Alto-mar sonhado
Estendido sobre a ilha naufragada, em alto-mar sonhado,
Sinto a rota de colisão das águas batendo-me no rosto
Como um tornado ouvindo-se-lhe a cólera enraivecida,
E penso no que há-de ser do mar e das rochas quando não
existir,
Nos destemidos marinheiros que nos conquistaram a terra,
E nas amas que tomam contam dos futuros marinheiros...
O mar é tão complexo como as pessoas e é tão nosso como dos
deuses;
O mar dos meus devaneios futuros, do meu presente ignorado,
Do meu passado ainda por acabar, é o mar sem marinheiro:
Há dor enseada abaixo! Há redemoinhos agitados! Há o haver
sonho!
Ó Mar de Cherbourg, eu canto-te sem força e vivo-te sem
tragédia!
Eu elevo-te à terra do outro lado do oceano e do outro mar!
E ainda assim um mar sem marinheiro que o navegue, sem homem
Que o ultrapasse, sem nau que lhe atravesse a ilha
naufragada...
E ainda assim, o mar de que tanto eu espero!...
(O futuro dá-me a crença de que há algo a esperar,
Dá-me a vontade de que há algo sempre para sonhar
E dá-me alento para querer este e aquele mar...)
Álvaro de Magalhães – 01:18 – 05-01-2013
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