De um terraço…
Estão nuvens cerradas,
o dia é cinzento e chuvoso.
Para que hei-de então
voltar a vê-lo da janela
De onde se concebem
todos os meus sonhos
Se eu me sinto triste
se voltar a estar lá?...
Fico estagnado, com as
mãos por dentro do meu sobretudo,
A olhar para o
horizonte defronte, frio e tão triste,
E por entre todos
universos que fui criando, sempre muito dispersos e irreais, até que penso:
«És tão dolorosa.
Dói-me que sejamos todos tão distantes de ti!»
Com o coração eu
consigo alcançar-me até à varanda do outro quarto,
De onde a vida se toma
por sublime,
E consigo, sozinho, perscrutar
a voz do Diabo ao fundo da minha alma:
«Peço-te: esquece
tudo; deixa-te ir na perdição. Senão, o que é isto?»
Mas lembro-me
perfeitamente que estava a sonhar, havia adormecido no terraço.
No meu sonho tu
morreste, sabias? Morreste e eu senti suores frios; amo a humanidade!
E penso agora porque
todos nos questionámos, penso agora porque nada sabemos de nada…
E ao pensar isso, dou um trago de whisky velho
para ter absoluta consciência que hei-de morrer também.
Ah! Eu sei disso… Não
tenho a maneira correcta de agir, nem de pensar e muito menos de viver…
Quem quer, afinal,
alguém que se inquieta com um universo interior que lhe é alheio
E tem sentimentos de
distância com a própria alma?
Quem ousa – ousar,
sim! – ter como seu caminho a própria destruição porque viver não vale a pena?
Viver dói-me. Não sei
nada – não sei, então, por que vivo, por quem vivo, por que estou aqui!
Que raiva. Que cismo
embriagado que detenho dentro de mim por isto!
E quando me volto para
a janela, de novo, vejo-os a todos, serpentes do abismo,
Devorando-se umas às
outras, porque assim é a lei natural da vida: vence o mais forte.
Tudo uma mistura
atónita de gentes vindas de não sei onde, nem a que propósito.
Quem criou isto foste
tu? Sentes-te divino por isso? Olha que não fizeste mais nada
A não ser criar uma
destrutiva criatura em diversos lugar, uns dispersos, outros não…
E nós prestamos-te
devoção por isso…
Pouco a pouco vem sol.
E eu saio do quarto, venho cá fora.
Tão vasto universo,
tão vastas as minhas perguntas, tanta vastidão em tudo!
E eu tão pequeno… tão
só em um mar perdido…
Chegou a hora de
acordar.
Álvaro Machado- 14:48 – 24-11-2013
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