Estou no fim dos meus dias. É tão claro como a luz de todas as manhãs E tão tenebroso como as sombras da noite - Tudo me vem atravessar nestas últimas horas. Raio de consciência infame, coisas com que não consigo lidar Coisas essas tão simples como a minha vida, Como o levantar da cama, alimentar-me, respirar, viver o dia, chegar a casa, deitar-me, dormir ou sonhar acordado... Coisas perfeitamente normais que afinal todos fazemos. Normais? Sim, normais. Qualquer um de nós as faz inconscientemente. Só que eu nunca julguei que me fosse pesar tanto os remorsos como têm pesado, nunca achei que a consciência me assaltasse desta forma descabida, louca, cismática, como tem assaltado... Achei: ah, pelo contrário, irei sempre fazer o que quiser, eu não preciso de ninguém, não preciso de vós, nada! Se te queres ir embora, vai-te, vai-te e não voltes nunca mais. Arrepender-te-ás, pois eu não preciso de ti. Disse mesmo isto. Disse isto e, pior do que isso, convenci-me disto. A