Dor.




Estou com a disposição anímica de desvanecer
Como o sol que todos os dias me visita e volta a desaparecer.
Estou hoje com a derrota impetuosa da vida dentro do meu coração
E há o desejo insensato de morrer.

Todo o meu ser é a chuva gélida que escorre por ruas infinitas,
Escorre lentamente, porque quanto mais lento, mais doloroso se torna;
Todos os rostos cruzam-me com um olhar avassalador,
Mas porque tem isto de ser assim?

Eu tento ser como este riacho, porque é bonito ser genuíno
E toda a natureza é genuína: está enraizada ao verde dos campos,
Está exposta ao sol do sistema solar, está em linha com o céu azul
E tudo isto é quanto eu invejo ser!

Ninguém me diga que Deus não existe; sejam egoístas, ó homens,
E mantenham viva a esperança e a certeza de vocês serem o centro do universo!
Pobre humanidade que não presta devoção nem fé em ninguém!
Mas, quando nos cai o mundo em cima, qual é a diferença?

Quando nos cai o mundo em cima nós não somos ninguém.
Pela primeira vez sentimos a fraqueza que cambaleia a força,
Que destrona o reinado dos sonhos e da invencibilidade,
Que mata prematuramente a conquista...

Aí já se sente a derrota, que até agora parecia impossível,
E  já se sente a solidão a entrar pela janela da liberdade...
Aí já padecemos da disposição de desvanecer
E pensamos: porque é que me viram nascer?

Álvaro de Magalhães – 20:57 – 22-02-2013

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