crenças e os valores, O dinhe...

XV

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Estou sem a realidade que a todos faz mover. Perdi todos os fundamentos para que viver. O bom todo é pequeno e pouco espaçoso Para quem, como eu, da vida se faz ocioso. Sou um jogador de xadrez em viagem E a olhar p’ra vida com a certa distância (Farei xeque-mate na próxima instância) Até ganhar coragem. A embriaguez permite-me sonhar, Ir para além, tocar noutras dimensões, Ter novas sensações!... Afinal, em quem tencionamos amar? Viagens atribuladas, grandes embarcações? Erguer-nos das emoções?... Álvaro Machado - 14h20 - 21-07-2013

Mudança

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Poder-se-iam viver, tão perfeitas e tão reais, Afastadas do nosso campo de visão, Com as ondas submissas passando no cais E a tornarem a vida sem escuridão… Poder-me-ia erguer, Como se pudesse vir a ter esperança, E tornar a desgraça em abonança Se na vida soubesse eu crer… Mas quando estou a sonhar Soam-se-me cornetas a anunciar infortúnio, Um som calmo e trágico simultaneamente Da minha vida me não fazem acreditar! Tudo poderia ter um desfecho diferente, Ó sonhos meus, ébrios e destroçados! Porquê? Poderia eu em ti acreditar Se os meus dias já não fossem dias acabados! Álvaro Machado – 19:39 – 21-07-2013

Libertai-vos.

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Mas quem é que me diz o que faço? Quem? Eu sou livre! Tenho alma como ninguém tem! Eu deambulo por entre todo o espaço! Vocês: todos iguais, São um excremento; Ao mesmo tempo todos são intelectuais, Mas ninguém têm um pensamento Nem por um breve momento! Grito! Estou vivo se ouso gritar! Subo ao púlpito de Deus E grito com todos os sonhos meus: Só a minha vida posso eu comandar! Isso! Façam enchente, contestem-me na praça! Vociferem insultos, lancem em mim a desgraça! De vocês não tenho medo: tenho coragem! O mundo, sim, o mundo... Lá vem a conversa inútil! Quem, no meio de vós, pode sequer ousar Escolher o caminho que eu hei-de caminhar? Nenhum! Jamais! Nem nenhuma regra, nenhuma instante. Eu sou quem escolhe o que vou ser daqui adiante! Tomarei o rumo que assim tomar Contra tudo aquilo que no meu caminho se atravessar! Porque tenho em mim a liberdade de pensar Qual o rumo a tomar! Vós não. Vós só sois o que os out...

Como teatro

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Escrevo em frente, Na janela que tem como paisagem Uns versos e uma alma comovente Que precisam de coragem. Todo que vive junto Vive submisso e sem alma; Todo esse que se sente viver Vive acorrentado e sem sonhos. Começa a chover lá fora. Nem sei se é por ter saudades Ou se é por estar aqui sozinho Vendo a vida a passar… Relembro-vos como se fosse hoje, irmãos! Relembro, como se hoje fosse, a nossa revolta E o desejo insaciável de ser livre, de conhecer a liberdade Na sua livre e pura condição! Ó tempo em que éramos E já mais não somos! Ó destino que nos ensinaste a crer Que podíamos ser livres sem poder! Toda a euforia se desvaneceu O público aplaude A cortina escorreu E a peça traz saudade. Álvaro Machado – 22:00 – 16-07-2013

Decadentes

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Oiçam a alma decadente Dos homens que vagueiam... Eles são quem mais sente E pela vida cambaleiam... Pouca é alma que agora Não se contenta em não pensar... A constante busca de outrora Já deixou de inquietar... É tempo de passear Conformado com a vida... Nunca a mais sentida Foi a minha a passar... O mais perto fica nunca perto, Fica, senão longe, nunca descoberto... Álvaro Machado - 01:55 - 16-07-2013

Companheiros

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Sentai-vos a meu lado E vamos todos sonhar Mais do que esta noite Está a dar. O sonho em nós se ergue - Por uma passagem entre mundos – E se divide em dois lados descontínuos e alheios: O lado esquerdo é composto Por uma penumbra e um manto, Tudo que lá entra de lá já não sai E tem a orquestra de Mozart . O lado direito é mais complexo. É d’uma constituição longínqua e fria. O quarto minguante tem o mar esquecido E os navegadores derramam o seu sangue… E o lado meu está na poesia, Na minha vida desinteressada por vocês, Por tudo que é tal como é E não se pode converter ao sonho. Sentai-vos a meu lado, companheiros da eternidade. Vamos ser mais que a vida quis que fôssemos, Vamos com a nossa alma sonhos erguer E construir verdadeiras catedrais! Álvaro Machado – 00h00 – 16-07-2013

Turvo

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Frágil, como a alma, Entra adentro, Tão sem ninguém E silenciosa Só p’ra mim Ela existe Com toda a essência, Sempre calma e fria, E com o vento triste De memórias fragmentadas... Viva à vossa memória: Eu, que vos saúdo em toda à parte, Que alma carrego neste preciso momento? A de um morto que vive de sua morte Ou, sendo não isso, A de um vivo que de sua vida não vive? Respondo-vos, amigos: Nenhuma dessas é minha, Pois eu, e não mais ninguém, Vive mais do que lhe é dado, Vive consoante a solidão, Ao lado das almas vivas E escutando partidas. E todo o silêncio é sagrado! (Estou só e abandonado.) Nenhuma alma é eterna. Ninguém sobrevive À enevoada e tenebrosa vinda… Este destino tem como missão destronar-me Do sonho em que idealizei a vida infindável… Todo o espírito, agora, me cruza às escuras E por ali vou, em passo inaudível e pensativo, Desaparecendo também!... Álvaro Machado – 02:27 – 15-07-2013