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A mostrar mensagens de junho, 2012

Infância Alberto!

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Dedicado a Alberto de Régio Passaram anos desde a infância Alberto. Olha os meus olhos... que diferentes... Aparta este braço... vê estes dentes! Tudo mudou, entre passado e presente, sabes? Eu que era uma rosa vermelha e fértil Agora sou uma murcha sem vontades Perdi as cores, perdi aquela ânsia servil Dos que me guiavam o Destino; Mas agora Perdi o dia e a hora E lembrar-te-ás também, Alberto, daqueles jardins? Eram tão belos, tão rigorosos na sua beldade... E agora não são nada a não ser infelicidade... Todavia, inda são coloridos! Quando passo lá Recordo todos os nossos dias. Faz saudade. O jardineiro Ramiro, aquele compatriota, Abandonou as terras e tornou-se ébrio por lá «Abandonou a profissão e a fatiota!» Deixa saudades sabes Alberto? Felizes tempos passamos Em passados presentes e em presentes passados Lá fomos nós cavalgando a vida e o Destino. Álvaro Machado - 19:18 - 30-06-2012

Navegar o vazio

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Quanto mais navego, mais estou perdido E quando chego a pensar Estar próximo de chegar Chego pelo caminho nunca percorrido Navega o barco na escuridão do Mar Clara luz na infinita onda; Afasta-se de mim Felicidade e saudade vejo se distanciar Para lugar algum sem fim E quase a acreditar no desespero, De estar em alto-mar Sei o meu fim e, por isso, espero Esperando naufragar. Álvaro Machado - 15:12 - 30-06-2012

Horizonte e além

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Durante a madrugada da noite anterior Voei mais além. Descaí o corpo ao horizonte, Sem vontade de ver nascer o sol e o calor Desta perdição descontente. E em vão, este voo foi voado Pelas rimas erradas de um homem Triste, só e abandonado, Ele voou mais que além. Na escrita prolongada que prolonguei Já durante a noite, de repente, relembrei Não esta filosófica e inspiradora mente Mas este corpo que sofre continuamente. O horizonte é baixo e de neblina; o além não sei. Para além de ser infinito, recordo bem, Um final que soa a ninguém Este eu que naufraguei. Álvaro Machado - 23:58 - 28-06-2012  

Escolha

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Escolher um termo de vida é escolher Movimentos impulsionados pela razão E sabendo o homem saber Deslumbrar pela paixão Escolher os lados: o certo é certo e o errado é errado; Escolher um lado que parece correcto Na impulsão do lado desmoronado Mas bate no fundo da montanha o tremor Janelas que se abrem, irracionais que se agitam Berrando pelo Deus merecedor Esse que todos os dias crucificam E nas mentiras imperialistas de impérios crucificados Reinou em mim toda a vontade de viajar Viajando pelos palácios despojados O coração morreu sem se apaixonar. Álvaro Machado - 00:03 - 28-06-2012  

Guache humana

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Esta guache foi, no meio dos versículos, pintada Pela bela natureza e pelos seus belos tons E foram tempos que, não sendo, ela era retratada Como a bela natureza primordial Lá vinham os sons do super-continente! Colidia a larva e o gelo do Árctico Causando efervescência no vulcão super-quente, E na gélida água do alto pico Aquela guache era, na boca dos ricos, Picasso. Saindo da sepultura, talvez, quebrando o jazigo em aço; Nas colheitas dos novos campos carregados Pintava ele seus belos quadros E como ele retratava aquela obra-prima! Retrava-a tão bem como o poeta na rima! Transcrevia em cores mortas pensamentos vivos, De um ser humano cheios de egoísmos... Ó guache moderna e moderna de modernismos Por cá passam uns sem passar Mas mantendo-se, sempre, uns jazigos vivos Vivem para despertar. Álvaro Machado - 01:43 - 27-06-2012

Abraço a terra

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Abraço a terra que me viu nascer, mas não a amo. Juntos em variados momentos vivemos E separamos a dor e os descontentamentos Das raízes e dos ramos Nas belas florestas tropicais em que falamos Aves de rapina e todas as que voavam Nos olhavam com o medo que nunca cruzamos Uma, entre outras, a mais bela, sorria ao Destino Assim como o sol e a luz que brilhavam Juntos na ligação ao Divino Abraço as terras, nasci em muitas! E não as amo; jamais acreditarei Em meu torno giram suspeitas Que jamais amarei. Álvaro Machado - 12:32 - 23-06-2012

Forma na sombra. Vasta escuridão

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Escondi-me na forma das sombras; perdi-me na vasta escuridão Ó noite bela e vaga... quanto do teu olhar cego vislumbra Esta alma que é impenetrável até pela própria penumbra Vasta... vasta de solidão. Olho e fico a pensar: sonho o futuro desconhecido; Vivo o presente na vontade de não viver; E abraço, exaltado, o passado tremido, Esse que vivi sem conhecer Mas é no silêncio que toda a alma vive. Ouvir um mar, No alto de uma colina transparente; assaltar em pele de corsário Navios e embarcações ricas que navegavam sem navegar Grandes oceanos percorridos em sentido contrário! E corre... corre... esta minha mágoa e nunca acaba. Desembarco o corpo na terra nórdica: o areal, Grande ele é! E as praias belas estendiam-se no litoral Como na minha face se estende a barba. Álvaro Machado - 23:12 - 22-06-2012

Viagem à Grécia

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Na viagem à Grécia ergui os olhos num movimento brusco E vi, imaginei e consenti os Deuses nas parábolas antigas Contestei... Ergui a voz como em rítmicas cantigas Enaltecendo a fome e a solidão no cinzento fusco O povo, na Pólis, não consentia estas objecções Em tardes opacas, quentes, mórbidas, Repugnava estas e outras acusações; Essas tais que foram esquecidas Que horror e desprezo me havia acercado! Perdeu-se o gosto pela natureza, pelos animais, E o azul do céu abençoado Brilhava como as cores vegetais Mas tudo era demais... tudo era demasiado... Calor, ventania e natureza, tudo desacreditado! E esta alma em que só eu desacreditei Espero um dia, já grego, acreditar que amei. Álvaro Machado - 19:39 - 22-06-2012

Nas margens do rio

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Enquanto passeava pelas margens do rio que não existe Cheirava, um aroma, num vazio sem fim E a água escorria; o vento soprava para junto de mim Ventanias que me deixavam triste Junto a uma banco sujo e partido, sentei-me a pensar Em miudezas que havia passado; em águas que havia percorrido No que, sem ti, nunca havia de ter conseguido, Ó barca despenhada em alto mar! Tu fizeste com que, um dia, me julgasse perdido Na vasta floresta alheia ao meu pensamento E as jangadas que construímos quebraram Num mar e num rio por que nunca passaram Chovia toda a solidão do mundo naquele banco... Como eu me recordo de tudo aquilo! Por vezes ainda tonto e manco Navego em mar e rio intranquilo... Álvaro Machado - 15:26 - 20-06-2012

Nas margens. Mar esquecido.

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Está nas margens de um mar esquecido A simbologia das minhas vontades. Relembro, ao vento, aquelas amizades, Impossíveis nos ideais de Cupido. Aconchego-me ao lume destas contrariedades E falo do que não sei. Só uma figura consegue perceber: Chamada de estátua sagrada e sábia no seu entender Entende, e sem razão, estas infelicidades. Fui levado pela maré... E esqueço a própria vontade Relembrei o que não sei por meio da felicidade Mas nunca a tive. Hora errada, minutos sangrentos, Assim vivi, na mágoa destes descontentamentos Álvaro Machado - 20:08- 19-06-2012

Sopra o vento...

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Sopra o vento longe do cais, afugenta tudo. A água evapora; a população desaparece A nuvem esmaga quando anoitece E tudo fica mudo... Assim eu me pareço quando me falam Três mil figuras que estupidamente Acreditam na fala e não se calam! Nem as quer ouvir, sinceramente... Amam o possível, idolatram o visível... E eu sempre quis o que ninguém pode dar Sempre amei o impossível de amar Querer isto é querer mais que o possível? Os que se baseiam em factos são cientistas Mas o que, como eu, apuram as ficções, São desvairados e masoquistas! Nós falamos bem e fugimos aos palavrões. E ao contrário do que dizem, nós somos sabedores Julgamos a vida, a morte, as náuseas da vida. Largamos a gentiliza de três mil conhecedores Que sabem tudo da vida desconhecida Álvaro Machado - 19:46 - 18-06-2012

A viagem ao outro continente

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Dedicado ao imperador Pois bem íamos nós escondidos Entre as muralhas daquela China Julgando-nos altos, talvez, e destemidos, Riamos por cima da colina O mandarim que se falava Fazia-se entender? Estranhamente dizíamos «Aquele sotaque!» que tanto nos atrapalhava E dificilmente o percebíamos! Eu não levei bagagens supérfluas para acolá Somente fui, como o vento vai pela árvores, Adentro levando o frio que mais parece de mármores. E todo aquele desejo asiático se retia por lá... E brado-lhe a si, imperador chinês, pela grande hospedagem Que nos deu quando chegámos no ferryboat; e cansados da viagem, Pedíamos vinho e cozido à portuguesa! «Raios nos partam... Saudades!» Quando molhei o pé na areia, senti na pele o fel das nossas comidas, E vi em tantos territórios e em tantas herdades Comidas sem cor, frias, e nunca cozidas! Um abraço ao senhor Qin Shihuang pela caçadas também! A unificação ainda está erguida e foi mais além! Nós por cá, já em Portugal, bebemos e rimos ainda Da viagem e ...

Ando perdido por amores

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Dizem que ando perdido por amores Na grande lagoa do meu interior. E acham que choro por flores, Murchas e sem cor Eu lá vou concordando com as sombras... E já anoitece na cidade; as mulheres vêm a janela Admirar as luxuosas obras, Deste interior que ilumina a vida bela Mulheres! Fardadas de preto com lágrimas de crocodilo! Puta que as pariu! Falam deste devaneio - que se chama Alegre e estúpida glória e fama! E esquecem as particularidades do Rio Nilo! Contemplo uma vasta névoa cinzenta na cabeça das pessoas, Que solene gozo tenho ao ver isto! Acompanhando de mim, e desta ironia, só Cristo, Que por si todos rezam e choram extensas lagoas! Dizem que ando na esquina a chorar Por uma rapariguita qualquer E já finda o climax pela mulher, A mulher que nunca hei-de amar... Álvaro Machado - 14:45 - 16-06-2012

Passou um mês

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Estou-me a rir! Passou um mês sem escrever! Nascem em vão todos os dias almas renovadas E de que vale sentir palavras abafadas Se no fundo não as vou conhecer? Criam-se laços sanguíneos entre desconhecidos, Mexem-se modas, habitações, ruas, oceanos, Para no fim descobrir ao longo de tantos anos Prazeres e sentimentos esquecidos! Agora, no auge da solidão, eu canto por amor por mágoa, por falta de prestar vassalagem... Agora, entre nós, passa... o tempo como miragem. Bastou-me rir e ver num mês mais do que tudo o que vi na outra vida, ó cristal mudo! Pintaste-me este mês como um grande pintor! Álvaro Machado - 16:28 - 15-06-2012  

Invisível fulgente

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É um infinito que passa por mim, por nós, e não alcança ninguém São palavras que uns bocejam e outros simulam Mas o tudo e o nada vão mais além, Vão e nunca se cruzam. É uma vida que é homogénea em todos os sentidos As pessoas que nascem na inconsciência de viver Vivem-na. E nos meus poemas reflectidos Sou visível até desaparecer E assim, nós nunca nos cruzamos... Ó invisível fulgente! Mas noutra vida nós amamos, Por sermos mais do que simples gente. Álvaro Machado - 14:21 - 14-06-2012

Doze badalas

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Dão doze badalas: o clérigo sai da esquina E brada para nós (por sermos inocentes) Que precisa da maços verdes, Ali para a vitrina... Nós acenamos e gesticulamos para afirmar Não a ele que é um que desconheço Mas a Deus por, indirectamente, o idolatrar Rezo por mim (eu, que não mereço) E junto de outras almas de que tanto espero Espero também saber esperar Pelo paraíso me encantar... Então, na badalada sofrida, No meu interior desespero. Não por aqui estar, mas pela minha ida! Álvaro Machado - 21:37 - 13-06-2012

Os tons do Chiado

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Caminha em tons púrpura pelo Chiado Exalta as esplanadas, ergue bairros, E deixa-se levar pelos raios De um sol desinteressado Um traje daqueles que vale um desdém Ia, na outra ponta da Alameda Reparei que a sua rasgada seda Era vista pelos boémios de Alcem, E os tons mudavam de cor: tudo misturado, Relembrou o dia da abertura do café; Destacou-se marrom pela santidade cheia de fé. Mas os tempos mudaram. O ricaço fora promovido Pelos governantes que o levaram à Lua. «No entanto, eu, pobre, não troco a minha pela tua» Álvaro Machado - 21:16- 13-06-2012

Dista do coração

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  Tenho em mim e no meu pensar Um lugar que se dista do coração Chega a ultrapassar Plutão, Chega a ultrapassar poeira estrelar. E toda esta minha amálgama Existe para além do que cientistas Possam acreditar. A alma voa e fogem-me as vistas, À explosão de raios gama Explodiu, em nossa direcção, e tudo devastou Restou apenas matéria estrelar... Mas a minha alma, Deus não abandonou Por estar longe... para além do nosso Sistema Solar... Álvaro Machado - 12:32 - 13-06-2012

Cansado

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A verdadeira vontade que me cansa Está nos caminhos que faltam percorrer, Escondidos e tapados pela falsa esperança Passeio-os para esquecer Os dias que não são senão monótonos Em correrias abafadas eu me sinto, E já cansado e faminto, Sonho ricos tronos. Mas eles não são como outros pensam ser Esbeltos e luxuosos E mais tarde tempestuosos, Palácios de bom parecer! São-no interiormente… e quem reina é a metafísica, Que à vista de todos é uma loucura! E a meus olhos, cheios de amargura, É a mais bela ausência física… Vivo rodeado pela decadência da cultura E neste caminhar sem cura, Excluo-me em direcção às estrelas Esperando nunca chegar a vê-las… Pois de que vale sermos felizes unicamente? Possuirmos a riqueza física e esquecermos, A parte que durante anos conhecemos Pelo pensar, pensando filosoficamente? Álvaro Machado - 19:34 - 11-06-2012

Deserto Lusitano

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Passa no meio do deserto uma chama E brilha desvanecida. Tudo se resumiu a uma paisagem de fama, E a luz deu-se por vencida. Todo o calor absorvera a vontade daquela iguana Já não tinha cor, já não tinha alma, Dentro de si já não havia calma; A calma de voz lusitana O céu cobriu-se de nuvens obscuras Até que avizinhou chover. Desertou o réptil sem desaparecer, Até que, do nada, voltou pelas ferraduras, D'um cavalo lusitano. E sem ver quis querer Na névoa daquelas amarguras... Vi, também, o meu corpo coberto de areia A tempestade começara. Não percebi porque Deus me deslocara, Até aquele deserto que estonteia! Chorei, nostálgico, por só ali estar, Sem ninguém para comigo desertar... Álvaro Machado - 15:08 - 12-06-2012

Todos os países... Menos um!

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Acabou. Todos os países seguiram um caminho de auto-destruição E todo aquele amor que nunca chegou ao coração Desertou pela corrente de ar. Toda a agitação monetária fora agitada pelo turbulento mar Caiu em esquecimento o que realmente faz agitar o movimento, Eles não sabem, ou desconhecem, o prazer d'um monumento! E assim é a vida do século vinte e um Onde todos eles valem igual E todos valem o nenhum. Mas prevaleceu um que é diferente! O nosso Portugal! De que tanto orgulho enche corações, Desarticula batimentos num ritmo magistral! Isto é Portugal... e o resto meras ilusões! Duvidar-se-ia de tal coisa se não existisse tanta arte Num país que negou, sempre, dar-se por conquistado, E mesmo nos tempos do poderoso Bonaparte Portugal não se deu por derrotado... Álvaro Machado - 14:41 - 10-06-2012

Sou Português! Portugal vai ganhar!

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Como sou português, Espero que seja desta A nossa grande festa E que seja de vez! Pois belo hino temos E tão saudosas cores! Espero, por fim, Portugal de amores, Sejas motivo de orgulho, e juntos festejemos! Ó Portugal.... Tu vales a vida, tu vales a morte, Tu vales tudo e vales o nada. Tu que és forte! Nós sem ti não éramos portugueses, nós sem a tua bandeira, Deambulávamos por águas infinitas e nunca chegaríamos à costeira! E de que valem todos os outros? Não sabem o que é a palavra conquistar Desconhecem toda esta complexidade linguística que nós temos; E juntos pronunciemos: «Portugal vai ganhar!» Álvaro Machado - 15:10 - 09-06-2012

Meus lados

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No meu lado direito via um alegre campo, Fresco e puro. Estonteante e febril momento! E por uma fracção de segundos, num escurecimento Via um triste campo E inda assim, a certeza tinha, Ser um bocado de terra Da minha vizinha, Vizinha que me berra... No meu lado esquerdo esquecia uma triste ideia, Obscura e vaga. Ermo e ávido pressentimento! E no calor deste aquecimento Esquecia uma alegre ideia Finda toda esta cólera que já não é física Tudo que tive foi uma visão, De um campo alegre e triste sem vocação. E a dor já é somente física. Álvaro Machado - 21:09 - 08-06-2012

Bebendo Alvarinho

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Enquanto estava perdido e sem forças para me encontrar Passou por mim, curvada e grisalha, alguém, Dando-me um largo sorriso para me cumprimentar E por um instante, deixei o ninguém. Comia uma bela maçã verde ou vermelha E todo aquele seu ar de velha, Passou-me ao lado. Continuei sozinho, Dando um trago de Alvarinho De repente, não acostumado, fiquei ébrio e desertei Toda aquela sensação; todo aquele estranho olhar - Quando dei por mim já a chorar - Vi-a e não reparei Ficara preso na eterna solidão. A senhora, Abandonou-me quando chegou a noite... E tudo o que ela fez, e ela própria, se fora! Mas tudo isto vale o quê? Nada no mundo é real Povos, riquezas, vontades, devaneios, Sem sentido nem vontade prossigo os meus passeios, Num destino sem igual. Alberto de Régio - 21:31 - 07-06-2012

Poeira estrelar

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Vago coração de poeira estrelar Quase que pára ao som do vento Aproxima-se em movimento, Quase para se entregar Passam dias, anos, séculos, Sem voltar a recordar. E ouve-se sussurrar Uma melodia no crepúsculo. Mas o vento passa... e deixo de existir. As mãos ávidas; o corpo lasso, Faz exprimir todo o cansaço, Em existir. Álvaro Machado - 15:09 - 07-06-2012

Ruas do fim de tarde

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Pela ruas do fim de tarde observava algum barulho ensurdecedor, Agitavam-se, lá no fundo, as bandeiras do concelho; Sentei-me à porta de uma café lotado, feito observador Ditando versículos do evangelho Céu escuro e mercados com frutas estranhas afugentavam Pessoas que mais pareciam desertores, Animais que mais pareciam corredores! E no final daquela tarde todos eles desertavam Defronte, naquele lago amarelo, via afinal o que é a triste cidade! Ela já poluída mudava de cor e perdia toda a sua felicidade... E os que nela estavam, indefinidos, eram outros que sofriam, Com a tristeza em que viviam... E já no cair da tarde por sinal avistei Um grupo de homens a trabalhar O mais velho quase sem falar Foi o que mais contemplei Via-se naquele olhar uma profunda tristeza! Não tentava sequer trabalhar; e apesar da destreza, Sabia não ser aquele a sua vocação. Seu corpo apertou seu coração No esforço isolado. Todos os outros riam e conversavam Destinos que passavam Mas ele... não era nada, a n...

Pela estrada fora

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O que consegui observar pela estrada fora Foram conversas que mais pareciam, Discussões em má hora. E tão longe de mim me senti! De vez em quando, Naquela chuva convectiva que ia relembrando, Coisas que me desapareciam! Estava tão vago aquele vago silêncio! De repente, choveu lágrimas que não choravam, Faziam anos cativeiro. E o desejo fictício, Tornava-se fácil pelos que não acreditavam, No vago silêncio! Assim, percorrera sobre mim todo aquele mistério Naquelas viagens que navegara a todo hemisfério... E jamais relembrara o doce cativeiro Dos anos que vivi de marinheiro Mas isto são saudades: ó salgado cativeiro! Álvaro Machado - 21:29 - 05-06-2012

Sonhar distanciado

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Lembras-te dos devaneios percorridos, Na lua dos esquecidos? Sonhámos um império desolado Perto de nós num futuro distanciado? Sentados no Sexto Empírico Enquanto decorriam frenéticos debates, Nós relembrámos o sofrimento de Dantès E de todo aquele destino trágico. Mas no fim cada um seguiu o seu destino Ao acaso lembrei um daqueles semblantes Que percorriam no bar de protestantes Cantado, em calúnias, o nosso hino. E juntos escrevemos uma carta, Na ventosa noite esquecida Para nunca mais ser relembrada Na hora farta. Que quinto andar! Sentado e oprimido, Relembrava bravos guerreiros conquistadores E julgando também assim, enfrentei destemido, Fortes e frágeis tentadores. Ria-me, na noite prolongada, solitário, Enfático pelo sonho dos meus ventres E já vacilante perto do armário Descobri porque me mentes. Álvaro Machado - 19:33 - 04-06-2012

Em Movimento

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Move-me... ó tempo que nunca chegas Liberta-me... ó solidão amálgama Sou a alma que não ama, Sou o ser que negas Aflige-me... ó infinita face tépida Voar para um lugar distante Acartando meu semblante Relembro-me... ó distorção gélida! De momentos ténues e vagos e impessoais Estarei saudoso das tuas formas carnais? Não sei... sei que perdi toda a atenção... E ainda no escuro da clara manhã penso Se existes ou se é alucinação! No fundo julgar o teu calor intenso É mera ilusão! Eterna saudade de lugares impossíveis, Onde mergulhamos perto dos Persas; Eterna vontade de conversas improváveis, Onde dialogamos longe vagas conversas. Álvaro Machado - 20:06 - 03-06-2012

Génio desencontrado

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Ser génio é desencontrar; ser criador é reinventar, Motivos para conseguir ser único no meio de igualdade. E todo o iluminado que julgar encontrar, Encontrará a banal facilidade. Precisamos, porventura, de recriar algo nunca criado, Vivermos sonhos que não passam de algo imaginado, Levantarmos a mão e, nostálgicos, não ter saudades; Das próprias facilidades… E todo espírito se ergue vago no horizonte esverdeado… E eu pensava como toda a estação seca me fazia chorar… Ó belo azul do azulado céu inventado, Tu fazias tudo relembrar… Na sombra do vento ia afinal minha sombra, Pela penumbra do quarto fechado. Interdito, ficara trancado, Há própria sombra. Mas quão bem faz viajarmos! Ou julgar estar a viajar! Até o olhar se cansar, Façamos para sonharmos! O horizonte faz-me sonhar na plenitude do sonho, Por saber o que fui outrora! De novo me relembro ao sonho, Vago na vaga hora. Mas ainda há os felizes do mundo… vejamos anárquicos, Escondidos na luz de uma estrada a vender na bandeja Sacos...