Sono desumano
O sono impede os olhos de renunciar aos sentidos,
Dando azo à forma desumana do homem que sonha
E chora com sua inutilidade e falta de coragem
Por ser todo ele homem de simples passos
Não tenho sono. Nunca, talvez, naquela madrugada
Fulgente de raios de outro Sol e de outras nuvens
Mais claras do que estas do meu sistema solar e mais escuras
Que a minha galáxia, sinto ardor na alma!
Desejo de dormir a não pensar em nada, encostado à cómoda
De um passado trágico que transborda agora a insónia...
Desejo insensato, irracional, impulsivo de forçar não pensar
Em mais nada! E se veio, deixar que venha simplesmente!
Mas eu não tenho sonho e encosto o coração à lareira
Escutando o piano, serenamente, como se a vida fosse um
lugar
Em que pudesse eu viver feliz e tranquilo, até a mim próprio
encantar,
Fora das árvores gélidas e deprimidas entes a mim...
Mas lá fora não há rio nem maré... O sol desvanece, não
volta,
E a lua prevalece até eu estar longe e não poder sonhar
Com outras vidas e outras terras que não a minha!
(O resto é frio, é distante...)
Sinto estar lá fora, apesar dos lençóis atravessarem-me,
E estar entregue aos ventos sobrenaturais e à sorte
Do infortúnio de um dia ter nascido sem rio, sem maré
E tudo ser frio e distante em águas sonhadas...
Eu sou quem não pode dormir, pois sofro com os sentidos,
Sinto com as suposições e julgo com as certezas.
Eu sou quem não pode sonhar, pois sou abstracto ao próprio
sonho,
Sou fiel à exímia alma que me deram e com ela não sou
ninguém!
E eu quero dar simples passos como o homem,
Dormir com um sono profundo até ao dia de amanhã,
Sonhar com quem me faça ou venha a fazer feliz,
E ser a forma simples e humana
Álvaro Machado – 00:07 – 03-12-2012
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