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A mostrar mensagens com a etiqueta Tristeza

Criação infindável

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A criação que não finda Que vem dolorosa, sem se apresentar, Vem fragmento a fragmento na vinda E cai, em dobre, em noite de luar Cai enquanto medito sobre o passado. Se eu quiser eu não consigo voltar a tê-lo. (os outros de olhos postos como sabendo o fado) E, de repente, no eléctrico, cai um relâmpago: não voltarei a vê-lo! Sinto e digo e fujo destas epifanias sobressaltadas Não tarda estarei noutro lado, a virar de direcção! Com meu pequeno barco a seguir novas pegadas E o volante a girar, comigo ao leme, a escrever outra canção! Álvaro Machado - 19.09.2023

todos no poema

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Eu sou de todos, sem mais ninguém.  Sou do universo à noite, rodeado de dúvidas, Sou do dia na manhã, com a brisa a escapar-me das mãos, vai e nunca mais vem, Sou das estrelas cadentes que tiram vidas...  Sou da réstia de esperança que esta lá fora, memórias que sobressaidas Tornam este quarto tenebroso e além vós, Além paisagens, além snobes que se achem,  Além dizeres e não dizeres, contos e não contos: Afinal sou eu não sou?  Sou eu de permeio, sou eu lá trás, aquele senhor até o caminho apontou,  Sou eu ali em cima do balcão, ébrio, a regozijar-me por ser um artista falhado,  Por quem ninguém se tem importado?  É não é? Sou de quem é ou de quem não é? Sou-me pelo menos para mim próprio?  Sou o almirante no meio do mar a seguir um caminho que já havia sido navegado?  A bússola que me deram é que o traçou E eu segui-o; o almirante nunca contestou Nem para onde ir nem com quem ir...  Sim, eu sou estes senhores todos. Sou um espelho de v...

Livro de mim

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  Trago dentro de mim Um livro cheio de canções Poemas inteiros que assim Dão vida às minhas emoções Trago neste caderno Percalços do caminho, a minha redenção...  E talvez um dia, em pleno sol de Inverno,  Esqueça esta dor que trago pela mão, Talvez esqueça estes dias vagos,  As horas passadas sem sentido nenhum...  E que estes pensamentos amargos Saiam, por fim, para lugar algum...  Trago o vento e o ranger  Dos mares, da história de todos os seres...  E ao olhar para o céu sinto esperança, sinto um renascer: - "abre esta porta, agora é para viveres!"  Álvaro Machado - 13h42 - 22.05.2023

incessante naufrágio

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  tenho vertigens, o medo incessante de cair... por isso é que me aproximo do mar, longe da terra, deixo o vento para me apontar o sítio, o caminho que devo seguir... temo pelo cadafalso que se está a aproximar não exógeno, o que em mim começa a nascer... o buraco do abismo a ver-se crescer dentro de mim e empurra-me p'ra longe do lar... mas esta incerteza sobressalta: se caio do abismo ou se será a naufragar que serei posto pela última vez a respirar, junto à costa ou à terra, o que me vai matar? Álvaro Machado - 11h33 - 03.05.2023

Das paredes

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"- Como sai o poema?" Sai com a casca partida, com o tom mais grave, com a nota mais triste, sai do meio da estrada da vida, sai da praça imbuída de rostos vazios, sai das mágoas e das memórias passadas, sai dilacerado, já solto, cais escondido... " - Como sentes o poema?" Sem ninguém que o ampare, sem métrica nem simbolismo algum, sem significado objectivo ou lógico sem brisa de canção leve sem Deus no horizonte frio da manhã sem paz, sem nada mesmo: assim sinto o poema... Álvaro Machado - 15h20 - 24/10/2022

Fragmento contemplativo

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Nada que correu E inda 'sta correndo Sinto como meu, Do eu que está desvanecendo Pois é no universo Que silêncio somos - Bruma contra bruma, pesar disperso De outro que outrora fomos Ah, fosse esse tédio assim! Lentamente destruindo Cada pedaço que em mim Vai subsistindo!... Leonard Sagè - 19h46 - 06-03-2016

Índole sábia

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à frente do nada onde a alma é o ver nunca soube do saber e a morte nunca havia de querer sair dos que a ouviram... então soara cada vez mais lá do fundo, da casa longínqua, o eco onde mortes são iguais a um virar de página... sempre indo à deriva ( vendo-nos de permeio... ) num ir diante de uma escuridão cerrada às avessas com a verdade... para quê um sábio no meio do nada que é cave habitada pela alma do outro lado da estrada? Álvaro Machado - 19:05 - 03-05-2015

Cave do coração

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Na cave do coração magoado Uma perturbadora e entreaberta porta deixa a dor surgir Por entre a madrugada distante. Eu, envolto nos mais desesperados embalos para a morte, Deixo fluir a escuridão que há em mim - vejo-a expandir por todo o universo Em eterno vácuo... E que só tu, noite de recantos infinitos, Me compreendas e me leves no coração... Porque o resto eu calo e guardo E mantenho gélido... Gélido então, pois a vida me deu sombra e solidão Quando havia sol e alegria; Abriu-me, sem que notasse, uma ferida nessa cave Que eu chamei de coração... Álvaro Machado - 01:24 - 01-05-2015

Chuva destrutiva

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Num dos inconscientes instintos da alma, Volto-me, além-sentido, para uma criação do nada... E deixo-me estar à chuva, inquieto e sórdido, Envolto num cismo profundamente inútil, Até que caie a noite. Depois, convicto, lúcido, desajustado à realidade humana, Ergo o meu chapéu intelectual, coloco o sobretudo aos ombros, E por aí fora me deixo ir, me deixo levar insensatamente Como que fosse o expoente da loucura acreditar Que não somos inúteis!... Dei goles profundos de um vinho estranho, mas saboroso. Só assim pude realmente esquecer o raciocínio do nada que construí... Bebi-o até cair redondo no chão, a balbuciar o terror que acerca o meu coração, E a pedir-vos que me deixem, que me deixem cair no abismo, No esquecimento profundo: deixai-me! ( Chove mais em mim do que lá fora. ) Álvaro Machado - 18:18 - 14-02-2015

viajante deleitoso

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alma de viajante? nenhum espaço relembra. saudoso só do nada que é amante, do mais sombrio deleite que o quebra e da solidão que lhe é lancinante... o não sentir-se distante, nem perto, nem mesmo sentir o ranger do vento ou da onda gigante, não faz o corpo se mover e ir adiante... antes, fá-lo parar, deixar de crer... ser em terra ou em mar onde há-de morrer? o que importa é viajar. Álvaro Machado - 23:02 - 21-01-2014

Súbitos deambulantes

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Toma de ânimo os nossos corpos. Ao redor, ao cimo cinza seremos... Toma este meu sonhar com toda a certeza que um dia hão-de lembrar o porquê desta tristeza... Toma, leva-me para a distância. Ninguém lembre, afinal... Foi tudo breve, numa instância deram-me todo o mal... Ide, ide, ó poetas da corrente! Ide, que todos vão... Todo o que escreveu aquilo que sente e viveu desassossegado com tamanha solidão sabe por que viveu tão repentinamente!... Álvaro Machado - 21:14 - 25-10-2014

canto louco

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do cimo das estrelas perguntas-me se estou bem? sim, estou. agora estou. mas sinto-me acabado, sabes? uma consciência desajustada à minha alma jovem abala-me por dentro. fico derrubado. entristecido. e sabes, às vezes, sinto-me melhor, chego a pensar que poderia ter vencido todo o mal que nos acerca o coração e corrói por dentro.... mas depois - e que me perdoe o senhor - o sentimento longínquo toma o seu sombrio ritual... o coração começa a doer quando começa a chuva a cair... o verso ergue-se, começo a escrever e, sem parar, como tudo em minha volta, começo a enlouquecer que faço? que sou? que quero? espera. não sei responder a questões tão simples... Álvaro Machado - 21:39 - 18-09-2014

silêncio do condenado

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digo-te não. os corpos nem são como dizíamos ser... digo-te, numa canção, o que nunca soube dizer ao meu coração... é o não que é sim, o nunca que é para sempre e até ao fim... fui embora. agora vagueio por esta estrada fora cheia de disformes movimentos à roda... é irónico o destino. sermos tudo, termos tudo, fazermos tudo... para quê? não tarda, acabamos. o que fomos, já não somos. o que somos havemos de não ser. ... e no meu não fica o verso que te diz: hei-de voltar. Álvaro Machado - 14:24 - 10-08-2014

noite.

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a minha vida é breve como o vento e vazia como o silêncio do vento. eu disse-te isso. e tudo passou... mas a noite passada trouxe-me o teu flamejante olhar, a doce e inocente voz, e por um breve instante pude ter-te como deus tem o universo. eu devia ficar calado. eu sei. mas eu nasci para dizer tudo o que embarca o coração, todas essas sensações que ninguém entende... é o estar sentado sobre o enternecido luar e suspirar afincadamente... sabes, o normal. o normal ciclo de alma errante - o não ter nada nem ninguém, as raízes espalhadas por aí fora a sofrer intoleravelmente. breve é tudo: eu, tu, todos... mas permite-me dizer que nesse breve instante tenho a sensação de te ver p'ra sempre. Álvaro Machado - 18:13 - 16-05-2014

Cave do tempo

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Estou na cave do universo E é tão pesada a consciência de tudo o que existe... A alma vagueia aos prantos pela rua da cidade esquecida Onde as pessoas fazem-me ter consciência Que a morte vem, vem lenta, silenciosa, discreta E que, quando vier, virá impiedosa. Levar-nos-á sem dar-mos o nosso último adeus. Parece que nem existimos... Que me resta? Esperar? E esperar o quê? Será que só irei sentir uma rajada de vento E depois caie redondo no chão? Sei lá eu... O que eu sei é que o tempo pouco é. Às vezes andamos pelos atalhos do quotidiano A fugir ao que realmente importa, que é abraçar as pessoas que amamos, Poder dizer todos os dias o quão especiais elas são para nós. Mas o tempo passa. Quer digamos ou não, ele perde-se, nós perdemo-lo... Não volta. Só passou. Era esse o seu sentido, o de passar sem ficar... Agora que eu queria dizer o quanto amo o mundo, tarda o dia, tarda a alma. Passei horas e horas a tentar compreender o incompreensível Para poder afirmar qu...

Ciclo.

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Estou no fim dos meus dias. É tão claro como a luz de todas as manhãs E tão tenebroso como as sombras da noite - Tudo me vem atravessar nestas últimas horas. Raio de consciência infame, coisas com que não consigo lidar Coisas essas tão simples como a minha vida, Como o levantar da cama, alimentar-me, respirar, viver o dia, chegar a casa, deitar-me, dormir ou sonhar acordado... Coisas perfeitamente normais que afinal todos fazemos. Normais? Sim, normais. Qualquer um de nós as faz inconscientemente. Só que eu nunca julguei que me fosse pesar tanto os remorsos como têm pesado, nunca achei que a consciência me assaltasse desta forma descabida, louca, cismática, como tem assaltado... Achei: ah, pelo contrário, irei sempre fazer o que quiser, eu não preciso de ninguém, não preciso de vós, nada! Se te queres ir embora, vai-te, vai-te e não voltes nunca mais. Arrepender-te-ás, pois eu não preciso de ti. Disse mesmo isto. Disse isto e, pior do que isso, convenci-me disto. A...

Cego poeta

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Não vejo nada do que vejo. Cansa-me ver. Eles continuam, os consigo pressentir Mas não quero olhar. Deixá-los nesta distância Que nos faz tão diferentes... Nada vejo do que estou a ver. Sinto-me um cego para o que passa. Só queria poder esquecer Tanta e tanta desgraça Que me afronta todos os dias Da minha consciência... Escreveu o meu poeta da cidade, Não vejo nada do que vejo.´ Escreve e sente em prantos A dor que dá ao viver Quando o homem vê no pequeno O muito fel do mundo... Álvaro Machado - 13:11 - 28-03-2014

É eterno poeta.

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No cume da montanha Hás-de estar esquecida. Tão débil como uma folha No fundo da estrada: Vista, esquecida, pisada… Tão ténue que cada ventania Levará um pedaço a mais de ti. E vendo bem os debaixo Sabes, súbita miragem, Que estás só… Não vale ter a ilusão De te ergueres. Para quê crer? Ergues, logo cais. E entras numa espiral Onde sempre hás-de cair… Então para quê o continuar A erguer, ó débil, ténue, triste Sensação que por mim escorre Como esse cume da montanha? Álvaro Machado - 13:17 - 23-03-2014

Rejeição

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Pedi-vos um tempo, Um tempo de descanso, Pedi-vos paz, sossego, Nem tampouco a felicidade Almejei. Pedi-vos que me deixassem! Quis ir numa viagem Ao meu encontro, Em busca de mim próprio E mais ninguém. E responderam-me, Nas linhas tortas da descrença, Lá do cimo do divino, Que a desgraça entornaria Sobre minha face! Então... eu comecei a viver da noite E da alucinação que a solidão dá... Comecei a ouvir vozes, a vaguear nas ruas E subia sobre mim um impulso de escrever Tudo aquilo! Deixei de ter horas, de ver o tempo a passar! Deixei para lá a sociedade, as injúrias! Larguei tudo (Ah, se vocês soubessem!) por nada, Chorei no intermédio sofrimento Que o destino traçou! Deixei o amor-próprio numa cave funda... Deixei de querer viver, ia lasso pela calçada abaixo Quando me vias, e eu sorria indiferentemente Para não parecer mal, para não veres realmente O que eu estava a sofrer! Se um dia tudo acaba, E não nos afrontámos com esse fim, Porquê o meu...

Rompante

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Quis o não no meu sim, Encobri que a raiz é um facho obscuro Parece luz sem ser luz. Quis ter-me por vil E achei que por único assim Pertencia à noite de não pertencer. Na fogueira vã da tristeza Como se a força divina me chama-se Eu aqueci as mãos por egoísmo E deitei-me ao comprido dos versos Numa intemporal passagem de sentimentos Se eles existem, no entanto. Nada, de ninguém, disse eu Numa ténue conquista tida Achava eu, nunca tendo conquistado. Na sociedade tudo é distorcido, Ruas, caminhos, sensações... Porquê o ter tanto sentido Em cada passo, em todas as acções? Prefiro morrer distante e saber bem O que fiz e o que sou, saber de pronto Que a morte vem. Prefiro ter a verdade e escrevê-la Nunca esquecer tudo aquilo que eu sou Sem saber perfeitamente nada. Álvaro Machado – 00:15 – 27-02-2014