Alma viajada
A alma que viaja sozinha alucina por ser sensível...
Chamam-lhe de louca por assim ser: sensível...
E quando o tempo escassa na minha ida ao barbeiro
Contemos-lhe afinal o que é ter alma...
Ele argumenta o supérfluo de algo concreto, sentidos talvez,
E pedir-lhe que viaje comigo é coisa que não pode ser,
Nem fazer com que aceda à alma que este possui...
Ele nunca iria acreditar em mim...
Só tu podes acreditar, porque tens a alma inerte, sem
perturbações,
E só tu podes viajar comigo, porque mais ninguém acede a
este estado...
O que é ter alma para ti? Tu que não és nem mais, nem menos,
do que eu
Só pela alma que indiferentemente transportamos!
Mas tu não tens alma, assim como o barbeiro não pode ter
alma...
Vocês não têm essa coisa que viaja e alucina e por isso
chora
Por tanta coisa suposta que é imaginada e por tanta coisa
imaginada
Ser suposta de louca e de sensível!
O barbeiro pela manhã está contente e pelo fim de tarde está
contente,
A vida dele é assim: toda ela insignificante por meia dúzia,
a sua alma
Vende um sorriso e uma boa disposição a toda aquela gente
Quando, no fim, ele está triste como sempre esteve...
Mas a minha alma... Vendo-a ao mestre dos maiores mestres:
não vale nada!
De que vale a mim e a muitos outros pensarmos em porquês se
não sabemos
O que de nós próprios nos pertence? Parece-nos que a lua
pode ser nossa
Ou os raios de sol ou tanta coisa... E nada vale de nada!
A minha alma só tem abismos e falta de vontade de viver...
Não vale o que a tua alma pode valer, nem sentir o que do
barbeiro é sentido;
Que incongruente é transportar a infelicidade de não ter
ninguém
E de nem eu próprio poder ser alguém!...
Álvaro Machado – 20:35 – 05-12-2012
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