Franzino
Quase que o vejo, com um tom claro e franzino,
A deambular pela cidade como um esquecido
Que põe em si toda a crença que há em Deus
E quase que o vejo, enquanto espera.
Com um passo pensativo e preponderante
Que sempre espera por um sinal divino
- Brilham os seus trajes de um interior ardente,
Brilha, o homem, claro e franzino...
Que não há-de chegar nunca, porque é quase homem.
E os quase homens não são a colheita mais nobre.
Ainda assim, vejo, quase, uma crença fiel e cheia de amor
De um homem que anda danado com a vida - que horror!
Cai-lhe, as vestes, só com o sopro do vento,
Escorrega-lhe, o rosto, em profundas lágrimas
- Tão homem não podia haver! Tão nobre em espírito! -
E, ainda assim, só assim, tem ar de ter estado no convento,
Quem sabe horas antes de o estar a ver fosse ele padre...
E a sua crença tenha, afinal, uma veracidade
incontestável...
Continua caminhando. Franzino e claro como uma manhã clara.
Quase que o vejo, vendo-o com ar clerical.
(Se não o vi, foi de Deus o sinal.)
Álvaro Machado – 19:14 – 24-02-2013
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