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A mostrar mensagens de maio, 2012

Anatomias estranhas

Pela face escarlate de anatomias estranhas Contemplava, estranhamente, algures no aduaneiro, Justificação para tantas façanhas! E em vão dei meu último suspiro Ela ria aquelas belas narrativas que lhe contava, Por não entender o sentido ela se desinteressava.... Enquanto isso, narrei novamente o nosso mar; Aí ela se pronunciara: «Fizeste-me pensar!» Paro e passo, embriagado, me relembrava. Nada daquilo existiu na forma que todos imaginamos O pôr-do-sol era um escuro desinteressante E toda aquela chama amorosa que sonhamos Não era senão repugnante. Nada que tu és, sou-o; este barco de vela está distante Afasta coração e razão. Não lembra nem a lembrar Ser-se assim tão repugnante, Mesmo se o não achar. Álvaro Machado - 19:57 - 31-05-2012

Vasta casa assombrada

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Entrei na vasta casa assombrada E via ao fundo do corredor Entre a névoa da fechadura cerrada Algum terror. De súbito, imaginei, algum mal Nas escadarias que ligavam ao pátio, Escutei a melodia infernal! Subterrânea mansão de lívidos esqueletos! Marinheiros, militares, bispos; dispostos no obscuro átrio, E um tanto de folhetos! Estava só e abandonado, Em choro que não transbordava, E nunca relembrado, Me recordava. Velhos tempos que nós vivemos sentados a uma esquina qualquer! Passeamos horas e horas rodeados num cheiro provocador E de um momento para outro senti-me verdadeiro sonhador Como outro qualquer! Tu eras, pelas alfândegas de Lisboa, a paixoneta de todo marinheiro Levantavas voo a águias, ilustravas tão bem a pesca! Ó bela do meu infeliz rotineiro, O teu ar me refresca! E ainda estipula a ciência exactidões, Mas não passam de falsas previsões. Sabê-lo-ás… este azul não segue, Falsas visões. Apenas se ergue, Às certas tentações… Álvaro Mach

Antepassado do mar

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Sofre, estático, antepassado invulgar, Pela estranha atmosfera me via erguer Ao pé do mar. Estava escuro e mal se ouvia as ondas onduladas soltarem grandes gemidos Aos que se julgavam perdidos. E. vacilante, pela costa recortada Ria numa longa e lenta risada Que me fazia desaparecer No farol defronte da praia já se faziam rondas Os estáticos e inúteis bradavam Os que por nunca ali passavam Fui dado como desaparecido Pela tempestade que ia sofrer Mas que nunca havia aparecido, Por desaparecer. Álvaro Machado - 22:47 - 29-05-2012

Saudade do sonho

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Falta estimo, vontade de confraternizar Faltam versos, palavras, para vivenciar. Meu estimulo perdera-se na lua isolada; Meu tempo foi vão na alma desolada. Todos vivem na plenitude das riquezas do Oriente Abrem lojas, cafés, pavimentos queimados! «Quem dera à vontade fazer esquecer pecados!» E o tempo, meu estimado, faz-me ausente... Desarticula-se-me os ritmos... as baladas! E já em esquecimento dou breves risadas! Mas já não falta nada. Nem a própria vontade, Se falta? Prolonga a chama, quase sufoca, O horizonte na linha que desfoca. E tudo que nós sonhamos verdadeiramente, Não foi senão o que nunca falamos; Já aproxima descontinuadamente, O que nunca sonhamos. Que saudade de tempos que não são tempos Do calor da noite fresca; do frio da manhã clara; Sei que são breves e alongados sofrimentos De uma alma que nunca pensara... Álvaro Machado - 22:30 -28-05-2012

Interior de vontades incertas

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Neste interior não há senão vontades incertas, Brisas que passam e arrepiam Na escuridão do quarto prolongado. E na queda do desespero julgo novas descobertas Abre-se-me janelas e percorro os rios do Sado Mas nunca sou relembrado. Cheguei ao desespero da alma, ao suicídio do corpo, Minhas vontades ja se não faziam, Já se não sentiam... Cafés desertados pelo dia santo; só a mulher feia, analfabeta, Ainda alegra a romaria deserta. Ela que é triste alegremente, faladora e jamais vai calar Apenas por não saber interiorizar Não raciocina aptidões! Nem tão pouco sabe o termo civilização! Busca a egoísta mulher um prodígio amor impossível Que dure para sempre no interior do seu coração Mas ei-la! Semblante empolado e inacessível! Ela não trabalha. Vive em suores alheios Percorre naquele olhar visões e balbucia Intrigas dos que passam e dos que vêm, Quase alucinara no que via Ela não morre. Erguera-se no jazigo Nunca a vi... Mas sinto vê-la Em território inimigo. Mas nunca ver perdê-la. Já f

Esqueço

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Dizem esquece. Eu esqueço, Sem realmente saber Faço esquecer Procuro as fraquezas, as anomalias Tu que és vento, que és a grande verdade, Tu me contrarias... Não entendo e apuro saber esta contrariedade! Elevo aos infinito o que não recordo, E enfraqueço! Mas não liguem ao que vos conto Não e não! Não leiam, não entendam! Só eu é que os afronto! Eles que me temam! Álvaro Machado - 14:57 - 25-05-2012

Desejo daquele cheiro

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Foi breve o desejo daquele cheiro Enquanto entrava pela porta da natureza, E por momentos esquecia todo o dinheiro Em troca daquela pureza! Ia, no caminho prolongado, Encontrar-me com o velho senhor Escondido entre ramos... isolado, Triste sem dor. Falámos varias horas da vida, da morte, do infinito, Tudo que não se falara. E por momentos sorriu Sua face incolor reluziu Pelo que havia dito. E ali ficámos... Sós e isolados em grandes conversas Chorando, rindo, resmungando, E por vezes às desavenças, Lá íamos concordando... A natureza e o velho eram um belo espectáculo de contemplar! Falavam um com o outro ao som do vento... Não consegui parar de pensar, Porquê aquele sofrimento? No fundo se era feliz à chuva do desejo, ao calor do prazer! Ele sabia-o. Sei que sim... Tinha consciência de saber viver! Já na noite que caíra, soube, que ele sem mim, Era feliz. Esquecera a alma humana pelo prazer, E com a natureza viver! Álvaro Machado - 21:04 - 24-05-201

Tudo se desmorenou

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Tudo foi, tudo se desmoronou, Incidiu sobre a humanidade Forte luz que passou Em vaga obscuridade. Os que vejo deixam-me cego, Na falta de força para lutar. Assim, elevo o meu ego, Pela falta de acreditar E, ainda com ideais, elevam-se Novos muros, vontades novas, Agitam-se multidões; pintam-se, Berrantes tons em alcovas Mas tudo isto vale a pena? Não somos senão homens e mulheres, Simples carnes iluminadas em mentes E nada vale a pena... Álvaro Machado - 19:44 - 23-05-2012

Luz matinal

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Vem à janela da plena cidade a matinal luz solar, Breve campo triste e vago sem o recordar. Os barulhos param e torna-se sórdido por sua vez Trabalhos e esforços e suor camponês Brilha, assim, pela electricidade Toda a volúpia; toda a virtude. E o céu rejuvenesce plenitude, Perfurando luminosidade E à brisa do que não é mar se movem Largas correrias, breves momentos, Passados por um só homem Sofredor de sofrimentos Ele que chora lágrimas secas - impenetráveis, desinteressantes e não-sentidas... Esquece. E insiste, Futuro de que não existe. Sobe a temperatura: enche-se a esplanada Vêm as belas altivas ao calor, Abrasador. Tanto que doí a sensação desincorporada Que solto um breve suspiro sem saber Por raio escrever... Álvaro Machado - 14:55 - 23-05-2012

Autêntico sem autenticidade

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Tornaram-me tão autêntico que perdia a identidade E sabe-lo-ás porquê. Deixei a intensidade... abracei a autenticidade De ser sem saber bem porquê. O mundo que vejo não é senão o que não quero ver, Viver ou sentir. Apenas choro a vontade do mundo Sem que ele verdadeiramente exista; sinto-me aperceber Não valer a pena viver. E na jornada chuvosa do meu interior Caiu em direcção ao fundo, De alguém superior. O vento move, o céu precipita, a cantiga fantasia E tudo é, tudo foi, tudo será, em vão, Em demasia... Álvaro Machado - 22:15 - 22-05-2012

Cativo que já não é mansão

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Doce cativo rodeado na orquídea à beira mar Me brilha a vontade; me lança de novo À vontade de ter futuro... à vontade de imaginar Um presente sem ser novo Fortaleza do palácio invadido, Esbelta a grandiosidade das plantas; Mas todo o seu cheiro e esplendor fica esquecido, Ao relento de outras tantas. Solta-se poeira no ar. Solta-se um breve suspiro E todo o calor absorve, O que já não respiro. Os passeios esboçados mexem, A praça deserta... Há hora que enchem, Meu coração desperta... E no meio de todo o clima: nascem orquídeas na velha fortaleza, Esquecida pelos que não sentem Toda sua beleza E só no ultimo suspiro se lembram A meio caminho em direcção Aquilo que já não é mansão... Álvaro Machado - 19:44 - 22-05-2012

Viva! Viva! Viva!

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Viva! Viva! Viva! Já não sei quem sou! Como o tempo passou, Já não sei por onde vou. Corro, entristeço, esqueço, a grande infância Mas não choro. Nunca se solta a lágrima Da coisa que só se conhece à distância E nunca se vive senão em falso clima Falo mas não oiço de verdade o que me dizem Por não conseguir ser assim... Nunca chorei O que nunca tive nem o que nunca terei E assim sou... Perdi a dor pela própria dor, Cheguei ao fundo sem saber o meu destino. Pareça o que parecer nunca serei digno Da verdadeira dor. Álvaro Machado - 19:50 - 21-05-2012

Sem formas

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Não se transcreve o que se sente Não se idealiza um ideal Apenas de forma usual Se mente. Andam pela rua altivos inconstantes, Mexem a sua fortuna e fazem transparecer Reluzentes diamantes Sem querer. Mas tudo isto é nada. Perco-me a escrever Minha alma não tem alguém Tem no seu parecer O ninguém. Álvaro Machado - 12:41 - 20-05-2012

Não existo

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Tu que sabes que não existo, Porque continuas a me falar? Saberás porque insisto Deixa-me a pensar. Penso e chego mesmo a julgar Que verdadeiramente estava A pensar. Mas logo de seguida pensava Que só fora impressão Não tinha expressão. Por isso te nego versos Estrofes, ideias, alegrias Por falta de as ter - momentos controversos - Acabo por ter manias... E não existo Por isto. Álvaro Machado - 15:28 - 19-05-2012

Ergo-me da poltrona

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São agora nove da manhã e ergo-me da poltrona Velha, modesta, luxuosa. E viajo não no meu coração Mas no meu pensamento derivado da razão Encontrei o vão... Fascinar? Para fascinar basta passear ao relento Esfriar junto dum lugar onde passe o vento E se oiça a peculiaridade na natureza Esperando, sempre, a surpresa... Assim chego a este eterno no fundo do céu E vi entra a nuvem e o Sol a intriga do distanciamento Padecia náusea e dor e lamento, Quando ela lhe tirou o véu, Esqueci o céu. Na terra ouvia ao fundo a água escorrer Sem haver água. E escorria na fonte O seu belo e delicado mover Enquanto atravessava a ponte Nunca me senti tão só como aquele momento: Senti ver tudo em sintonia, menos eu, sem conhecimento Das sábias bíblias que uns lêem na sua poltrona Sem sentirem o sentimento. De repente, sem querer Começa a chover. Correm, lentos, alguns transeuntes Da chuva que sem parar humedece os montes Não consegui prever. Álvaro Machado - 12:31 - 19-

Sorriso entra a praça

Entrava para a sala de jantar Sem que desse conta E via longe à porta Um sorriso se rasgar Mas a imagem enfraquecia quando terminava O saboroso jantar num autêntico sabor que combinava Com a longa face esbranquiçada E a sua voz arqueada Cessava a névoa dentro do restaurante Não dei conta. Até que veio algo em minha direcção Assim como um raio que me atingiu a visão Chegando em andar triunfante Não sei se loira ou morena, talvez nenhuma; Acabara-se o jantar e cessara o violino Em toda a praça. Ainda digno Sentia o cheiro do tabaco que fuma Defronte os comerciantes não vendiam As grandes peripécias... e sentiam A clientela fugir para fora Daquela bela cidade d'outrora Ainda assim a velha Maria estendia As cores do seu país do seu coração Hasteando a bandeira enquanto vendia A fruta à nação! E eu assim não sou, O vento passou. Vou com ele para lugar incerto Em busca de destino decerto... Álvaro Machado - 21:19 - 17-05-2012

Três da manhã

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Fui o único a despertar, À sombra da madrugada. E o barulho fizera-se desertar Na penumbra da janela fechada No meu triste sobretudo lanço um vasto olhar, Pela cidade fora. Não há viva alma acordada Só inda estão os que têm falta dela - os pobres - a chorar A doença indesejada! Estou pálido e tonto num devaneio físico Há dias que ando assim, Radiante e tísico Há espera de algo sem fim... E já em queda, vacilante; Fui o único a afugentar Em passo rápido e desconcertante Sem que me visse despertar... Álvaro Machado - 03:35 - 16-05-2012

Destacado para o exílio

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Correram águas de Portugal... Correram ventos frios da terra... Meu coração provençal... Lembrara a rainha de Inglaterra... Ela que de bela tinha tudo Com uma prontidão e arte Ripostou num aparte Deixando o sonho mudo Assim... A água separou-se do vento, Nascendo e morrendo a cultura portuguesa; E nada alcança o actual pressentimento Na lembrança que lembrei à Condessa «Ó bela condessa, correcta rainha, minha majestade! «É-lo só para mim... Partilhar-me-ás com alguém mais? «Paz minha alma ao ver que duras para além da eternidade «Sim tu... Rainha dos demais!» Mas de repente, espero que me entendais Fui forçado ao exílio; procurei ideais melhorados Fugi. Por entre os muros quebrados, Aos inúteis regimes ditatoriais Progride, em passo rápido, o valor da infelicidade Onde só há tempo para belas moradias E já lá vão os tempos das intimas romarias Onde eu ia em busca de felicidade Passa o tempo... Meu amigo Quartermain... Partira o barco a vapor sem nós, Deixando a bagagem a sós; Longe de

Palavra que doí só de ouvir

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Ia, pelo campo adentro, bela rola a cantar Assemelhado-se a um belo cântaro partido Que fez o povo da terra delirar Com um breve gemido O campo quente, fértil e coberto de belas flores Passava tristes dias que mais pareciam horrores Até nas margens do rio se via o distante sol Acompanhando a melodia do rouxinol «E quem será este rouxinol?» Um isolado Na triste multidão, Que havia privado Em troca duma vasta solidão Verde... Verde campo cheio de natureza Sentia tristeza só de ouvir A palavra que dói ao invés da pureza Criou, coitado, o jazigo d'mártir Partiu a vasta multidão de rouxinóis E o campo fazia lembrar um ventre Conversando à rola e ao rouxinol que, cobertos em lençóis Fizeram acreditar ao campo ficarem juntos para sempre E inda agora enquanto estava a escrever Encontrei olhares de alguém Belo ainda... Que fez transparecer Que sou o ninguém. Aqueles olhos, ardentes Fizeram Descartes Pensar que a razão Advinha do coração Mas não sabia ele, confundido estou certo Que o amor

Sóis em vida

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Sentado sobre a mesa, descontraído Circulava em grande tremor Dizendo estar destruído Ao vento... ao calor... Suspirei à vida pela vegetação Não vivo, sobrevivo Esforçando a imaginação Ao sonho altivo... São rouxinóis que prolongam cânticos São árvores que mudam a postura ao vento São sóis que brilham semânticos Em busca da razão para este tormento! Mas vós que me ouvis, percebeis o horizonte Chamar pelo meu nome. E não vou Pois detesto que gente me afronte Pelo que não sou! Álvaro Machado - 19:17 - 13-05-2012

Falsa saudação

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Não me conhecem e dizem "boa tarde" Assim como antigamente uns bradavam (Falsos) por vossa majestade Com quem nunca falavam. Agora dizem-me tal qual estas palavras Mudam apenas sílabas e outras metáforas Mas a mensagem no fundo continua a ser Hipocrisia a valer Não me conhecem e dizem "boa noite" Faço de conta. Não respondo E continuo a pensar à noite O que não vou supondo Voltando ao antigamente, eles só diziam Palavras pela boca fora Ignóbeis que mentiam Em má hora. Álvaro Machado - 19:30 - 12-05-2012

Arrogância intelectual

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  Um intelectual julga ser Único verdadeiro inspirador De paisagens que diz viver Sem verdadeiramente as conhecer Intitula-se de grande sonhador Pela razão fúnebre e estéril De não ser mais do que um servil Pensador. E chega a ser ganância Achar que tem talento E parte numa fragrância Coberta de abatimento Somos assim... Nós intelectuais... Porque não somos, nem nunca fomos, Homens e mulheres normais. Evidenciamos - e a ciência sabe-o - que nossos átomos Reluzem no torpor da tília, exaltam o alabastro À navegação com o nosso Portugal ao mastro! Álvaro Machado - 14:09 - 12-05-2012

Vácuo horário

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Todos dormem, sem pensar, inocentes! Ladrão, assassino, artista, doutor, Tudo se desmaterializa em noites De tanta dor. Os que dormem, enfim! Sabem que a vida tem fim No cais em porto inexistente, Cheirar-se-ia mar d'antigamente. Não sabeis, pois, Decretos de Jerusalém Nem nada mais sois, Do que almas do além. De repente, o vento muda a direcção E esqueço-me de dormir Pregado à concorrência de sentir Algo na penumbra, na escuridão Já não te sinto minha oração... São horas infernais, minutos de vácuo Neste ser corporal Estranho pelo lado do mal Tornara-me fátuo... Sabereis, para quem não dorme, Contemplar a rua de noite Toda ela disforme Pela sombra do açoite. Não, vocês nada sabem disto, Dizem-se sabedores de belas revistas, Que no fundo só dão nas vistas E nada sabem sobre isto! Ele dorme, a meu lado; ela dorme lá ao fundo Num canto que não existe, esquecida Triste e desvanecida Pelo impasse profundo Cortinados que arrefecem Ao final d

Entre um diálogo

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Estou preso a um quarto Desprendido de paredes, distanciado Na natureza que havia sonhado Cobri-me, esfriado, num manto Que vida! Ó desconsolo Perdido num canto... E vou pela rua fora em dignas figuras Eles riem. Não sabem sentir, Neste século em que tudo está para vir Na mármore de edifícios desbotados Nas frias e tristes ruas Cruzava-me com raros sobre-dotados A um, perguntei-lhe, se havia sentido no mundo Respondeu-me «que viver é morrer» Pois «cego é aquele que não quer ver» Começara a chover, no edifício fazia calor Fiquei à conversa com um de tantos Um tal sonhador A sua voz, enfraquecida, Acabara de ser esquecida Cambaleada de rastos O sonhador acendeu o cachimbo e filosofou: «Deus existe senhor?» Dito isto. Ele me tocou. Não soube responder Mas senti aquela dor Porém, pela noite fora me fizera esquecer... Fel passo, que dou, pela margem Que é tão curto, tão sonoro Casa inútil onde moro Em longínqua paisagem! Álvaro Machado - 20:10 -1

Angústia de viver

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Não quer parecer ser Mudança  na acção climatérica Não quer parecer viver Numa náusea histérica. Barco que habito entre ilhas, Costura sedas impenetráveis Porém, o mar inda acha penetráveis, Falhas. E dá tamanha angústia estar entre Rodeado por... Erro d'ventre, Certeza de dor... Álvaro Machado - 18:48 - 10-05-2012

Escrito ao luar

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Para ti escrevo ao luar, Falando em ocasiões de dor. Não, não vou desertar, Meu amor. Desaparece outrem, venho eu próprio, Sim... estou sóbrio, No contente leito Do meu jeito. Mas é por alguém como você Cá o mundo resiste! E por alguém como eu - à sua mercê; Nunca desiste! Álvaro Machado - 19:00 - 06-05-2012

Obscuro Domingo

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Vida que nada vales, Dia que nada és, Domingo de males, Tu o és. Espero que compreendas, O que te digo entre metáforas, Abandonas-te em nome de velhas lendas, Novas diáforas. Dia que não vivo É no meu ser, Algo sem acontecer. Se vivo! Não somos, não existimos Somos catástrofes em progressão Diferentes masoquismos! De volta ao apagão... Alberto de Régio - 15:39 - 06-05-2012

Floresta alheia

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Névoa floresta alheia, Cheia de cheiros e sensações, Causando esquisitas impressões, Na lagoa de Medeia. Formosas plantas em sóis amarelados Choravam, alegremente, a orquídea Despedaçada sem rédea Pelas raízes encurraladas. O seu camarim interior sonhou o teatro d'vida Imparcial à floresta, Numa longa ida, E nada lhe resta... E as silvas, solitárias, riam Daquilo que viam Seu ego em demasia, Deslocavas-as à fantasia. Álvaro Machado - 22:13 - 04-05-2012

A jornada no café

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Durante a jornada no café Debate-se sem certezas, A origem da fé. A mais velha, a Maria, Começa a narrar, A sua noite a rezar. E vira-se das avessas Esta ignóbil a comungar, Com um Deus em que acreditaria... Rezava, trémula, o Destino de seus filhos Tudo o resto era opressão, De feliz sensação. O povo na rua ia de cabisbaixo Uns falavam entre si d'um rastilho Em timbre baixo. Tanta loucura dos não loucos Alguns quase roucos Gritavam pela vida, pelos seus, Ignoto Deus... Álvaro Machado - 21:18 - 04-05-2012

Donzela

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Ouve que eu não sei Levanta-te e vem, Comigo ao além. Sente que eu não sinto, Apenas me lembrei. Deste interior... Meu Jacinto! Vê-me. Esquece-me. Nada mereço Pela manhã desapareço, E ainda me vêm cantar Sílabas sem rimar Só por ti! Mas eu não ouvi! Meu amor, minha tragédia, Não sou senão comédia... Tudo é nada, e eu sou-o Lembra-te da tua voz firme Quando lancei um riso irónico, Tu troças-te da graceta: «Eu rir-me?» Dizias superior num tom supersónico! Hoje a brisa acalmou... Pois minha alma pronunciou, O fim da sua vida corporal. E o meu timbre vacilou: «Adeus, triste informal, Que foste tudo de mal!» Álvaro Machado - 19-48 - 03-05-2012

Bato à porta

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Bato à porta. Não entro. Apesar de precipitado a entrar, O gelo das veias impede o sangue de circular, E não entro. Convivem na margem a chover Filósofos e poetas de bem parecer «A metafísica é devaneio de Zeus» Dialogava, Platão e Pessoa, aos seus Impulsiono-me para a janela. Não abro. E medito num ermo de dores, Em direcção oposta a Cântabro Imagens de grandes amores. Mas neste presento vivo o sonho antigo De forma turbulenta. E o grande major, Levou sobre nos a melhor. Em sequência! Vi ricos sem abrigo, Implorando um amigo, Que os escutasse. Sem que a fome os maltratasse. Fito o telhado. Não olho. E transparece bela a floresta, Que é única visão que me resta! Cai, leve, o folho, Quase ambíguo à catástrofe No interior recolho Esta disforme estrofe... Ó breve sonolência, Recordas-me a memória; dás-me o tédio, Inacabado pela essência D'um breve episódio. Aproximo a mão ao ventre. É falso. De pressa me levam; eu lentamente; Sou empurrado para o cadafalso Desaparecendo eternamente!

Triste campo alegre

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Só de pensar, tristemente, no campo alegre Que fora outrora... Mas agora caiu em tentação, E os pobres contagiados pela febre, Deixam-se levar no cheiro da vegetação! Dois deles, no meio de tantos, iam verdes, Mais verdes que o áspero campo cercado Pela infinidade voluptuosa de febris redes! Mas enfim... É sensação d'acercado. Que pensamento! Rouco, transeunte, hipócrita E desabafo para longe desta órbita! De repente, a população, assistindo ao espectáculo, Desiste. Cede ao finito obstáculo! O momento que não esperamos, esperamo-lo toda a vida. Acercamo-nos dele sem o sentir perto de nós Mas sentimo-lo na doçura da sua voz... Perto, longo, é vida... Álvaro Machado - 19:47 - 30-04-2012