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A mostrar mensagens de janeiro, 2014

Som alheio

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Som de ti, calmo quando sinto passar, É uma saudade ténue de alguém Que vem de longínquo lugar Sem saber de onde vem… O que de ti existe, Alheio a este espaço, É triste e não é triste Como a vida que eu faço… Som de ti que sei existir, Mais calmo do que infeliz, Foge do meu quarto, é repleto o porvir. De mim não sei o que fiz… Álvaro Machado – 17:14 – 21-01-2014

Frustração.

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Não me parece que consiga Dar uma rota à minha vida Nem achar uma nau e um destino Que possa percorrer. Cada vez que me ergo Para saciar o horizonte indefinido Me deixam a cair num precipício fundo e obscuro Onde ninguém ouve este coração dócil Que pede só que o salvem... Forças as não encontro Debaixo do manto de solidão e de medo Que vive dentro de mim. Demasiada frustração mágoa saudade dor Para fechar os olhos ao presente... Então acordo no meio Em uma praia lusitana perdida no tempo Preso ao cais com um peso na alma E não me posso lançar ao mar! Álvaro Machado - 03:19 - 20-01-2013

Travessia de dimensão

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A travessia para a ponte Com meu sonho se almeja, Com minha realidade se impede. Uma névoa feita de impasse e indefinição Impede que seja eu o alguém Do outro lado do rio. Estático e entristecido Num recanto de alma vã Tenho a indecisão de não saber o que fazer. Continuar pensativo e inútil? Ser algo que sobrevive aos dias por não poder findar? Que posso eu mais fazer então Do que fitar a distância? Já vi tudo, tudo passou por mim. Cruzei-me com muitos para os nunca mais ver. Amei demasiado o céu e as estrelas Sem nunca lhes ter falado ou elas a mim. Sofri na solidão da noite a ternura das paisagens Andei em linha descontínua e perdido Por entre cadafalsos que o coração tivera... Eu mesmo fora sem saber Uma árvore com raízes e fruto Poisada no decurso da vida Sem conseguir falar, só sentindo A mágoa dos que faziam a travessia Sem olhar para trás Sem ver que eu estava ali Preso na solidão do mundo. Álvaro Machado – 20:56 – 19-01-2014

em honra ao mestre de Abril

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Dedicado ao poeta Ary dos Santos quebrar os braços, jamais. eis que se quer erguer a liberdade, quer-se vidas iguais, quer-se nos rostos a felicidade que estes regimes ditatoriais encobrem, matam por maldade! viesse chuva, viesse tempestade, viesse a PIDE, viesse a repressão. que a força das palavras é toda uma vontade que nenhum poder consegue pôr travão! se querem calar esta verdade mandem-no para a prisão! pensais vós, porque ninguém cessa um lutador. ninguém sabe do povo que tem dor que agora é de vitória e esperança que o nosso povo é feito. cantamos o hino com a mão no peito e cantamos liberdade com amor. somos assim, à bravura dos nossos antecessores prestamos um eterno louvor. somos assim, somos portugueses vencedores! Álvaro Machado - 17:51 - 18-01-2014

Deambulante pela noite

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És tão silenciosa e sinistra. Tão única para eu te ouvir o segredo. Contigo a meu lado, minha alma é transparente. Está nas indefinições e vagueia entre elas, Até que os olhos se erguem às estrelas E entristecem pela distância entre elas e mim. Ando tempos pela escuridão. Mas não me sinto perdido, sinto-me calmo e inspirado. Porque afinal és tu, noite, que ouves meus devaneios, Minhas vãs perguntas, que me conheces como ninguém... Será que existo para lá disto?... Álvaro Machado - 23:49 - 17-01-2014

Inconcebível mundo

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O universo existe; e os planetas e as galáxias, Multidões de homens vulgares e esquecidos, Eternas catedrais mórbidas e exageradas, E tudo isto me é ensurdecedor enquanto concepção de vida. Para onde foram os antigos e verdadeiros poetas Que faziam da vida única com suas obras de sentir para lá do possível? Mas onde estão aqueles filósofos sobre o púlpito a percorrer séculos de ideias futuras? Onde está o horizonte preenchido de grandes embarcações com hastes içadas? Mundo? Onde estás, mundo que eu próprio concebi? Ah, este mundo não tem lugar no próprio mundo! E poucos o sonham - poucos, nenhuns, o que for... No meu sonho, então concebido como salvação divina, Encontrarei-os todos, mesmo os que não conheci. Viver do passado, aprendi, é viver mais actual. Álvaro Machado - 19:19 - 16-01-2014

Superior a nós

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Percorri os estores e uma pequena luz Deixei entrar para me iluminar. Cedo desvaneceu, encobriu o céu, Chover há-de em breve. E foi assim toda a manhã, chuva, sol, Vento entre eles, levado com o tempo também... O que me faz crer que sou pequeno Para o grande mundo de oiro... Debaixo da tempestade, a álea despia na crua verdade O grande poder aquém da nossa compreensão, Nossa mestra, senhora da beleza e da efemeridade, Que ninguém é capaz de deixar para trás. Álvaro Machado - 13:42 - 16-01-2014

Nostálgico.

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Às vezes sinto frio E cai-se-me uma lágrima para o decurso na vida Quando me sento e vou descortinar o tempo que passou Desde que existo. E sinto pequenas lembranças Passarem à frente dos meus olhos Quando a força dos raios do sol Batem em frente da janela. Tanto tempo que passou… Abarco uma nostalgia sem fim em mim… Será que nunca mais posso voltar a viver aquilo que vivi? Será que só posso continuar e não olhar para trás? É como um vazio esta nostalgia… Um buraco negro de memórias que fazem a alma comover-se… Até eu vou cair em esquecimento, quando o tempo me levar, E o que agora passou não volta nunca mais Porquê? Álvaro Machado - 16:05- 14-01-2014

Distância em nós

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O mundo é vasto, tão vasto, Há cidades e pessoas que nunca vou conhecer, Paisagens que só me serão distantes… E o meu coração, leve, como uma ventania que passa, Às vezes sorri, às vezes chora, E sente tanto quanto o mundo Na sua pequena viagem. Álvaro Machado – 15:16 – 14-01-2014

Cantos sós

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Canto só. Um canto só eu canto só. E não tenho que ter sentido nenhum. Neste momento hão-de estar universos à parte A me conceberem mais cantos sós. Tudo está mudado, os tempos, os homens. Mas como posso eu inverter a força das marés, o calor incessante do sol, E pedir aos deuses, senhores do universo, para retornar Ao som das naus a baterem nas encostas E dos gládios erguendo ou caindo? Nem sei o que escrevo de tão só que me sou… Se eu rodopiasse entre os sonhos e se vivesse só neles, Eu, sobre um casaco e um cachecol velhos, e sobre uma qualquer cidade fria, Com o meu cachimbo de todas as inquietudes, Teria a sensação de que conhecia o mundo. Mas assim não. Tenho isto tudo e ao mesmo tempo não tenho disto nada. Pois é a viagem que percorro no tempo atónita e permite-me Criar e desmoronar ao mesmo tempo, crer e descrer logo a seguir; Posso, com a minha alma, percorrer o universo, alcançar as paragens impossíveis da razão, E depois voltar, esquecer que o fiz, e

Alvorecer

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Urge pela salvação, não fosse agonia o sentimento. No alvorecer ainda durmo e não sei como sinto tudo… Cada som que oiço de água a cair mudo É o silêncio do meu sofrimento. Não distingo se te posso chamar concebível, Real, impossível! Uma lestia – sinto – me leva o coração, Arrasta-o, e as folhas também o são. O sol se põe, olha como doira a manhã… Como há tanta novidade, tanto crer em viver! A chuva, sol, tua é irmã. Não fosse eu assim no sentir, Sombrio, distante, consciente, Que o universo de novo viria surgir Comigo novamente… Álvaro Machado – 17:52 – 13-01-2014

Nunca duram.

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Está frio e quebradas elas estão, Tornadas em ermo, feitas em escuridão, Mais nenhuma fonte correrá Nem nenhuma flor florescerá… As aves voaram, perdeu-se o seu rasto Pelo horizonte também perdido; Só eu sei para onde queria que tivesses ido, Ó império vasto! Mas vazias ficaram as estradas E os homens que se sacrificaram Tinham suas armaduras quebradas, Morreram em nome do império que amaram. Debaixo da ponte já não vejo água a escorrer Nem defronte se perscruta os gládios… Só consigo, então, imaginar os homens a sofrer E seus corações a ficarem vazios… Não resta ninguém. Nunca eles duram. Álvaro Machado – 20:50 – 11-01-2014

Premonição

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E se me ouvires, não oiças. Vê-me no fundo a desaparecer... Aquela névoa - vê bem - serei eu, Serei nada, meu ser... Nunca soube como queria ser Nem os caminhos que queria percorrer, Mas no fundo sempre fui uma paisagem Nunca perto, nunca longe... Diz-se que de lá - para onde vou - Se vê muito bem a terra, as cores vivas do nosso planeta. Quem me contou vive nesse mesmo recanto disperso do universo E há muitos anos que nos contempla. Viu a terra nascer: o verde dos campos, O azul do mar, o primeiro de todos os homens... E contou-me que Deus criou a terra e só depois os homens. Se ouvires, não oiças. Parte, parte enquanto é tempo: O homem não durará. Álvaro Machado - 18:34 - 11-01-2014

O destino do jornaleiro

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Quando as sombras movem no escuro E nós as pressentimos É um sinal prematuro Que mais não nos sentimos. E se a vida, criada tenha sido, O não é alegre, só comove, Talvez nem Deus tenha existido, Talvez nem este Universo se move… Porque o senhor dos jornais partiu. E já não vende mais jornais, aqueles jornais da actualidade. Agora, como vou saber o que acontece na sociedade Se a vida tudo levou?... Álvaro Machado – 17:44 -08-01-2013

Real, sonho.

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Não tenho nenhuma esperança. A luz sumiu, tudo está deserto. E se eu sinto uma cavidade de mágoa profunda no coração É porque mereço, mereço tudo isto. Apagou-se-me a lucidez, interceptou-se-me esta alucinação Que me faz sonhar que não existe! Que me faz querer o impossível! Que me faz chorar por quem não conheço! Será que mereço? Vou à janela, estendo os braços para que me vislumbrem, Mas não tenho ninguém para me socorrer, falhei a sorte do destino... Como isso pesa, como cria um ferida profunda no coração, como deita abaixo, Como me faz querer desaparecer... Onde está Deus? Está em qualquer lugar, nem sei se ele existe... Passei tantos anos da minha vida a velar por tudo, mas sobretudo por si. Mas os sinais que tenho recebido - se os recebo realmente - são de um desassossego terrível, De um inferno, de um cismo que destrói toda a flor que floresce. Cadáver. Perdi a vontade de me ser. Viver... Sonhar...  Álvaro Machado - 17:58 - 05-01-2014

Paz.

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Não sei. Começo por escrever que não sei Às coisas do universo o que não sei saber. Mantenho-me então no desconhecido, Mantenho-me distante, só, para mim… Talvez numa lua e num silêncio cerrado Possa ouvir as outras almas Que já do outro lado, depois da vida, Têm paz. A minha vela. Um dia há-de ser feliz. Ao amanhecer virá busca-la um barco… Um barco pequeno para o outro lado - Esse lado que sonho, que existe e eu sei que existe. E eu disto nada sei. Álvaro Machado – 00:24 – 03-01-2013

Absorto

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Vira-o na grande praia estendido, Esquecido, como nem uma pedra fica. Caíra morto, ficara despedaçado. As ondas tempestuosas e o vento Foram o funeral do que restara dele Mas para sempre fora esquecido. Álvaro Machado - 23:54 - 01-01-2014

soneto do passado

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dedicado a Camões tive o sol, tive o mar. o que verdadeiramente se agigantou. foi como uma poeira que levantou para ao céu me fazer chegar. viajei em todos os recantos, tive companheiros por esse mundo fora. e, para os exaltar, exaltando-os com meus cantos, disse-lhes que chegou a minha hora... senti sempre o muito em muitas sensações, dispersei-me por diversos pensamentos, sagrei-me senhor das divagações! pusera o fato e o chapéu das navegações, como se partisse de novo para os descobrimentos: chegando ao oriente, chegou Camões! Álvaro Machado - 12:39 - 01-01-2014

Retorno à nau

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Muito lucidamente navego. Não com esperança no que vou encontrar, porque não vou encontrar nada; Não com o pensamento no que existe, se nada existe… Porém, navego. E navego lúcido na minha condição de marinheiro indefinido Que não tem tempo, não tem datas de seu nascimento nem de sua morte, não tem histórias para relembrar… Quando abri os olhos, já só havia mar à minha volta. Então pertenço ao mar e só ao mar eu obedeço. Conheço-o como ninguém conhece Porque sou irmão dele. (Será que há outros como eu? Que vagueiam em alto-mar sem a humanidade Porque o destino assim o concebeu?) Agigantam-se as ondas, os cais da minha aldeia estão desertos, O nevoeiro oculta o que há para além do horizonte E Cherbourg é o meu habitat. Viver na indefinição de quem somos e do que fazemos É uma maneira mais subtil de sofrer. Sou só, lúcido e navego. Álvaro de Magalhães – 22:19 – 30-12-2013

Cadáver.

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Via que o céu crescia, Via vida a surgir, A estender-se pelo vasto universo, Tudo, tudo a crescer! E a minha sempre no lado inverso, Que, em vez de viver, Sentia que a minha vida morria! Via a névoa que se estendia, Via as naus a se ocultarem No mar distante que ninguém conhecia E, para sempre, a se perderem! Que destruição nascera, Que vida alucinante morrera Para tantos outros navegarem!  Álvaro Machado – 15h40 – 29-12-2013

Nova personagem.

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Calmo, frio e racional. Assim sei dar pelo meu fim. E não lamento que tenha vindo, Que esta seja a minha partida. Estou calmo para qualquer desfecho. De tantos pedidos de perdão que fizera, Agora aceito qualquer sentença. Será que vou sofrer? O tempo e as questões sobre quem sou Levaram-me sempre à loucura. Sempre me desviei do que eu poderia ter sido: Havia sempre mais dúvidas, mais dor, mais multidões Percorrendo a minha cabeça... Os originais? Não sei. Acho que os queimei. A fogueira ardia imenso quando deixei a casa e a minha vida... Mas para mim viver nunca foi senão ser queimado E esperar que alguém viesse socorrer. Álvaro Machado - 19:27 - 28-12-2013

Alucinar

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Segundos que passaram parecendo anos, Repentinas passagens que se eternizam... Mas eu quero não ter uma decadência tão grande como a que tenho tido! Por favor, Deus. Deixa-me sair do cismo deste quarto escuro que tem como passagem o universo, Deixa-me sucumbir, fazer-me esquecer da minha solidão. E da dor que perpassa em minha fronte! Que senão eu mesmo termino com isto! Ah! Que raiva que sinto quando passo as mãos nos meus cabelos e alucino! (Mas tu não vês que o destino foi traçado? O que tu vives não existe, Foi criado para que contemples a tua própria morte e mais nada. És uma partícula perdida para sempre no vasto universo.) Mas ninguém sabe, realmente, o sofrimento impregnado nas horas a que vou sobrevivendo... Ninguém. Isto não é para se viver... Álvaro Machado - 01:32 - 27-12-2013

Desmistificação

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A minha vida é um ensurdecedor e atónito chocalho Que desmistifica o universo à normalidade da chuva, do vento que rompe... Anda sempre à busca da liberdade dos altos montes escritos em livros E dos mares que nos levam as memórias... Tornando simples o sentido de viver, Se ergue o coração de uma encosta imaginária, Para que viva por dentro de um sonho em que vive sublime, Sem nenhuma mágoa do que anteriormente vivera. E assim, é feita uma nova criação da criação já antes feita, Mas onde as ruas, os cafés, os frequentadores boémios da poesia, Se não preenchem daquela prisão que a vida os acostumara a ter que sobreviver, Preenchendo-se, então, do ar livre de campos mais amplos, Da beleza de um sol diferente, mais fulgente, e cercados por seiscentas e seis luas De cor cerrada, vermelha, intensa, que nos levará a um outro porto... Mas não sabemos nós - pois fazemos um intervalo na consciência - que nem existimos. O que nós vivemos é apenas o sonho prolongado e as pesso

A quem pertenço?

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Eu não pertenço ao mundo. Pertenço à alma de cada coisa que vejo: Se chover, ponho-me à chuva e ao lado de cada coisa que se molha, Se, quando cair a noite, houver tristeza nelas, eu também entristeço… Por isso, serei cada coisa dessas, sentirei o que elas sentem, Viverei como elas, mas sem pertencer a nenhuma delas… As estrelas alentam-me a esperança: Há vida depois de passar por ali, tem que haver! Acredito afincadamente que haverá um paraíso defronte disso. Porque, senão, que prazer teria eu em deambular nessa inquietação, persistente e permanentemente? Nenhuma! E acabaria comigo nesse mesmo instante, pois aqui nada me prende. E ainda que sejam épocas de mais alegria, e mesmo que eu, por agora, engane a minha consciência, (Mesmo consciente do que estou a ocultar à minha consciência) Não pertenço aqui; sinto-me sempre desolado, onde quer que vá… Sinto sempre aquela tristeza amarga, seca, cismática, dolorosa… Álvaro Machado - 01:54 – 25-12-2013

A indecisão

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A noite despe-me a alma. O sino da igreja faz-me perder os sentidos... E o vento e a chuva e a solidão Faz derrocar as árvores da minha vida. Tão só nas indecisões, nos momentos, no sentimento Que o barco que hoje carrego leva-me A conhecer o inferno de onde minha alma descansará. Mais ninguém se lembrará de quem fui... A noite faz-me crer num fim que é meu e sou meu - Gélido como tem que ser, triste como ninguém quer... E eu penso muito nisto enquanto me sento na noite entristecida Que embala a consciência de viver para a inconsciência do fim traçado... Acabarei como comecei. Álvaro Machado - 21:54 - 23-12-2013

Ao mar.

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O mar que leva, Nunca mais traz. Volta as costas aos homens E no fundo do mar É onde o corpo jaz. Levou muitos, Trouxe sempre poucos. Arrastou-os Com furacões loucos, E à tona iam as mãos desaparecendo E os homens morrendo… O mar que leva E que traz, Um novo herói aclama: Um homem nobre e audaz, De Portugal forasteiro. Defrontou o mar, chegou inteiro. Álvaro Machado – 19:59 – 21-12-2013

Louvados ensinamentos

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Quer o Senhor que o homem Não trave batalhas, não se esvaia em sangue, não tenha dor, Porque a vida foi construída com o ideal de paz e amor, Não de ódio e de sofrimento. Quer que nos amemos, Que colhamos o fruto das árvores, lavremos a terra juntos. E assim, felicidade haveria, porque seríamos todos iguais, Sem a cobiça defronte dos nos olhos. Mas já lá vão muitos anos desde o pregador. Já se travaram batalhas sangrentas pelo egoísmo de um qualquer imperador, Já muitas vidas foram tiradas sem justiça, Já as mulheres em vão rezaram para os filhos não partirem, Quando, tempos depois, aparecia o mensageiro Como quem é o que carrega a notícia de morte. Depois as lágrimas, os gritos sufocados de desespero... o filho partira cedo demais... Qual é o Senhor que prega a paz, mas que, no seu mundo, Tem gládios, cobiça desmedida, morte como meio para atingir o sonho? O homem é o produto inacabado e indesejado pela natureza. Paz? Nunca existiu. Álvaro Machado - 17:20 -

Cru.

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Não entendo o que penso, Porque sinto uma inércia em viver, em sentir, em querer manter-me aqui. Às vezes acho errado o meu começo, não mereço. Mereço apenas o fim, acabar, desaparecer, esfriar... Não quero sentir-me mais, não quero pensar no futuro que não será meu, No passado que me destruiu, no presente que me desespera... O horizonte que há muito é, para mim, apenas um sinal de que vou acabar... Há muito que o sol não doira nem a lua me cativa como dantes... Já não sei como era; acho que já fui feliz alguma vez... Mas agora o meu pensamento está maduro e não me deixa voltar a ser o que era - Que ele agora nitidamente vê o desgosto que me circunda, os maus sentimentos, que me abalam drasticamente... Tenho isto e não tenho mais nada. Recusei ser mais um, quis ser um doido que escreve e que sente O que a humanidade não vê. Álvaro Machado - 02:30 - 21-12-2013

A nova civilização

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Estou perplexo, sobre a janela que está no meio dos universos e da vida, Perplexo, mas compreensivo. Há-de surgir o outro lado, o tempo é infinito e o amor é eterno. - Não haverá matéria, só extensivos campos sem fim, cascatas calmas, ventos sublimes… Creio, assim, afincadamente: não pode ser só isto o expoente máximo da vida, Mas porque há-de ser ainda mais nobre, mais intensa, mais real do que a realidade desta. E eu creio nisto sem crer em nenhum deus. Enquanto estou perplexamente parado a contemplar o que me permitem contemplar (Que bem pode ser uma ilusão imposta não sei por quem…) Vejo, muito prontamente, o mistério que tem este universo. E estou entre ele e a humanidade, como se de uma alma perdida se tratasse, Para compreender a grandeza das pequenas coisas e recusar a cobiça… Encontro na solidão e na inércia – que é o sossego da minha alma – o refúgio, Que fecha os olhos ao mundo físico, ao mundo que tudo quer e nada tem, Para a minha passagem para o outro la

Escuridão-mar

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Têm-me levado para o fundo do mar Onde nada reluz e a alma pede perdão... Ficarei como esquecido no meio da escuridão Se daqui ninguém me tirar... Não adianta gritar. É o fim do mar... E até o sonho fica preso, sem se conseguir levantar, Porque está escuro e não consegue sonhar... (Mas... se eu soubesse do meu legado Não seria tão forte a dor... Se eu soubesse o que o meu eu antes tinha passado, O fim chegaria como coisa superior...) Cessou a maré, cessaram todos os barqueiros. O mar que agora existe encobre-se de névoa - E o sentimentos, as saudades, o tempo que voa, São tudo fundos de mar sombrios... Álvaro Machado - 19:25 - 20-12-2013

Factos

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Já o horizonte se tornou neblina Ainda não existiam saudades dos meus entes... Mas eu nunca tracei nenhum caminho. A vida intriga-me a toda a hora, leva-me para uma interrupção do tempo, Prende-me no limbo, dizendo que há um compasso de espera para ele chegar. E em volta destas fragilidades que inerentes estão ao coração destroçado, Não sei porquê, mas invadem-me praias com um som ensurdecedor, Oriundas de um submundo qualquer, Por de baixo de outro universo qualquer, Que continua a transcender o nível dos meus sonhos e a capacidade minha de os entender... Perco-me. É meu destino perder-me; não mais encontrar-me! Estado frenético, eis que me sinto, que, quando não sinto, sou um cadáver! Estado frenético, almejar o impossível, o eterno, os poderes dos deuses! O meu século não me permite ser livre, sair da rota é ser desvairado! Pois, que seja! Os versos, indo num ritmo acelerado, atónito, sem reconhecimento do próprio autor, Escrevendo sem pensar, pensar sem sentir, se

Marcha nocturna

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No submundo são queimadas, Sem nenhuma lamentação, As almas que, pelo senhor, são abençoadas E tornadas servas da escuridão. A viagem é ambígua, mar adentro, Com as hastes içadas ao alto do universo; Por onde iremos nós se o sentimento é disperso E o inferno fica ao nosso centro? Iremos até ao fim, até onde o destino nos levar. E em uma ponte defronte, por nós esperando, Está parado, dias e dias inteiros, o homem que vai guardando A passagem para quem quer acreditar que pode passar… Escutem, ao de leve da consciência, melodicamente, A chuva a cair… Será que realmente existimos? Pesemos a nossa alma: quem realmente se sente? Para onde vamos, de onde vimos? Álvaro Machado – 23:15 – 18-12-2013

A luz do caminho.

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Não se macem com coisas fúteis. Mais vale um bom momento vindo do nada, sem explicação, Do que uma varanda com vista para o resto exagerado da mansão, Com o oiro a cegar os olhos por ser tanto, tão repleto de coisas inúteis… A cobiça do homem é tão excessiva - Isso é quem nunca conheceu a liberdade. Porque não há mansão nem oiro que compre o prazer de ser livre, De poder gritar, bem alto, a maior loucura do nosso ser! (Uma vez, havia um homem. Um homem sinistro. Escrevia, sempre com o mesmo fato de seda, Numa biblioteca, ali, num submundo qualquer… A letra dele não era comum, era de um artista, De um artista que só Deus conhecia. Uma caligrafia grave, excêntrica, pura, genial, autêntica! Uma caligrafia que lembrara um músico clássico. Fluía como se a pessoa que ali estivesse fosse um Mozart ou um Beethoven.) Eu não quero oiro. Recuso uma mansão. O meu sonho fica numa dimensão Em que os sentimentos valem por si só. E não preciso de ninguém! Fico com a solidão!

Desfecho final

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Há uma tempestade fortíssima a Sul. Do meu quarto, pressinto-a e sei qual será o seu rumo. Virá em minha direcção, levará tudo à sua frente - Serão arrastados sentimentos para fora da região, Perder-se-ão pelo infinito do universo, deixará de sentir o coração… Encerro as janelas do quarto e cerro a cortina Para me fazer esquecer que algo trágico está próximo. As nuvens, ainda antes de eu desviar os olhos do horizonte, Escureceram de uma cor mais sombria do que o sombrio. E lembro-me que ficara numa inconsolável tristeza… Levou-me tudo. Tudo o que tinha me foi levado. E não tive força para reagir; eram as forças do destino a vencerem-me. Deus não existe. Porque, se existisse, havia aparecido naquele instante, Impedia que o amor fosse quebrado por uma tempestade, Impedia que a minha vida, a partir desse momento, passasse a não significar nada. E agora não há motivo nenhum no mundo inteiro que me faça crer. Não acredito em nada – senão na morte, senão que todos somos

Vazio

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Fecharam-se as janelas, as portas da cidade. As pessoas sucumbiram da rua. A luz que agora é névoa não tem felicidade E a verdade é dura e crua. Chegou o frio. A ponte não tem barqueiro que a queria navegar. Escorre-se uma saudade pelo rio Que não sei onde me está a levar... São muitas dúvidas, suspensas no céu aberto, Quando relembro um rosto, uma voz... Será Deus, será que no meu sonho o tenho descoberto Ou seremos só nós? Álvaro Machado - 23:50 - 11-12-2013

O que daí vem

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Vêm, ali ao fundo, imensas correntes Que me hão-de levar para o outro lado, Porto de todos os meus entes, Porto de tudo o que tenho sonhado... O sentimento está indefinido por agora. Sinto estar entre as marés distantes de amar a vida E os ventos fortes de querer estar de partida. Talvez seja a minha hora... Acenam-me e dão-me toda a esperança que um homem pode ter. Abrem o coração, deixam que ele sonhe com tudo o que quiser. Mas qual será o destino de amar Se eu sinto que me estou a afastar? Álvaro Machado - 22:32 - 11-12-2013