Arrependimento


Se o arrependimento queima-se a mágoa
De se lhe estar a sentir, eu seria todo Sol a arder;
Por entre todos, as estradas vazias se enchiam
De ar, de neve derretida, de árvores resplandecentes!

Eu seria a razão de todo o bem na Terra
E a culpa de todo o seu mal... Seria quem ilumina
Corações e quebra a crença! Seria a luz do Sol
E a escuridão da noite!

Mas, como é arrependimento, e não esperança,
A que trago agarrada ao coração, sofro apenas.
O estar Sol diante de mim não chega e por mim adentro
Não ardo nem faço arder; não faço nem faço acontecer...

O que mais quero é esquecer, esquecer este arrependimento
Que me torna absorto de viver e me destrói de tentar viver;
Ó desassossegada alma inavegável pelo teu próprio mestre!
Ó sóis de inverno de chamas inertes e monótonas!

Saber viver? E gostar de viver? Sim, se não estivesse arrependido.
Raiar como o Sol? Queimar as pálpebras? Se eu não estivesse perdido!
Mas há distância de estar arrependido e ser arrependido, porque quem está
Não é - eu sou todo arrependimento entre mágoas inconsoláveis!

Não se lhe queima a ferida e ela não há-de passar nunca...
E depois disto, hão-de vir os silêncios absortos do coração,
A preponderante escrita de um sacrário pensado e sofrido
E todas as formas de pensar levarão a quem sofre de estar arrependido...

Álvaro Machado – 13:22 – 06-01-2013


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