Entre um diálogo


Estou preso a um quarto
Desprendido de paredes, distanciado
Na natureza que havia sonhado

Cobri-me, esfriado, num manto
Que vida! Ó desconsolo
Perdido num canto...

E vou pela rua fora em dignas figuras
Eles riem. Não sabem sentir,
Neste século em que tudo está para vir

Na mármore de edifícios desbotados
Nas frias e tristes ruas
Cruzava-me com raros sobre-dotados

A um, perguntei-lhe, se havia sentido no mundo
Respondeu-me «que viver é morrer»
Pois «cego é aquele que não quer ver»

Começara a chover, no edifício fazia calor
Fiquei à conversa com um de tantos
Um tal sonhador

A sua voz, enfraquecida,
Acabara de ser esquecida
Cambaleada de rastos

O sonhador acendeu o cachimbo e filosofou:
«Deus existe senhor?»
Dito isto. Ele me tocou.

Não soube responder
Mas senti aquela dor
Porém, pela noite fora me fizera esquecer...

Fel passo, que dou, pela margem
Que é tão curto, tão sonoro
Casa inútil onde moro
Em longínqua paisagem!

Álvaro Machado - 20:10 -11-05-2012

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