Nada de mim é meu
Nada é real, nada é dor, nada é alegria
Neste mundo tão cheio de quase-verdade
E tão vago de quase-sonho; Nada lhe é certo,
Nada lhe é certo de ser, nada lhe chega perto de ser.
Eu não sinto no mundo real nada por ninguém,
Não partilho das indecisões de ninguém,
Não ajo a bem de outros... Fujo apenas, fujo além
Enquanto lhe souber caminho e achar-lhe rasto!
E dirão as estrelas que fuja com elas para bem longe,
Para uma nova esfera de gases mágicos, e intensas almas
Viverão como eu, tão prendidas do real, tão prendidas a
nada!
(Mesmo o facto de escrever me entristece; não tenho cura...)
Bem longe disto, dir-me-ão elas! Tão altivas naquele céu!
Tão fulgentes na noite! Tão longe da percepção!
Bem longe disto... Bem longe deste nada que sofre na dor
De nem sequer existir dor; do vazio da alegria que não
existe!
Se me acho escondido entre folhagens sombrias?
Se me acho cobarde entre parecer o que não sou?
Apre! Mais do que isso, acho mostrar mais do que devia,
Mais do que realmente devia mostrar...
A todos vós devo um pedido de desculpas e estou em dívida
Para convosco - não fui honesto ao esconder o que realmente
penso.
Penso e penso abusivamente ir mais além do que vós, penso na
vida,
Penso porque estou aqui, para onde me leva o Destino,
E, porque penso, não quero ficar aqui (ainda sou a pequena
criança
Que lhe vê a vida passar dentro dum trem, cercado por todas
essas impotências
Que lhe conceberam quando lhe deram a vida mortal; ainda sou
pequeno
Para o mundo, e sou grande para as estrelas órfãs do sol)
Nestes lugares sombrios chamados planeta terra, nestes
lugares nefastos
Que tanto me fazem pensar em apenas nada transformado em
nada múltiplo;
Eu canso-me do que as pessoas sentem, porque elas não
sentem, nem sabem
O que é sentir verdadeiramente; eu canso-me porque eu
próprio sou uma pessoa!
(Uma pessoa não tem amigos enquanto chove, porque ninguém
anda à chuva;
Uma pessoa não nutre amor por ninguém, porque ninguém sabe
amar;
Uma pessoa não sorri por ainda estares sentada sobre a
fogueira
A impossibilitar que fuja com as estrelas que tanto me amam
longe daqui...)
Só peço uma bênção a Deus ou uma maldição a Satanás para
prosseguir viagem.
Só peço misericórdia entre vocês pela promiscuidade que
sempre fui.
O resto há-de manter-se vivo porque é arte: a arte de
sofrer.
O resto de mim continuará vivo porque eu soube crer.
(Eu pedi por amigos que não vieram na hora desejada, eu pedi
por amor
Que não veio enquanto era tempo, eu pedi por alegria ao sol intemporal...
E nunca nada veio de nada. Nunca nada mostrou-se perante
mim,
Mesmo sabendo da minha espera esperada sem fim!)
E quem sabe que a vida realmente nos atordoa e engana
facilmente,
Sabe que é a maior prova de que existimos. Viemos a esta
passagem de tempo
E espaço para sentir probabilidades e sofrer possibilidades…
Nunca sentimos realmente com toda a força.
Mas ainda há algo mais inquietante do que a vida! Apre!
Apre! Apre!
Mais alucinante do que vocês, ó almas estúpidas e
inconsequentes!
Mais formosa do que qualquer amor ou paixão na terra!
Há algo mais! Só pode haver algo mais!
Isto é incerto de mais para poder ser só isto. Eu sei disso
melhor do que ninguém.
Eu, quando vos visitei, em data indefinida, visitei o
pequeno rapaz que cresceu
Cheio de inocência - ali na pequeninha terra do campo cresci
com sabedoria
Para vincar na vida do bem e para fugir na vida do mal...
E quando vos visitei já nada era como dantes: a casa das
anedotas suprimiu
De maneira tão inconsequente pela estupidez humana que a
infância, também ela, sumiu.
Quando vos visitei já me sentia longe de todos, já não era
eu que estava ali
A falar-vos sorridente e de bom grado. O menino cresceu, o
menino esqueceu.
E são para as estrelas do céu longínquo que eu vivo, porque
elas me alentam a alma.
O álacre céu nocturno dá esperanças só para quem lhe
contempla a noite.
E são as estrelas que me levam para bem longe daqui, elas
levam-me do nada
Para um pequeno espaço de tempo possivelmente mais do que
nada,
Mas eu não sei e nunca saberei se realmente será verdade o
seu amor por mim...
Eu não sei se, na verdade, sinto um alento efusivo de as
olhar...
Nada lhe é certo, apesar de lhe parecer bem umas vezes e mal
noutras...
Nada, nada e nada foi sempre a minha vida...
Álvaro Machado – 22:13 – 09-01-2013
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