Bato à porta
Bato à porta. Não entro.
Apesar de precipitado a entrar,
O gelo das veias impede o sangue de circular,
E não entro.
Convivem na margem a chover
Filósofos e poetas de bem parecer
«A metafísica é devaneio de Zeus»
Dialogava, Platão e Pessoa, aos seus
Impulsiono-me para a janela. Não abro.
E medito num ermo de dores,
Em direcção oposta a Cântabro
Imagens de grandes amores.
Mas neste presento vivo o sonho antigo
De forma turbulenta. E o grande major,
Levou sobre nos a melhor.
Em sequência! Vi ricos sem abrigo,
Implorando um amigo,
Que os escutasse.
Sem que a fome os maltratasse.
Fito o telhado. Não olho.
E transparece bela a floresta,
Que é única visão que me resta!
Cai, leve, o folho,
Quase ambíguo à catástrofe
No interior recolho
Esta disforme estrofe...
Ó breve sonolência,
Recordas-me a memória; dás-me o tédio,
Inacabado pela essência
D'um breve episódio.
Aproximo a mão ao ventre. É falso.
De pressa me levam; eu lentamente;
Sou empurrado para o cadafalso
Desaparecendo eternamente!
Álvaro Machado - 15:32 - 01-05-2012
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