Vácuo horário

Todos dormem, sem pensar, inocentes!
Ladrão, assassino, artista, doutor,
Tudo se desmaterializa em noites
De tanta dor.

Os que dormem, enfim!
Sabem que a vida tem fim
No cais em porto inexistente,
Cheirar-se-ia mar d'antigamente.

Não sabeis, pois,
Decretos de Jerusalém
Nem nada mais sois,
Do que almas do além.

De repente, o vento muda a direcção
E esqueço-me de dormir
Pregado à concorrência de sentir
Algo na penumbra, na escuridão
Já não te sinto minha oração...

São horas infernais, minutos de vácuo
Neste ser corporal
Estranho pelo lado do mal
Tornara-me fátuo...

Sabereis, para quem não dorme,
Contemplar a rua de noite
Toda ela disforme
Pela sombra do açoite.

Não, vocês nada sabem disto,
Dizem-se sabedores de belas revistas,
Que no fundo só dão nas vistas
E nada sabem sobre isto!

Ele dorme, a meu lado; ela dorme lá ao fundo
Num canto que não existe, esquecida
Triste e desvanecida
Pelo impasse profundo

Cortinados que arrefecem
Ao final do dia
E pela manhã esquecem
Corajosa cobardia!

Já o vento se volta
E este impulso
Desenvolto num percurso
Onde não há reviravolta..

E já, neste devaneio, durmo
Ao relento desolado, embriagado
Por este vento nunca ter achado
Este meu ser desencontrado...
Álvaro Machado - 03:51 - 12-05-2012
 

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