Conversa ao leitor
entra. convido-te a entrar.
este é o poema que te aproxima
talvez de mim, talvez de tudo
aquilo que eu sou.
tem pouco de diferente,
muito de comum.
um caminho atónito
de quem não sabe porque sente.
à porta te espera o meu primeiro eu
guardião de um templo
creio ser tanto meu como teu
divino, na modéstia de um vadio,
é um snobismo.
mas, dizia-te, entra.
percebes agora?
em tudo, nada.
do nada que eu sou
este poema
está criado.
pouco ou nada vale.
ninguém o lê.
não é digno de um livro.
porque é rápido e sério
e não se vende corações,
sentimentos...
vende-se arte, dizem,
da história que tem amor e família
que faça sofrer e por fim rir
desleixados leitores.
percebes agora?
este poema é uma conversa ambígua
que nem forma se lhe dou
E se agora quiser
Começo a erguer as maiúsculas
Que é de mim? Que quero eu com isto, afinal?
(minúscula.) mostrar que a liberdade é mal vista
aos que fazem por atirar areia
que aqueles do amor são contemporâneos autores.
quê? não são coisíssima nenhuma.
provavelmente tu, leitor que desconheço,
leitor que não presencio, leitor que não és...
provavelmente já não estás a ler esta parte
porque o poema não te faz sentido
é extenso, faz pensar, e tu isso não queres...
mas eu (eu! ah! sei lá o que sou eu, sinceramente...)
só te estou a mostrar um possível caminho
do meu eu, do meu coração, que é normal,
que chega a casa e escreve, umas vezes manda o coração,
outras a imaginação.
mas que escreve. agora num sentido, amanhã, relendo,
outro sentido, quando morrer, sentido outro terá.
já que agora estás envolvido neste poema,
senta-te e continua aqui, vamos conversar.
ter uma hora filosófica, meditar, falar de nós,
sem saber nada...
como o senhor que ali em frente que fuma cachimbo
e não sabe que escrevo sobre ele,
ou o bêbado que hoje conheci,
ou mais à frente aquele de pele escura
que não fala, que fuma e não fala.
Álvaro Machado - 19:22 - 15-03-2014
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