Mensagens

A mostrar mensagens de 2015

Dias assim

Imagem
Ao bater suave da chuva no chão lentamente fui desintegrado desse nó que se me dava um arranhão tremendo no fado Saía-me da voz trémula o crer pleno e imbuído de certeza na verdade que fazia por ter em uma pequena luz acessa Mas a chuva depressa intensificou e as ruas imensas em mim o brilho se lhes depressa cessou E onde via esperança passou p'ra lugar sombrio assim como o coração que nada encontrou Álvaro Machado - 01:17 - 17-12-2015

Casas onde não trago memória

Imagem
Casas onde não trago memória fizeram de mim esta lembrança que hoje sou... Toda a vontade de querer se tornou inglória, de mim se me distanciou... Aquele calor vindo de ternura de mim não resta hoje sinal senão o de dor sem cura E aqueles sorrisos, aquelas gargalhadas, Onde os pensei reais e verdadeiros Não passaram de projecções falhadas!.. Essa vida onde, por sorte e infortúnio, havia sobrevivido? Não queiras uma; o sol jamais cobria meu semblante, as ruas tornavam-se naquilo p'ra que tinha desaparecido, e eu deixei-me ir, desvairado deambulante... Álvaro Machado - 22:21 - 12-12-2015

Naus à escuridão

Imagem
Queria que todas naus começassem a navegar... Que cidades inteiras - todas as luzes - sucumbissem E mergulhássemos em plena escuridão... Os lobos viriam das montanhas e os sinos alarmar-nos-iam - Também se vive lá no cimo!... Fossemos todos a mesma nau e a mesma viagem, Sem que a luz iluminasse a não ser em nós mesmos, E o medo que paira sobre o ar pesado do nosso quotidiano, As dúvidas, as preces, tudo isso Seria nada no porvir!... Tenho receio que isto seja apenas uma alucinação Do meu interior nefasto e torpe... E tenho por tantas incertezas o naufrágio desta nau no pensar Que me dói a alma, e se as águas agitam, pelo pouco que seja, Especulo tão-só!... Deus meu, não pode afinal o universo ser como eu quero? Porquê? Porque mo atiras tão cruelmente para o precipício de um poema? Creio que talvez, ou talvez não, quem sabe!, nunca vais ouvir tamanha confissão Nem escutar devidamente o pobre coitado que desespera, vão e inútil, Por uma breve certeza!... Álvaro Machado - 23:04 - 07...

Projecção de um nefasto subsistir

Imagem
Julgo que sou. Não sei se realmente sou. Julgando-me posso não ser, Sendo outro que não este. Como tudo na vida e que existe - física, mental ou oniricamente -  Pode correr como julgámos correr e existir E assim ser para nós. Pode até nada ser disso que supomos Como real e despido de projecções ridículas e irreais; Pode ser, quem sabe, a vida uma roda gigante e nós sermos Movimento contra movimento. Ser e supor chega-nos às mãos repentinamente: quando nascemos, sem consciência. Depois, remetendo-o para o tempo, o nosso tempo, Haveremos de nada ser, então? Álvaro Machado -17:05 - 22-11-2015

Decapitação solene

Imagem
Do cimo, não sei, perto do cimo, não, nada disso! Qualquer cousa, ali, acolá, mas no cimo não quero! Oiçam, calem-se, mexam-se; a cidade saí p'ra rua não saindo! Entontecido, enternecido, quieto, fiel à morte, mas nunca vivo! Se me revolto, já não me revolto, tudo quis e agora nada mais... Parem! Dai-me a decapitação, senhores! Só eu é que vejo, não, não acredito!  Álvaro Machado - 03h06 - 17-11-2015

Álvaro Machado - Falemos de casas (Herberto Helder)

Imagem
Aqui fica um poema novo no meu canal no youtube. Espero que gostem, fico à espera de feedback. Um abraço para todos vós, que me seguem. Obrigado. Álvaro Machado - 16:05 - 15-11-2015

Deserto do eu

Imagem
De um deserto imenso onde o que nos vem de frente é nulo e a esperança se perde no passar uma pequena poeira levanta. Contemplo cheio de fervor o trajecto que ela leva, incoerente no arado onde vai, p'ra o indefinido da alma... E achei que fosse tão fácil quanto esta poeira no levantar o encontrar-me, o conhecer-me, o saber-me quem sou... Álvaro Machado - 22:04 - 14-11-2015

desabafos

Imagem
soa no ar distante e frio quase um pesar de derrota, de fracasso. no horizonte é noite, e névoa, e as forças do universo por mim se propagam em alta intensidade... o que disso penso? sobre o chão frio a morte é o que sinto mais... mais que isso soa-me como um quase sentir, um quase chegar sem nunca chegar... é alto o inverno que trago ao peito (o volante da ode marítima em meu redor gira) mas a lei da vida, essa, não sei se a aceito. reconforto-me, porém, com essa consciência, desse que em mim se diz imperfeito, de um sublime fracasso ser. Álvaro Machado - 04:07 - 12-11-2015

Manto de dor

Imagem
É tudo vento - e vento é coisa desinteressada. Para quê névoa tamanha na estrada, Se o único que tem lamento É doido e não sabe nada? Ninguém vê lugar nenhum defronte - vê o vento, e é cego e mudo e inexistente. Mas por que se hão-de importar com quem sente? Interessa é saúde e não quem confronte, É só comum o torpe que mente. E é assim, e é assim por isso, Que sofro eu tanto. Cobre-se o homem desse manto E nele é como feitiço: Engana e trai e nunca tivera encanto. Álvaro Machado - 01h59 - 10-11-2015

Turva impressão

Imagem
Sórdido e desolado Numa turva impressão Fico como que acabado Ou somente com essa sensação. Por entre a chuva sentindo Ou nem sentindo coisa nenhuma Sou uma aragem indo, Isto se fui coisa alguma. Mas já que a morte é certa, E deus uma desconhecida verdade, Que esteja sempre minha consciência aberta De essência e inerte saudade.. Álvaro Machado - 18h48 - 08-11-2015

Viagem no sonho

Imagem
Ébriamente sonho. E esqueço-me de ser. Serei um sentir enfadonho Cansado de sobreviver? Especulo sobre os deuses, Dizem-me de louco nos arredores. Queira eu mais nuances Da vida restam só sofredores. Distúrbio complexo e psíquico De onda em onda remando O meu amor metafísico É eterno comigo ao comando. Mas paro. Querer? Ah, mesmo no querendo já Se me destrono de vencer Esse remar na orla vã.. Álvaro Machado - 03:17 - 01-11-2015

Herege sóbrio

Imagem
Os pequenos passos que dou Num obscuro ir se me pesam; Parece que de mim não sou E os sonhos se me cessam... O breve respirar defronte É já o universo inteiro a pesar; Vã e solene, feliz que encontre, A vida sóbria sem se embriagar... Dize o mestre aos estatuários da poesia, Aos que lhe corrói o lento deambular, Que alto é quem se revê na heresia De nunca em si acreditar... Álvaro Machado - 12h41 - 31-10-2015

Onda do desassossego

Imagem
Cada som que vem da onda vinda do mar é de um soar de ninguém, de um nunca encontrar. Vem e regressa nesse instante - esse soar que depressa o é frio e distante. Mas então porque tu vens encontrar-me na orla da vida? Pensei que de tantas ondas que tens, tivesses a minha por esquecida!... Álvaro Machado - 14h18 - 21.10.2015

Rua da alma

Imagem
Soar completo numa das ruas da alma, Vaguear nela como que se o sentimento Fosse de uma plenitude exacta, Além-chuva. (Começa a chover...) E nesse soar eu não sou mais Que um homem sozinho, feito para ser esquecido, Nunca para ser relembrado. Como dói estar à chuva. Como pesa estar sentado num banco de jardim A vê-los felizes, indo ora à frente, ora atrás, Ora rodopiando de mãos entrelaçadas... E eu aqui, na intermitência do tempo e da morte, Preso ao sonho fugaz de uma vida inútil e infame... Onde meus passos, em tempo, soaram plenitude E não foram senão solidão iminente. Álvaro Machado - 16:54 - 11-10-2015

Êxtase inócuo

Imagem
Às escuras - pleno e só - Onde a onda vem erradamente Escorre a mágoa, e o breve espaço é Monótono e indiferente. Não hei-de querer nada. Querer é uma intima cobardia. Essa terra além é onde esperançada Tarda a luz do dia. Por mais que veja, que queira ver, Defronte é longínqua e fria Distante como quem nunca vai saber O quão feliz eu seria!... Álvaro Machado - 01h45 - 10-10-2015

Substância

Imagem
Vês? Ali, ao longe, é tudo. É o universo, a verdade crua, o sentimento despido de interpretações. A luz que vês é sábia, é intensa, é virtude... Ela guiar-te-á. Eu sei, a sensação é um audaz abalo. Acaba por fazer ruir os alicerces onde nos equilibrámos... Mas sabes, não posso dar-te a chave, não posso vender-te o mundo como Orionte vendeu Que importância tem isso para ti? Olha para o céu. O céu tem tudo. Vê, sente: inspirámo-nos, condessámos a metafísica, hoje escrevemos com o coração tamanha obra!... Que vale a pena na vida? O indefinido, o incerto, o desconhecido - isso move os poetas, às escuras, na caverna do desassossego servos de todo aquele misticismo, dos devaneios repetidos, do porquê inverosímil... Não sabias que sou cego? O melhor do mundo não é ver, é sentir além-mim, além-ti, além-tudo... Álvaro Machado – 04:54 – 29-08-2015

o mar destruído

Imagem
onde está aquele mar da esperança, frenético, independente do céu? onde estão aquelas ondas em quem tanto questionávamos pelo universo? não ouves? ah, eu oiço-o como que ainda fosse hoje: o respirar absurdo do coração envolto nas estrelas, imbuído de sonhos, batendo mais e mais, na ânsia de que o sonho se torne lei dos poetas... mas eu não sei onde estás, não te oiço... estou sentado, velho, esquecido, e tudo, em volta, se tornou difícil para mim... Álvaro Machado - 01:30 - 14-08-2015

Perda de tom

Imagem
Lenta e drástica vem Num soar disperso E se me pesa, pesa-me tão bem Como que a todo o universo E a curva da esquina será indefinição Em esse sempre eterno e fiel; Servos leais que nunca vêem no não O rodar livre de um carrossel. Assim são os que nas montanhas se refugiam, Leis esquecidas, vácuos desertores, Os poetas que nesse virar de esquina escreviam Insubmissos e inatos sonhadores!... Álvaro Machado - 14h58 - 10.08.2015

Ébria fuga

Imagem
Com o copo de vinho que tenho defronte desfaço-me da realidade como as crianças fazem sem o saber. Assim, tenho só um pensar cru e imaculado, a certeza de que o belo me contagia, que sou um pobre feliz... Ah, e não o pude ser antes... Antes atravessaram-me os pensamentos mais torpes, a escuridão plena dos meus maiores medos... Não sabia ser. Tudo era imenso, disperso, desfragmentado... Não sabia não pensar quando me via sozinho na berma da estrada... E Caeiro era tudo para mim. Com ele era-me livre... Mas havia sempre a sensação que a vida é uma nau sem porto onde possa atracar, aonde a dor nunca cessaria, e que em mim isso estava cravado no coração para todo o sempre. O vinho acaba por me levar além da realidade doente e eu sou uma criança muito pequena cheios de sonhos por concretizar. Álvaro Machado - 16:03 - 27-07-2015

Onírico papel

Imagem
Dos sonhos que construo à escuridão de onde me sustenho p'ra toda a vida vou subindo cada degrau vão até que a chuva lá fora se torna pressentida e no horizonte surge um clarão... Surge não sei de onde, não sei porquê... Qualquer coisa de mundano ergueu um homem que nada vê onde tudo vem em seu engano e por isso em nada crê... Rasgo o papel. Os versos morrem-me ainda no sangue. E no meio da mágoa onde um poeta se há-de esconder escurece, perdem-se os sentidos, e exangue vejo a lua do outro lado do cais a desaparecer e com ela também a mim deixarão de ver... Álvaro Machado - 03:01 - 30-05-2015

Criação do Ser

Imagem
Numa imensa vastidão de floresta e de liberdade, Por entre os maiores mistérios que assombram o meu pensamento, Eis que me sento, reconfortado, no cimo de uma jaspe desgastada já pelo tempo, Ao lado do meu companheiro e mestre Whitman, Para saber o que esperar de nós. Compreendemos que tudo é possível nesta tarde de sol Que supomos só nossa, E por isso elevámo-nos como os tais criadores do imperceptível, Do desajustado, do longínquo Que é nosso por direito. Fazemos das nossas dúvidas e das nossas incertezas Um dogmatismo deplorável, mas autêntico; E eis-nos mestres deste Tempo, E servos do outro que coabita interiormente, Lá numa cavidade insubmissa e altiva... Percebemos que o nosso rosto de agora Reluz uma força tamanha De conquista, de desejo intenso, de posse perante todo o universo! E não quebrámos perante vozes inócuas e risos torpes Dos vazios corações do outro lado. Álvaro Machado - 16:02 - 24-05-2015

Não sou conduzido, conduzo

Imagem
Nada oiço do que se propaga do outro lado de mim. Não deixo minha voz trémula nem minha crença desmoronar por uma praça cheia de sangue. Mantenho-me surdo para os aterradores gritos que infligem dor alheia. Pois eu calo, e no silêncio amargo Só oiço meu coração De herói solitário A seguir passos em que acredito. Quem é lá fora eu não sei... O tempo em nada me pertence nem a meus sonhos... Apenas o lado em que chove sou íntegro... ( Vácuo!... ) Álvaro Machado - 01:33 - 24-05-2015

Nota final

Imagem
Encaro o suicídio Como inevitável e como única certeza Que entre os largos devaneios distantes Meu coração suporta... Sentado, debruçado sobre qualquer coisa de natural, Encaro a frio a realidade que a meus olhos pesa e persiste. Depois caio, porque não sou mais nada Senão uma queda permanente. E a sociedade que por dentro me corrói e se me afasta? Que é do vadio que no cimo do mundo se escondeu, Se encovardou de olhar de frente Para a Dor e para a Morte? Coitado. Álvaro de Campos, coitado de ti, que ninguém chorou essa dor tão fúnebre!... Coitado do que és, uma sobriedade desajustada às leis do universo!... E do nada que não existe, somos nós e assim permanecemos Até ao fim do largo oceano!...

embalar do senhor

Imagem
e agora que o tempo chora embalo a canção da minha hora... e agora que o tempo chora caído não me levanto como outrora... e agora que da minha mão o tempo voou é que não quero ir embora... e agora que tudo que era se esvaziou é que não quero ir embora... e agora, embalando-me, cantando, sorrindo, vou como que afastando-me, vou longe indo...

Eternamente esquecido

Imagem
A um dos frios recantos da cave, Num cessar de luz cerrado, Come a criança bolachas Enquanto principia o dia. E nesse passar de tempo, As aves entoarão o mórbido que jaz E nada mais restará Senão o esquecimento... Mas estou bêbado e mal me peso Em um contrabalanço do viver estando morto Não quero ficar, passo fome na alma E a um mendigo ninguém estende a mão... Álvaro Machado - 16:31 - 17-05-2015

Índole sábia

Imagem
à frente do nada onde a alma é o ver nunca soube do saber e a morte nunca havia de querer sair dos que a ouviram... então soara cada vez mais lá do fundo, da casa longínqua, o eco onde mortes são iguais a um virar de página... sempre indo à deriva ( vendo-nos de permeio... ) num ir diante de uma escuridão cerrada às avessas com a verdade... para quê um sábio no meio do nada que é cave habitada pela alma do outro lado da estrada? Álvaro Machado - 19:05 - 03-05-2015

Coimbra dos doutores

Imagem
a cada vibrar de corda, a cada soar de voz escorre a lágrima sentida e saudosa vestida de capa negra por todo o estudante em cada um de nós perpassa o sentir Coimbra muito além e quando outros nos ouvem, do sentir de aqui, nada compreendem... o silêncio enternecido no cessar de uma canção nos leva para um passado, para uma geração, imbuída de crenças e de sonhos e aí compreendemos esta cidade, tão-só ela se despe, desinibida dos que a vêem, e se preenche em cada recanto de vida e esperança... retoma o vibrar de corda e o soar de voz desta cidade que vive dentro do meu coração!

Cave do coração

Imagem
Na cave do coração magoado Uma perturbadora e entreaberta porta deixa a dor surgir Por entre a madrugada distante. Eu, envolto nos mais desesperados embalos para a morte, Deixo fluir a escuridão que há em mim - vejo-a expandir por todo o universo Em eterno vácuo... E que só tu, noite de recantos infinitos, Me compreendas e me leves no coração... Porque o resto eu calo e guardo E mantenho gélido... Gélido então, pois a vida me deu sombra e solidão Quando havia sol e alegria; Abriu-me, sem que notasse, uma ferida nessa cave Que eu chamei de coração... Álvaro Machado - 01:24 - 01-05-2015

Inexistência de partícula

Imagem
Perdeu-se o sol universo fora e com ele foi também a luz intensa, fulgente que servia para o nosso dia doer menos; e se a água reluzia e o fado ardia em nós para toda a eternidade sucumbiu-se então... Fomos não o mar, mas as rochas onde o mar violentamente esbate; Fomos menos que canção, fomos parte dela esquecida num palco em escombros; Fomos não a voz gloriosa da humanidade, senão toda a mágoa, ódio e destruição... Quando deitámos para trás os egoísmos instaurados por patriotas de merda ou os filhos da puta vindos debaixo da terra, sórdidos, escasso se tornou o sentido e a permanência em terra e o tempo esvoaçara pelas nossa mãos como se nada merecesse o homem... Álvaro Machado - 04:29 - 26-05-2015

memória e raiz

Imagem
banalmente, no acaso do sistema solar, sei de mim e sei o que sou... sou um triste que pela noite de luar dos universos dispersou... sou uma dor sem cura que na sombra se inquietou à espera de uma brisa que na alma soasse a paz, a plenitude..., mas deus sempre negou que minha alma assim sonhasse… e assim me vou - ouvindo esta ópera distante, vivenciando estes leves passos pessoanos até ao esquecimento arrepiante que nos vem com o passar dos anos… adeus: mas leve e seguro. é assim que me vou. Álvaro Machado - 00:23 - 25-05-2015

Incompreensão racional

Imagem
Em um sonho de me não compreender Dou voltas sem as dar À volta de um novo ser Acabado de encontrar. De nome e tempo dispersos Soa-me como que conhecido Vem de longe, de longínquos versos - Foi assim que senti ter aparecido. No ser e não-ser da minha alma doente Em rodopios lancinantes Tudo o que me é alheio, tão como comovente, É-me mais do que dantes... Não sei se é o Mondego distante Ou a proximidade com o Tejo Em que aos poucos um volante Se me ergue um bravo ansejo!... Álvaro Machado - 11.50 - 09-05-2015

Incurável doença

Imagem
O amor acabou - próprio e de outrem. P'ra onde eu vou Mais ninguém vem. As feridas nunca pararam E o vazio em mim alastrou Todos os barcos e naus naufragaram E o mar nunca os avisou... Assim, na sombra precipitado, Fujo como quem ama a vida E apesar de nunca ter sido amado Aviso-vos antecipadamente da minha partida. Até ao outro lado, irmãos. (Todos os poetas são vãos...) Álvaro Machado - 11:05 - 08-04-2015

Instância de poeta

Imagem
Morrer lentamente Mais dor impregnada O é que a morte de repente Que nem chega a ser interceptada. A solidão onde à volta desvasta, A consciência do estar só, num ir lentamente, Em um sentimento contrasta Para o que tanto sente... Vida breve, e sem amor próprio Nos precipitámos para o abismo... Nunca no meu divagar pareço sóbrio -antes pertenço ao profundo cismo!... Álvaro Machado - 10:47 - 08-04-2015

transparência da alma

Imagem
fito, no horizonte largo e ténue, a máscara pouco a pouco a sucumbir; com o cair da noite amarga e lancinante dispo-me às árvores e às estrelas do céu distante nunca sabendo quando irei partir... que vida, que morte iminente, que desassossego! querer o mar, querer a inocência que outrora por aqui passou! tanto ansiar, tanto ir, tanto perder... e aonde no regresso a dor se encontrou não foi fora, mas foi dentro do meu ser!... Álvaro Machado - 23:04 - 05-04-2015

quadragesima dies

Imagem
Deleitam-se na crença No corpo e no sangue E mantêm a fé Em seu destino langue O enobrecimento do gesto, Da farsa que em todos persiste, Como vil nos soa em manifesto Que talvez o senhor não existe… À beira da natureza é que nos vem a paz Longe do bater do sino e da prece nefasta Acreditar que lá em cima todo o bem nos dás É razão que baste para tanta gente que se afasta No olhar onde o homem não sabe mentir Sufocam perdidos e desvanecidos Os homens que à força bruta querem sentir O perdão e a fé, porque estão arrependidos... Uma só palavra para todos vós: Farsa. Álvaro Machado - 15:44 - 04-04-2015

A arte silenciosa

Imagem
Calo-me porque o silêncio é sagrado e as palavras amaldiçoadas. Estagno porque o meu pecado é ficar de mãos atadas... E às vezes deixo-me pensar que na verdade aqui não pertenço. A minha alma é do mar e só a navegar é que venço... E é no meu calar que mais me hão-de ouvir. Quanto do que eu sou vai-me no expressar, porque só assim sei sentir... Álvaro Machado - 22:22 - 01-04-2015

Em Portalegre, cidade do testemunho

Imagem
fechado. vento cerrado. à porta de casa do poeta pareço certo, mas soo errado com uma crença incerta como que um sonho onde estou algemado. grito frenético aos transeuntes. ó vento suão, obrigado! toda a energia que impus nestas estrofes me deixam desolado! obrigado! obrigado! deus embriagado quem dera a mim ter mudado se te tivesse acreditado!... e a vida é viagem. em pouco resumi-a eu. ora breve, ora extensa, tudo é paisagem - se viveu, se morreu, ela se perdeu...  Álvaro Machado - 00:26 - 30-03-2015

Do navegador eterno

Imagem
Fez-se história de Portugal Mar dentro do incansável Por meio do descobrir imortal Tornado foi possível... Voltados às ondas barulhentas E aos tenebrosos canais Eis os portugueses a passar o cabo das tormentas E turbulências infernais... Do mundo inteiro, a meio dividido, Soubemos de coragem como ninguém; Deus, era deus que nos havia concebido De homens muito mais além!... Álvaro Machado - 03:17 - 29-03-2015

templários do tempo

Imagem
olhando, e fora da rota do sonho, esperar uma brisa ténue dos lados é um cinismo do deus enfadonho para os não amados... e uma gota caiu. o decurso do tempo desvaneceu. lá fora o homem sumiu do próprio sonho que ergueu... para assim, templários do pesar, porem à chuva o seu coração; de que vale o convicto acreditar se tudo move em volta de maldição? Álvaro Machado - 01:43 - 27-03-2015

morte vangloriada

Imagem
vangloriar a morte, meus irmãos. isso torna-nos presos a essa ideia, e essa ideia torna-se o caos... até que, quando envoltos nessa pessimista e infame ideia, vemos na dor um alívio inoportuno, descarado, miserável... e aí, irmãos do sangue e da terra árida de emoções, é onde reside toda a essência do poeta. o silêncio que nos tormenta a alma, a solidão que nos inquieta o desejo, a morte que quanto mais a vislumbrámos, mais amamos o fim, mais desejámos esse fim, mais queremos acabar!... rasgados em pedaços com a corneta de Érebo a soar pela madrugada inverosímil a confirmação da nossa própria morte! e que nos rasguem em pedaços, que nos leve os mares do além para que do além sejamos escravos eternos. soa pela quinta vez. a corneta do medo soou a sexta vez. cada vez soa mais e mais... e o abismo aproxima-se sem piedade. pareço morto - será que, enfim, vêem-me morto? será isto um sinal que tudo acabou, irmãos?  Álvaro Machado - 21:53 - 14-03-2015

Chuva destrutiva

Imagem
Num dos inconscientes instintos da alma, Volto-me, além-sentido, para uma criação do nada... E deixo-me estar à chuva, inquieto e sórdido, Envolto num cismo profundamente inútil, Até que caie a noite. Depois, convicto, lúcido, desajustado à realidade humana, Ergo o meu chapéu intelectual, coloco o sobretudo aos ombros, E por aí fora me deixo ir, me deixo levar insensatamente Como que fosse o expoente da loucura acreditar Que não somos inúteis!... Dei goles profundos de um vinho estranho, mas saboroso. Só assim pude realmente esquecer o raciocínio do nada que construí... Bebi-o até cair redondo no chão, a balbuciar o terror que acerca o meu coração, E a pedir-vos que me deixem, que me deixem cair no abismo, No esquecimento profundo: deixai-me! ( Chove mais em mim do que lá fora. ) Álvaro Machado - 18:18 - 14-02-2015

resguardado homem

Imagem
bati à porta, aguardei deus para a abrir... esperei demasiados e longos anos, ao frio, à chuva, usando gastas palavras e sonhos esquecidos... até que me tentei tornar num dos tantos milhares, com vidas normais, a não questionar-se sobre fundamento nenhum... mas havia sempre algo. algo que não me deixava simplesmente viver. suspirava fundo: o vento fizera-me renascer, a saudade chorar, o errante vadio filosofar!... porque, para mim, nenhuma brisa reflecte a mesma sensação, porque, em cada uma delas, eu recrio o mundo, encho-o de novos pensamentos, de novas cores, do tutano da vida! deus..., deus não me abriu a porta, deixou-me à porta e nunca veio... revoltei-me; durante a minha vida inteira abri-lhe o meu coração, nunca a nenhum comum dos mortais, contei-lhe todos os meus sonhos, mas ele nunca veio... cavei uma sepultura então. e até hoje continuo debaixo dela numa incessante solidão!... Álvaro Machado - 13:07 - 08-02-2014

viajante deleitoso

Imagem
alma de viajante? nenhum espaço relembra. saudoso só do nada que é amante, do mais sombrio deleite que o quebra e da solidão que lhe é lancinante... o não sentir-se distante, nem perto, nem mesmo sentir o ranger do vento ou da onda gigante, não faz o corpo se mover e ir adiante... antes, fá-lo parar, deixar de crer... ser em terra ou em mar onde há-de morrer? o que importa é viajar. Álvaro Machado - 23:02 - 21-01-2014

feixe de luz

Imagem
vagueei até se me exaurir todo meu acreditar.... o andar que fez o dia partir e a noite fria chegar o rosto o não faz reluzir... indo, meu cavalo cavalguei, meu espírito fiz erguer como fosse ele crer que a porta é ali, que cheguei à vitalidade, ao jamais morrer!... após toques secos e imperscrutáveis nada aparecera, o só silêncio perdurara... e o poeta, quieto, submisso, que vira que ninguém chegara, voltou-se e desapareceu na escuridão: afinal tudo é tão vão... Álvaro Machado - 01:52 - 28-12-2014

Escrito à superfície

Imagem
Encontrei paz em meu espírito, mas nunca encontrarei no sentir. O sentir deveras é descrer. Por entre mim, os deuses fazem-me rir Por quererem que eu veja Aquilo que eu não consigo ver... Álvaro Machado - 15h48 - 17-12-2014