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A mostrar mensagens de março, 2014

Jorge de Sena - Uma pequenina luz bruxuleante

Não obstante o que se passa no mundo, esta pequena luz sempre brilha, sempre existe na sua maneira de ser, independente de tudo o que exista, de tudo o que lhe é alheio. Brilha. Brilha sempre. É única. E não poderia ter-me dado mais prazer a recitar essa pequena luz, agradeço ao Jorge de Sena por esta obra de arte.

Fernando Pessoa - Quem escreverá a história

"Quem escreverá a história do que poderia ter sido o irreparável do meu passado?". A mensagem é muito fácil: e se tivéssemos escolhido outro caminho ao invés daquele que escolhemos? Se tivéssemos dito não ao invés do sim? O que seríamos nós hoje? Outro hoje?

Sophia de Mello Breyner Andresen - Esta Gente (Rádio Marcoense)

Actual. Todos nós podemos, e devemos, rever-nos neste poema. Muitas vezes calcam-nos, deixam-nos à fome, com más condições de vida e, por isso mesmo, está na hora de recomeçar a busca: " De um país liberto   De uma vida limpa  E de um tempo justo"

Século fúnebre

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Doze cantos, a começar do décimo segundo. Da praia lusitana tantas vezes invocada Eu caminho agora para o fim. Foi a língua que se perdeu E a pátria está naufragada - Portugal hoje é assim. Então hoje eu volto às origens De erguer em meus cantos Novos mestres para as novas viagens, Novas Tágides para novos encantos, Deuses para a crença não findar. Doze cantos de solidão, De amor, de tragédia e de sacrifício. Heróis que inda crêem em el-rei D.Sebastião Aparecem encostados ao ofício Dos que inda matam por matar. Louvado seja o senhor. Em grande, louvemos. Senão os imortais no tempo Acercam-nos e, depois de impingirem a dor, Nós morremos. Ó canto meu, nada sei... Portugal já não tem a praia lusitana no alto do luar Nem a esfinge nos há-de voltar a cruzar. Resta-me apenas o que criei - Doze cantos sem os não pensar. Álvaro Machado - 13:43 - 29-03-2014

Ciclo.

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Estou no fim dos meus dias. É tão claro como a luz de todas as manhãs E tão tenebroso como as sombras da noite - Tudo me vem atravessar nestas últimas horas. Raio de consciência infame, coisas com que não consigo lidar Coisas essas tão simples como a minha vida, Como o levantar da cama, alimentar-me, respirar, viver o dia, chegar a casa, deitar-me, dormir ou sonhar acordado... Coisas perfeitamente normais que afinal todos fazemos. Normais? Sim, normais. Qualquer um de nós as faz inconscientemente. Só que eu nunca julguei que me fosse pesar tanto os remorsos como têm pesado, nunca achei que a consciência me assaltasse desta forma descabida, louca, cismática, como tem assaltado... Achei: ah, pelo contrário, irei sempre fazer o que quiser, eu não preciso de ninguém, não preciso de vós, nada! Se te queres ir embora, vai-te, vai-te e não voltes nunca mais. Arrepender-te-ás, pois eu não preciso de ti. Disse mesmo isto. Disse isto e, pior do que isso, convenci-me disto. A

Cego poeta

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Não vejo nada do que vejo. Cansa-me ver. Eles continuam, os consigo pressentir Mas não quero olhar. Deixá-los nesta distância Que nos faz tão diferentes... Nada vejo do que estou a ver. Sinto-me um cego para o que passa. Só queria poder esquecer Tanta e tanta desgraça Que me afronta todos os dias Da minha consciência... Escreveu o meu poeta da cidade, Não vejo nada do que vejo.´ Escreve e sente em prantos A dor que dá ao viver Quando o homem vê no pequeno O muito fel do mundo... Álvaro Machado - 13:11 - 28-03-2014

É eterno poeta.

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No cume da montanha Hás-de estar esquecida. Tão débil como uma folha No fundo da estrada: Vista, esquecida, pisada… Tão ténue que cada ventania Levará um pedaço a mais de ti. E vendo bem os debaixo Sabes, súbita miragem, Que estás só… Não vale ter a ilusão De te ergueres. Para quê crer? Ergues, logo cais. E entras numa espiral Onde sempre hás-de cair… Então para quê o continuar A erguer, ó débil, ténue, triste Sensação que por mim escorre Como esse cume da montanha? Álvaro Machado - 13:17 - 23-03-2014

José Régio - Sabedoria (Rádio Marcoense)

Ao incansável poeta vilacondense que mostrou aos portugueses e ao mundo uma poesia transcendente, impregnada de intensidade. Não só pelo Cântico Negro , mas pela mensagem forte que este poema nos transmite. Fantástico.

William Ernest Henley - Invictus (Rádio Marcoense)

Este poema marca-nos de uma maneira especial. Com uma mensagem muito forte, faz-nos manter erguidos, enfrentar os obstáculos, ser-mos os "capitães da nossa alma". E foi assim que a figura incontornável de Nelson Mandela manteve a força necessária e não ceder ao desespero que qualquer um teria por estar preso durante 27 anos.

Universo que espera

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Sei que tudo está à minha espera. Que o universo está no infinito Da minha voz e dos meus sonhos E vai adiante, a multiplicar-se O sentimento que é grande Como um Deus. Por mim a força do mar E a luz do astro-rei Se concentram, Brotam em força transcendente Pronta a derrotar o conformismo Que sustem o mundo. Irei escrever os versos sublimes Que o meu coração tanto reclama. Tudo me espera. O mundo inteiro! Enchem-se as praças de sensações, Aves que pelo céu voam alegres, Ruídos dos carros deste século Sem chama. Mas eu subo a esta mesa de madeira E digo-vos que este sou eu, Sem medo nenhum da verdade; E sei ter a consciência que a morte é um desfecho Do mais natural pensamento concebido por Deus. Aqui em cima sou livre. Tenho a alma inavegável. E os sonhos vão conquistar o mundo. Ele espera por mim! Álvaro Machado  - 23:19 - 18-03-2014

Conversa ao leitor

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entra. convido-te a entrar. este é o poema que te aproxima talvez de mim, talvez de tudo aquilo que eu sou. tem pouco de diferente, muito de comum. um caminho atónito de quem não sabe porque sente. à porta te espera o meu primeiro eu guardião de um templo creio ser tanto meu como teu divino, na modéstia de um vadio, é um snobismo. mas, dizia-te, entra. percebes agora? em tudo, nada. do nada que eu sou este poema está criado. pouco ou nada vale. ninguém o lê. não é digno de um livro. porque é rápido e sério e não se vende corações, sentimentos... vende-se arte, dizem, da história que tem amor e família que faça sofrer e por fim rir desleixados leitores. percebes agora? este poema é uma conversa ambígua que nem forma se lhe dou E se agora quiser Começo a erguer as maiúsculas Que é de mim? Que quero eu com isto, afinal? (minúscula.) mostrar que a liberdade é mal vista aos que fazem por atirar areia que aqueles do amor são contemporâneos autore

sensações despropositadas

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o pensar é uma enorme aflição quando o sol preenche dias vagos e por dentro, bem por dentro, uma tempestade se ergue para tudo levar. só isso é quanto baste para me sentir a sufocar (eu não pertenço a estes grupos) um aperto no coração que de mim se alenta. quero, como tu, mestre calmo, certo, ter a certeza dos teus versos. leviano sentir, barca ao relento, que vê e ouve e o resto tem pouca importância. Álvaro Machado - 19:00 - 15-03-2014

Cesário Verde - Cinismos (Rádio Marcoense)

Não poderia haver melhor escolha para fechar esta primeira semana na rádio do que a escolha do grande poeta, Cesário Verde. Dos que mais intensificou o meu gosto pela literatura, dos que, indo a deambular pelas ruas da cidade, mais conseguiu captar de cada coisa que observava. Que grande poeta!

Álvaro Machado - Questão Simbólica (Rádio Marcoense)

Um dia de rádio especial por dois motivos: porque li um poema da minha autoria - coisa rara, entenda-se - e porque dediquei-o a uma pessoa que merece vivamente: ao Coutinho Ribeiro.

Desejo concreto

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como o mestre, Alberto Caeiro. Numa longa espera, que nunca será vinda, Levei-me até a esta rocha, a esta paisagem do ser Chamada pensamento sublime. E agora dou por mim aqui - como? não sei... Dizem que isto é o paraíso, o jardim do éden É o vento e o sol que agora sinto que me fazem pensar Leve como esta brisa que quase fala, que fala mesmo! E esses tantos caminhos não são senão o abismo! Aqui esqueço. Sou-me na essência dos versos, Invoco Caeiro e deixo fluir com naturalidade Cada palavra que acompanha estes raios solares, Esta erva verde, este escorrer de água do rio... E peço no fundo de mim: «por favor, deixa-me ficar aqui. Não posso querer mais do que aquilo que aqui me dás: Liberdade, honestidade, plenitude... das-me a verdade das verdades. Por favor, daqui não quero sair.» Mas perdeu-se-me o desejo, esvaiu-se-me o sangue, gelou-se-me o coração... E veio logo atrás, a perseguir-me, o som dos carros, as vozes entontecidas, a realidade maldita Que me

Eugénio de Andrade - O Sorriso (Rádio Marcoense)

Esta quarta-feira a rubrica remeto-nos para a felicidade, para o poder que um simples gesto pode ter, neste caso o poeta Eugénio de Andrade eleva o sorriso como um gesto nobre, único, que nos marcá enquanto leitores.

Silenciosa. Mas dói.

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Uma dor. Silenciosa. É uma dor silenciosa. Esta que se me atravessa. Que toca nos sentidos, rasga o coração, Faz ferida, deixa marcas, destroça... Como é dolorosa não tem pressa - E de tão dolorosa que é Quando vem, não tem remorsos, Não tem perdão. Meus olhos põem no céu distante A esperança que nos deuses se invoca, No luar que a alma tem como única razão, Dessa noite solitária que vai chegando E que, talvez, julgo eu, me leva p'ra um lugar Ao qual tradicionalmente chamamos Pura reminiscência: Existo, então?  Álvaro Machado - 19:53 - 12-03-2014

De repente...

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Os dias são tão inúteis E a vida tão estranha... São as horas dolorosas Que no passar delas Provoca tédio... E o dia acaba assim Sempre como começa: Na ilusão que vai indo, Que nos vai fazendo permanecer Sempre na mesma indefinição... Álvaro Machado - 19:32 - 12-03-2014

Ricardo Reis - Para ser grande, sê inteiro (Rádio Marcoense)

Agora apresentando o que hoje passou na rádio, tenho a dizer-vos que é, seguramente, um dos melhores poemas de toda a literatura. Nada complexo e bastante sentido. O conselho que cada um de nós deve seguir e nunca esquecer. Não poderia esquecer o grande Ricardo Reis.

Alberto Caeiro - Quando Vier a Primavera (Rádio Marcoense)

Aqui vos deixo então, como prometido, o que marca o início da rubrica " Poesia Álvaro " na Rádio Marcoense. E não poderia começar melhor: começa com Alberto Caeiro! Com a sensação de que tudo o que é, é-o assim, na sua condição natural. Tudo corre, connosco ou não, tanto faz. E quem melhor do que o mestre da natureza, Alberto Caeiro, para nos fazer ver a simplicidade da vida?

Nova rubrica: "Poesia Álvaro"

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Caros amigos e leitores, é com gosto que agora vos apresento, todos os dias, excepto ao fim de semana, a minha rubrica de poesia na Rádio Marcoense , por volta das 16h40. Quem tiver oportunidade de acompanhar nessa hora, estejam atentos (poderão acompanhar em  http://www.marcoensefm.com/ ); quem não tiver, mais tarde disponibilizarei as gravações. Tem o nome de "Poesia Álvaro" a rubrica, pelo que todos sabem a razão pela qual escolhi esse nome. Muito sinceramente espero que gostem. Prometo espalhar grandes obras de arte, grandes artistas e, de vez em quando, alguns trabalhos meus. PS: aproveito para dizer que dediquei um poema da minha autoria ao Jm Coutinho Ribeiro, que passará na quinta-feira, por volta das 16h40. Álvaro Machado.

Tardes

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Com muita calma o sol parte Para o outro hemisfério Onde outros montes e rostos Alentará de sossego. Com muita calma nós vamos Assim, também, no mesmo ir do sol, Receber amanhã o mesmo brilho Que hoje nos fez sorrir. E na plenitude, sobre os campos verdes E as árvores e as flores e os animais, O sentimento é maior. E mais puro. Mais real. Autêntico nas sensações. Nu na sua essência. Um canto de ave é-o assim: Um canto de ave. E nada mais do que isso... O sol parte, o sol volta. Nós também. Álvaro Machado - 20h00 - 10-03-2014

Agora.

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Nesta viagem onde o mar é imenso e eu sozinho no meio dele, iço a bandeira na calma noite onde dizem haver um universo vasto infinito de o sentir. Já ouvi falar muitas vezes desta viagem de começar, ir, perder-me e acabar... e então, é neste raio de consciência que o tempo voa como o vento lá fora e eu, então aí sei, sei que sou o barqueiro e também vejo a grande dimensão do mundo como uma indefinição bem definida por alguém que nos quer... Bem, sei lá. Não posso entender muito. Pouco do que sei é contemplar esta cidade inteira (olhem como brilha, tão repleta de vida) e isso já é quanto baste para eu chorar. Álvaro Machado - 22.24 - 09-03-2014

O presente.

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Nunca espero por ninguém Mas... as ruas por onde passo estão desertas, Que viva alma não se vê nelas. Porquê? O comércio estagnado, o povo lívido Que não ousa nem sair de casa? Disse eu ao meu tio, na expectativa. E na expectativa continuamos, calçada abaixo, De poder ver rostos, cruzar-mos com alguém, O que não posso deixar de achar natural, Não vos parece? Mas não... de maneira nenhuma são normais estes tempos. Por lá, esses do poder, manhosos de fato e gravata, Deixam-nos a percorrer o ermo. E vai tornando-se, o comércio cheio de vida, num silêncio profundo Sem ninguém que o percorra. Álvaro Machado - 16:43 - 08-03-2014

Bruma.

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Esperei Como quem espera D.Sebastião. E vi que foi um tempo vão Esse que usei. Não vem ninguém Depois da bruma, Senão ilusão que além Não sabe de cousa nenhuma. Então porque espero Se dali o vento diz Que não vem aquilo que quero? Álvaro Machado – 20:39 – 07-03-2014

Rejeição

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Pedi-vos um tempo, Um tempo de descanso, Pedi-vos paz, sossego, Nem tampouco a felicidade Almejei. Pedi-vos que me deixassem! Quis ir numa viagem Ao meu encontro, Em busca de mim próprio E mais ninguém. E responderam-me, Nas linhas tortas da descrença, Lá do cimo do divino, Que a desgraça entornaria Sobre minha face! Então... eu comecei a viver da noite E da alucinação que a solidão dá... Comecei a ouvir vozes, a vaguear nas ruas E subia sobre mim um impulso de escrever Tudo aquilo! Deixei de ter horas, de ver o tempo a passar! Deixei para lá a sociedade, as injúrias! Larguei tudo (Ah, se vocês soubessem!) por nada, Chorei no intermédio sofrimento Que o destino traçou! Deixei o amor-próprio numa cave funda... Deixei de querer viver, ia lasso pela calçada abaixo Quando me vias, e eu sorria indiferentemente Para não parecer mal, para não veres realmente O que eu estava a sofrer! Se um dia tudo acaba, E não nos afrontámos com esse fim, Porquê o meu

Universo paralelo

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Inda agora nasceram Não sei bem onde Estrelas para além De eu estar sentado A pensar nelas… Inda agora nascem, morrem, Na mesma instância, Enquanto o infinito avança Sem ter mão no avanço De não durar… Como chuva, quando cai, Ilumina no céu a esperança De outro eu que agora Se encontra a escrever Por qualquer lado… Andamos em universos dispersos Pensamos, sentimos o mesmo. E espero que um dia eu encontre Com a alma do sonho Essa outra metade de mim.

Rompante

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Quis o não no meu sim, Encobri que a raiz é um facho obscuro Parece luz sem ser luz. Quis ter-me por vil E achei que por único assim Pertencia à noite de não pertencer. Na fogueira vã da tristeza Como se a força divina me chama-se Eu aqueci as mãos por egoísmo E deitei-me ao comprido dos versos Numa intemporal passagem de sentimentos Se eles existem, no entanto. Nada, de ninguém, disse eu Numa ténue conquista tida Achava eu, nunca tendo conquistado. Na sociedade tudo é distorcido, Ruas, caminhos, sensações... Porquê o ter tanto sentido Em cada passo, em todas as acções? Prefiro morrer distante e saber bem O que fiz e o que sou, saber de pronto Que a morte vem. Prefiro ter a verdade e escrevê-la Nunca esquecer tudo aquilo que eu sou Sem saber perfeitamente nada. Álvaro Machado – 00:15 – 27-02-2014

Aflige a alma o sonho

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Onde vai a nau e o mar e o cheiro a vida, O lugar onde tantas vezes criámos um novo mundo?... Onde estão as estrelas, a força de vencer o destino, Aquelas palavras enaltecidas por sonho?... Quando os dias passavam e eu sem os sentir passar... Quando era ilusão, então, e não felicidade como dizias... Quando fazia para que fosse eterno o efémero de nós, Esvaziava-se a praia nas ondas da incompreensão... Vida que me abandonaste, por onde hei-de ir? Tudo me escapa das mãos como a um desertor escapa a coragem. Tudo me leva a crer que não sei o que é sentir. É de mim ou terei de ficar à margem? Espera. Deixa-os entrar p'ra falar comigo. Digam-me onde fica afinal Aquela longínqua memória, aquela aparente felicidade, Que tinha dias e sentimentos à mistura bem passados E a voz conjunta do para sempre! Álvaro Machado - 23:52 - 26-02-2014