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De um terraço…

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Estão nuvens cerradas, o dia é cinzento e chuvoso. Para que hei-de então voltar a vê-lo da janela De onde se concebem todos os meus sonhos Se eu me sinto triste se voltar a estar lá?... Fico estagnado, com as mãos por dentro do meu sobretudo, A olhar para o horizonte defronte, frio e tão triste, E por entre todos universos que fui criando, sempre muito dispersos e irreais, até que penso: «És tão dolorosa. Dói-me que sejamos todos tão distantes de ti!» Com o coração eu consigo alcançar-me até à varanda do outro quarto, De onde a vida se toma por sublime, E consigo, sozinho, perscrutar a voz do Diabo ao fundo da minha alma: «Peço-te: esquece tudo; deixa-te ir na perdição. Senão, o que é isto?» Mas lembro-me perfeitamente que estava a sonhar, havia adormecido no terraço. No meu sonho tu morreste, sabias? Morreste e eu senti suores frios; amo a humanidade! E penso agora porque todos nos questionámos, penso agora porque nada sabemos de nada…   E

Esquecidos do tempo.

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Esqueçamos que é tarde; nunca será tarde Se assim não o quisermos... Nem que seja, é tarde para quê? Se o tempo quisesse, já teríamos acabado. Seríamos apenas horizonte esquecido, Alma perdida, barqueiro abandonado... E eu sou-o de todas as maneiras possíveis, também. Pertenço a todos os lugares sombrios e invisíveis Que se me ocupam a alma e que se me perturbam os sonhos; E penso para mim, como que confessando, não sabendo bem a quem, Porquê, porquê cair no esquecimento de tudo? Mesmo esquecermo-nos de nós próprios a certa altura? Adiante está a graça ou o precipício, Em o lugar impossível de se conceber nas mentes humanas. Adiante se vislumbra a felicidade ou a desgraça. Só adiante se encontrará verdadeiramente os dois extremos, Todo o resto da vida é nada. Mas nem isso eu sei bem... Umas vezes vejo realmente isto Como que uma verdade dogmática, perfeitamente irrefutável; Mas outras vezes até isso eu esqueço que é, e duvido inteira

Traçado

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A noite é a solidão de todas as almas. É o precipício em que ninguém quer cair. Nenhuma quer ser só. Morrer só. Cair em esquecimento para sempre. Mas eu escondo-me por entre a noite, Em lugares recônditos mais sombrios Do que a própria noite conhece. E tomo consciência disso Como alma perdida que sou... E de que me vale sentir tanto Olhando a lua, achando sublime a vida, amando outros planetas? Hei-de acabar como comecei: na indefinição eterna de todas as sensações! Um dia isto não será nada e o barco há-de também partir Rumo para qualquer coisa chamada de fim... Álvaro Machado - 22:11 - 20-11-2013

Quem eu sou?

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A minha alma não tem dono, Nem lugar e muito menos sentido. Tem caminhos dispersos e ao abandono E um frio, de vez em quando, pressentido. Não tem horizonte que lhe alente de esperança, Nem sol nem luar que se lhe venha a surgir. É um todo sombrio que me tem vindo a possuir Desde que deixei de ser criança… Os sonhos, por vezes, são amálgamas Que nem são vida nem são sonho; Pertencem a um ser enfadonho De dispersas almas… É impenetrável, saudosa, sozinha E para sempre será minha! Álvaro Machado – 21:04 – 16-11-2013

melodia.

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da salvação dos tempos que urge disperso no céu não sei se são lamentos ou o destino que é meu... mas circunda em minha volta aquele daquele do outro astro-rei uma ponta que se vê solta e que eu não sei se a amei... doira e estende-se entre o café do entardecer... volto-me; e o coração arrepende-se sabe, não sabendo, que ninguém o quer... e todo o olhar cerrado entre a multidão escrava fora o meu sentimento abandonado, de nada ninguém o encontrava... até que, lá ao fundo, disperso, parecendo o céu quando escurece, é o meu coração tremido em verso que nunca de nenhum sentimento se esquece! Álvaro Machado - 14:55 - 11-11-2013

Mera lembrança.

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Lembro-me de estar sentado Sobre a minha consciência E pensar, com muita inocência, Que Deus estava ao meu lado. A vida poderia ser sempre assim, Calma, de plenitude dotada; Seria tudo melhor para mim, Viveria-a muito menos atribulada... Só que o momento seria de não-lucidez, Seria um estado superior... Transformar-se-ia glorificador E ninguém saberia quem o fez... Leonard Sagè - 22:14 - 09-11-2013

Vós.

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Nunca verá a luz do dia A criação Nem ninguém a veria, Se é o corpo vão.. Nem, em vós, Encontrareis Ao fundo do decurso a voz Do que nunca sereis… Porque ela tem existência Noutro lugar Para além da consciência, Aquém do que é amar… Álvaro Machado - 21:36 - 08-11-2013

Alma nocturna

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Solto, à noite, o instinto De andar por entra a sombra, perdido, A deambular sobre o que sinto E parece que não foi sentido… Ando entrelaçado com a solidão alucinante Quando passo por um velório, defronte. Comoveu-me ver tantas almas a velar Quando nem a minha hão-de chorar... E por mais que eu escreva, o que serei eu? Por mais que sinta, por mais que seja... Tudo terá destino seu. O decurso da vida será sempre o que aconteceu - Cada momento, cada momento que se almeja E quando se vê, já desapareceu. Álvaro Machado - 00:36 - 07-11-2013

Multidões

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Quando passo por entre a multidão Não sou eu... É um eu cheio de solidão Que passou e se perdeu... Que, quando se vê cercado, Entristece, porque não queria que fosse assim... E, quando pensou, já a noite havia chegado, Suspirou: «Isto não é para mim...» Ficara um silêncio no universo imenso Quando estas palavras se propagaram. Mas não, ninguém sabe o que eu verdadeiramente penso Porque nunca me encontraram. Na multidão, por entre todos os rostos, Volto-me; e sou invisível. Não sei como os caminhos estão dispostos, Não sei se o fim é acessível... O que eu sei é que a cada passado dado Sou outro eu e o universo é sonhado. Álvaro Machado - 17:10 - 05-11-2013

Cismo clássico.

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Cismo! Não posso ouvir Tchaikovsky! Não posso sair de casa, senão alucino, Crio uma imensa ópera emblemática E o zumbir dos carros tornar-se-á, ele mesmo, numa obra d’arte! Não posso! Nem quero, aliás. P’ra que irei tornar cada passo dado por transeuntes Numa magistral e ao mesmo tempo destruidora melodia? Ah, eles não merecem! Está tudo sem alma para a arte! Prefiro sofrer sozinho, sob a pena da escuridão do meu quarto, Com a janela entreaberta, o fundo clássico entrando impiedosamente na minha alma - Que me perturba de uma maneira impossível – E a saber ter a perfeita consciência que me dói viver… Dói-me. Não consigo parar de me preocupar com todos os transeuntes, de sofrer com eles… Não consigo parar de pensar no nefasto futuro! Olha o maestro, como ele se ergue amando inteiramente a melodia, Cismático, emblemático, apaixonante! A apoteose chega-me agora, todos os instrumentos se misturam, Chegámos à perfeição, à arte de todas as artes. Levanto-me. Ergo as mãos, ajoelho-me para es

Ordem.

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Acorda. Hoje ainda estás aqui. Seria pior se tivesses partido precocemente. Precipita-te para a janela da velha casa E vê somente os pássaros a voar. Encanta-te. Não há nada mais sublime Do que vislumbrar um himenópode Defronte, naquela telha quebrada, Cantando qualquer melodia. Esquece então o enfado da noite passada. Não acabes contigo, não sofras mais… Porquê sofrer se nunca haverá nada de mudar? O único que muda és tu: ninguém! E hoje cruzar-te-ás por qualquer figura humana Que esteja a varrer as folhas do Outono entristecido… Não são as folhas que são varridas, senão almas Há muito, neste espaço de tempo, perdidas! Álvaro Machado – 15:10 – 04-11-2013

Eterna Metafísica

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Não tenho maneira de fugir desta condição humana (E já o navio parte do templo) Há uma eterna prisão dispersa entre o real e o sonho E este pedaço de terra impossível de ser eu... As praias em que desembarco intrigam-me imenso. Renasce-se-me uma nova esperança ao desembarcar, Toda a areia que ergo com a minha mão é uma eterna confusão Que me vai escorregando da mão... Lá, no disperso momento em que não temos direcção, Cruzámo-nos entre árvores e animais selvagens... O espectáculo da natureza vivido entre turistas Ali está tão bem presenciado!... Depois o templo. O silêncio cerrado, a devoção, O juramento insensato, mas sentido, de todos. Vestes que ficaram à chuva para que a alma renasça E se erga em fogo ardente. Deus existe. Saindo, mais intrigado, mais atónito do que antes, Chegando à embarcação com tonturas desajustadas à compreensão, Sento-me e reflicto, muito sozinho, o que havia passado há instantes... (Terá sido aquilo tudo uma partida de alguém divi

Estados d'alma

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Tenho um estado de alma diferente. Nunca sabe o que quer, nem quando quer. São muitas almas na mesma corrente E o horizonte é uma névoa que me faz desaparecer. O meu constante estado quer procurar Um sentido que lhe diga o que, afinal, está aqui a fazer. Continuamente, cada vez mais ébrio, para querer viver Num lugar longínquo que esteja a brilhar. Que tenha esse mesmo lugar Toda a incongruência e disformidade Que em mim mesmo inerentemente há-de estar Se continuar a inexistir a felicidade. Quero uma praia que um dia nasça E outro dia se desfaça Com a mesma verdade com que foi criada. Quero que um dia a vida me faça Saber me desviar da desgraça Com a mesma plenitude da terra sonhada. Álvaro Machado - 22:03 - 02-11-2013

Sentir demais

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Tenho em mim tanto sentir Que não sei bem precisar, Sou de um pequeno lugar De caminho invulgar Onde toda a gente quer vir. Só que ele é, ao mesmo tempo, Oculto lugar. Tem que se sentir, vivenciar O que está para além do campo Entrar adentro dele e ali ficar. É um mundo novo entre mãos, Transcendente a mundos anteriores; Qualquer um almeja as suas cores, A extensa colectânea de corpos vãos E todos os sentimentos, ali, são superiores Como um Jardim do Éden diante de uma floresta Sempre oculto a qualquer alma vulgar; Para o espírito poder entrar Tem que sentir demais, porque demais nunca resta: É preciso o pequeno sentimento se amar. Álvaro Machado – 14:40 – 02-11-2013  

Pelo comboio.

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Se realmente existisse esta viagem, Poder-se-ia declinar a rota, poderíamos ir na dianteira, Esquecer-se que para além à margem E viajar com a paz na alma p’ra vida inteira. Meio sonâmbulo, meio morto, Mas com a tranquilidade certa Para esperar uma nova descoberta E fugir deste mundo absorto. Encostados ao mar, Pertos de amar, Feitos p’ra viver! Com o destino a nos cruzar, Criamos laços para depois tudo acabar. Somos feitos de anoitecer! Entretanto, quem vai ao meu lado Vai estando a ler Um livro qualquer De um escritor consagrado. Consagrados, porventura, Deveríamos ser todos! Todos poetas de uma vida dura E todos encantados! A meio caminho estamos indo, Passando pela cidade nunca vencida, Um rio inteiro correndo, o olhar caindo, E a vida acabada de ser perdida… Mondego que nunca te irei esquecer, Tenho que me encontrar noutro caminho - Muito, pouco, perto ou longe, o que houver Será o rasto do meu pergaminho. Hei-de ficar caído. Com o coração

Mais uma que caiu

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Cai e fica caída, a folha caída. Cai, fica esquecida, tão esquecida pela vida. Levanta, iludida, levantada nunca há-de voltar. Continuará a folha perdida até o Outono findar. E todos os que aqui passam, passam, fingem, esquecem, que um dia assim também acabam e assim todos o merecem. Álvaro Machado - 12h00- 31-10-2013

Inteira criação

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Mar e sol e estes codessos amarelos Por onde sobrevoam borboletas, A brisa passa, O canto do rouxinol se ouve, As nuvens permanecem, A paz imbuí a alma... Quero pertencer a esse lugar também, De onde o pequeno nada é o tudo, inexplicável, Como uma pequena folha que cai da árvore, Simplesmente, porque é o decurso da vida, E que é magistral poder observar, Observar tão peculiarmente... Mar de todos os tempos, amo ver-te, ver as tuas ondas Batendo sobre a encosta adormecida; Sol de todo o sistema solar, onde os teus raios iluminam a terra, Alentas a alma de cada um de nós com esperança; Brisa transeunte, deleite de passagem efémera... Canto frágil e submisso de rouxinol todas as manhãs... Nuvens que perduram à janela, azuis, cinzentas... E para isto tudo, chamamos natureza. E paz. Álvaro Machado - 13:55 - 27-10-2013  

Mansão

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Vê que a minha casa foi derrocada Por um qualquer vento que passou... Tudo que tinha perdi, fiquei sem nada, E agora não sei para onde vou... Vê que rompeu-se o tecto e as janelas estão quebradas. Tem em atenção que isto é o que eu sou E não vou mudar, só porque tu me agradas. Se fores, fui só mais um que por ti passou... Todo o significado verdadeiro da vida, Em mim, é a natureza. Detém uma própria tão beleza Que nunca a quero desaparecida... Não quero partir. Quero ficar. Quebrada está, há-de continuar, E eu não quero daqui sair... Álvaro Machado - 15:00 - 27-10-2013

Boémio

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Não tenho porque não querer viver Aquela vida boémia que todos viveram, Em outros tempos, em outras circunstâncias. Talvez embriagado saiba melhor ser eu, Melhor me conheça, mude os hábitos, as rotinas, Que talvez o tédio se finde e as preocupações tomem rota idêntica. Talvez não, também; haverá sempre um senão E o caminho será, também ele, uma eterna indecisão. Se ouso mostrar-me nestas circunstâncias - Em que enalteço o valor nobre do sentimento humano – Deixai-me, pelo menos, mostrá-lo embriagado E assim talvez custe menos, e me ache um artista… Transcendente é o caminho que a febre leva a percorrer… São dimensões ocultas, tão misteriosas, tão perigosas, Que eu, meu deus, que enalteço a toda a hora a tua imagem, Sinto-me só para poder tocar nestas dimensões, A não ser que o meu estado seja não estar no meu estado, E aí estarei somente no mundo meu. Dir-me-ás tu quem escreve estas linhas sobre as margens? O poeta vulnerável e completamente incongruente? Ou o

Interceptado por Deus

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O quarto é sombrio, é pequeno. E o sentimento que nele se cria É prolixo, onírico, magistral. Passa a ser a minha vida, a noite infernal Tão assim só me queria... Constrói-se em mim uma sensação Que leva o universo à sua formação. Constrói-se-me tudo enquanto tenho uma crescente loucura, Dentro de mim circundam astros, morrem, nascem, multiplicam-se! E se eu ousar desvanecer à próxima neblina, Desvaneço com a poesia no meu coração. Deste quarto nasce todo o pensamento, toda a certeza Que o que virá no porvir será melhor. Acabarão os pesadelos, toda aquela vileza Que sempre esteve bem vivida, sempre bem imbuída de dor Que ninguém entendia porquê. Tudo é p'ra mim extensivo, cansativo, deixa-me lasso o corpo! Deus, defronte de mim, num outro pensamento e num outro quarto Intercepta-me, deixa-me ouvir a sua voz e fico embriagado! Embriagado flutuo entre as dimensões todas que constituem o universo, Transcendente, irreais, impossíveis, completamente loucas!

Raio de consciência

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Tive de rastos a consciência, Perdida numa penumbra qualquer, Vagueei quase até à morte, perdido, Sem ninguém me conseguir ver. Passei ao lado das ruas, dos passeios, de todas as coisas, Mas ninguém estava lá, tudo havia partido, E eu perguntara a mim mesmo para onde tinham ido Aqueles que, agora, tinha perdido... E entretanto, desloquei-me para aquela corrente do mar Com a cabeça perdida, estava prestes a querer terminar... Por uma última vez vi toda a força da natureza, voltei a suspirar, E pensei para mim: não mereço aqui estar. Não pertenço aqui; todos partiram. Paris é só a desolada alma que me deram. Onde estão todos, que não os hei-de fitar Se sozinho é meu destino ficar... Leonard Sagè - 22:46 - 25-10-2013

Imenso, demasiado.

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Pergunto-me qual o sentido para viver, E o que é isto tudo. Às vezes estou disposto a esquecer Para tentar conseguir estar aqui. Mas tudo me dói interiormente… Nasci com imensas almas e demasiadas perguntas. Pedirem-me para não questionar, é pedirem-me para morrer. Não quero viver num mundo que não acolhe os meus ideais… Onde estão, agora, as nossas conversas à lareira? Aquele fumo, presente no ar, alentava a alma, Impunha-lhe uma essência tão própria Que cheguei a crer que fosse verdade Que vale a pena viver… Mas o fumo, nesse mesmo instante, Cessou entre a nossa conversa. Passou… como nós todos temos passado, Reduzidos a pó… Álvaro Machado – 16:45 – 25-10-2013

irei ser sempre

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irei sempre amar a condição do homem - ansioso por vincar para além dos astros que movem; ansioso por querer ficar neste mundo, nesta viagem... conforme o meu coração, que bem se adequa à ilusão, marinheiro navegante da deriva nunca precisa, sempre cravejado na sensação indecisa, dolorosa, inquietante de nada, de ninguém, de vácuo de sim e de não... nada. ninguém. Álvaro Machado - 22:15 - 22-10-2013

Pranto

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Tenho calma e vontade, Calor, frio e saudade. Quero vir a relembrar Aquele momento, Que passou, já se vai, Perdeu-se na noite de luar Encostados ao jumento Parecíamos estar... Porque, sabendo bem, A verdadeira vitória enquanto vivermos É o talento que tem como nascente Um rio de pureza, de magia crescente, E sermos nós aquilo tudo, nós sermos! Mais ninguém! Para ser única basta fazer algo único, Nada igual, companheiros! Esqueçamos o pranto, os desordeiros, O nosso hino é viver para lá disso! Álvaro Machado - 18:03 - 21-10-2013

Aclamação

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Vida, esta vida que um homem tem como um vagabundo, Que na fúnebre praia de onde o mar se ausenta o coração vai soluçando Por uma brisa que acalente o gélido sentimento que por aqui anda Sem andar e sem sentir, e nem sabe quem o manda... Indefinido sentido quando olho para o sentido que te quero dar, Ó vida, que sentido, que rosto, que tens em tua direcção? Porquê todo o ser humano e todo o sentimento vão Quando falamos em amar? Mas o que podemos nós amar em ti, vida? Corrompidos estão todos os transeuntes... Desajeitados estão, todos como dantes, Na anterior vida ditada de esquecida... Álvaro Machado - 16:22 - 20-10-2013

Um sino qualquer...

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Saúda a morte, deixa o tempo a passar, Que a cidade ainda está por acordar... Bem alto, faz-te ouvir, faz-te sentir, Como se a nossa hora esteja por vir... As ruas que à noite me falam, No deserto meu sentido de existir, Nunca sabem por onde andam As almas que ouso vestir... E tudo na vida é dizer nunca, Nunca de existir existindo... Ninguém nos espera, tudo vai partindo, Numa barca levada por qualquer vagabundo... Álvaro Machado - 20:04 - 18-10-2013  

Pequena confissão

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Sinto-me tão sozinho Como um pôr-do-sol Quando ninguém o está a olhar... E dói-me tanto ser e estar assim Que começa a anoitecer Para lá dos navios invisíveis... Tão triste da vida, vadio do universo!... Não tenho ninguém para poder estar... Poeira levantada que desvanece num instante... E de uns tantos lugares sombrios onde o meu coração se esconde, Aqui continuo, numa recôndita sensação esfria Concebida p'ra minha solidão!... Álvaro Machado - 19:12 - 14-10-2013

Diálogo estrelar

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Sabes que me sinto sozinho Quando em minha volta a terra está árida? O que me faz logo depois questionar, Se será a terra ou as pessoas Esta falta de sentimento no ar... Sabes que esta noite deixa-me sozinho Só entre as estrelas, únicas interpretes verdadeiras do que sinto, É que o meu sonho continua a mover-se e a girar continuamente Numa espécie da translação anarquista Para o sentimento inócuo. E sabes também que eu detenho um amor pela vida Um tanto diferente, e talvez um tanto superior, Do que estes alheios corações que vociferam com desejo incontido A eternidade, a luxuria, a ostentação, a invencibilidade, o império... Não quero ser assim, sabes? Sei lá eu o que quero ser; sei, em todo o caso, que amo viver assim - Com a natureza e sem regras, com a liberdade e com sentimentos, Com o constante desejo de descortinar o segredo estagnado na noite estrelar... Sei lá eu quem me sinto! Sei lá eu o que sou! Sei lá eu o que é tudo isto, Toda a dimensão esta que não mo diz! Mas sabes...

Sem nada, ser nada.

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Tentar compreender É esquecer que compreendi. Tentar viver É esquecer que vivi... Tentar é não tentar Coisa nenhuma. É apenas imaginar Que se tentou coisa alguma... Se nada me faz ser Nada eu irei querer. Assim tudo irei ter Se nada tiver... São os pensamentos Que estão frios, de mar angustiado... Afundem-me sem ressentimentos: Considero-me naufragado... Álvaro Machado - 21:58 - 11-10-2013

Concebível realidade

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Sei que os sonhos detêm o que a realidade desconhece. Por mais que na tormenta rota tomada As interceptem figuras demoníacas oriundas do mito Quem sonha sempre alcança. O meu estado leva-me a descortinar talvez o impossível à percepção da realidade. Porquê? Porquê o circundar ébrio dos planetas em minha consciência? Porquê a irrealidade imposta e concebida como a nossa vida? Não sei nada... Não sei como se ama, não sei porque se ama... Se amar nos concebe um amor eterno, E se realmente o carente sente saudade, Porque não nos amamos em conjunto? A minha realidade é sonho. Sempre foi. Tenho pouco por que me agarrar à realidade, esta de momento. Prefiro ser sempre o deambulante poeta que viveu na cave do pensamento E que descortinou sempre outro mundo. Álvaro Machado - 13:56 - 10-10-2013

Miramar

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Está distante... E nem chega a ser muito distante... Fica na intermitência... E nem vale a pena ter saudade, O navio não espera por mim. Se esperasse, ganharia fôlego... Sou alma-miramar... Que nem sabe quem sente... Será destino andar perdido no alto-mar? Ah, mas porque me ouso sequer isto perguntar? Vale a pena viver no Outono. A brisa deixa-me a flutuar, E ver as borboletas e os pássaros a voar Deixam que o momento fique comovente!... Álvaro Machado - 01:46 - 07-10-2013

Um navio de personagens

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Gostava, às vezes, de não pensar no que está à minha volta. Quem não pensa, não tem a penumbra como horizonte, Tem, porém, outra coisa, talvez superior, chamada inconsciência E a janela do seu quarto é fulgente. Quem não pensa, não vive aquelas horas de agonia Em que até chover nos dói, ou até quando faz sol... Não tem aquelas insónias que só nos deixam mais a sós Do que a nossa solidão nos permite enquanto sonhámos... Mas temos, ainda assim, que viver. Alguém tem que gostar da arte, Criá-la, mantê-la viva, exaltar os artistas... Por isso, eu tomo a vida com uma constante liberdade de pensamento Que me faça roçar no outro universo paralelo deste... E não, não estou sozinho nesta viagem. Também eu criei pequenos pensadores Dentro de mim, para que possam estar justamente na constante busca Do incompreensível, do longínquo segredo que arrastou gerações inteiras! O barco leva-nos para onde calhar. No convés vai Mister Winston , a minha recente criação, Acompanhado de Leonard Sagè , o po

Oculto

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Sinto as movimentações da terra oculta, terra de averno, Contrabalanço-me entre a metafísica e o submundo, Entre a ponte que tem como direcção céu, inferno, Deus, Satanás e eu, que não sei de onde sou oriundo… Bizarro em todos os sentidos. São demasiados universos de sucedâneo ao meu… Complexo, extremamente complexo, olhar o céu E ter por que questionar: porquê tantos mundos? Vagueei num pequeno espaço do Botânico Já o silêncio a cidade inteira possuía; Ia com a alma inquieta de pensamento que não queria, Embora sozinha desejasse ser uma estrelo a sobrevoar o Atlântico… Álvaro Machado – 13h00 – 05-10-2013

Perguntas vãs, respostas inexistentes

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Corria o tempo; simplesmente passava… Não sabia como, não sabia porquê, Porém, havia lhe perguntado: “Tempo, porque passas? Sabes que eu não queria que passes assim? Queria que fosses eterno, que não tivesses fim… Assim, não me separaria de ninguém, Assim talvez a dor menos se propagasse entre mim…” Tão incongruentes são estas minhas perguntas Que, na inocência de ambicionar dar de caras com o universo, Se sente só e de estado atónito p’ra limitação que aparamente nega ter… Tão imbecis são estes meus pensamentos da indecisão e da incerteza Que, enquanto o céu me não responder, continuarei assim, neste impasse solitário, A cantar a triste saudade, o triste desejo de querer conhecer mais de mim E deste vasto universo repleto de vida que todos os dias bate à minha porta… Álvaro Machado – 18:32 – 04-10-2013  

Inconstante, irreal.

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Bebemos como se isso não nos fizesse sentir saudade. E eu deixo-te entrar sobre a ilusão que existes e estás comigo Num intervalo de tempo qualquer... (Mas a vida dói-me, nada disto é real...) E como entraste, o sentimento que me alenta a alma Parece reluzir por uns instantes efémeros... Entra dentro da minha casa, tanto é de um como de outro, Só peço que avises quando dela saíres... (Entretanto, chovia com intensidade, tanto que me fez contemplar, E chamei-a a atenção para esse poder que a natureza tem, Transcendente de qualquer explicação que queiram dar; Mas ela não me ouviu, não prestou atenção a nada...) Não adianta. O espaço que te concebi - de intemporal - Nos não aproximou, nos não fez chegar à necessidade de ligação, Nos não fez mais que fazer da nossa relação ridícula demais para existir... Por isso, continuarei a beber. Tenho pouca vontade de viver, Tenho muita mágoa para querer continuar a viver... Chove. E a casa de chocalhos teve muita intensidade para agora se sentir s

Lei Fatal.

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Sou um servo das leis fatais, Das quais padeço sem saber porquê. A travessia é dolorosa, não sei por onde vais, Nem sei como a vida se vê... É fulgente, é desfocada? Alegra-nos, entristece-nos? O que faz? Não sei, sou cego; não tenho amigos, nem família. Tenho sorte por sentir o vento... E tenho sorte por supor que o céu existe, Que Deus nos criou, que isto mesmo se chama viver... Parece-me que o amor também está neste mundo, Mas ainda não o conheci... Noite adentro, agora, e a espera é agonizante. Continuo sem saber nada... E o universo inteiro é uma dissimilação Do sentimento galáctico... Álvaro Machado - 22:56 - 02-10-2013

The Anarchist

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Anarquia! Respiro-a entre cada intervalo de tempo Que Deus me impingiu, pois nem sequer concebido foi. Foi impingido como um gládio doloroso pelas costas do inimigo... Anarquia! Viva a ti, ó anarquia! Mister Winston - 21:17 - 01-10-2013

Divino

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Tenho uma vida incompleta, mas uma luta constante Por ideais e utopias que me alentam a alma... Não me rejo pelas normas, como seria normal, E a minha liberdade não está à venda. Vivo, apenas. Vivo na irreverência. Roço o meu sentimento no oculto deleite Que nem Deus, nem Satanás conhecem. Nem está disposto para ninguém... Só meu, novo paraíso de Éden, Ascenção onírica e ébria... Saudade de ter uma vida decente... Nada, ninguém... Álvaro Machado - 21:10 - 01-10-2013

O perdão nunca perdoado

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Chove lá - do outro lado da rua imaginária - Como se isto tudo fosse um sonho. E eu choro. É o meu coração quem eu perscruto, Despedaçado, sozinho, intolerado... A todos vocês, peço perdão pelos meus pecados. Pecados de quem aceitou a liberdade concebida como ilusão, De quem se refugiu nela entontecendo-se para doer menos, De quem naufragou antes do barco chegar ao porto... «Passou a vida. Estás morto, és meu servo agora» Disse-o uma voz que no momento a seguir sucumbiu Num nevoeiro distante e saudoso, como aliás é todo o significado De ter vida... Álvaro Machado - 20:57 - 01-10-2013

Desencanto em viagem

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Caminha desencantada, Por ali se vai deixando ir E a sorte venha, se tiver que vir Ou senão que se dê por terminada. Chove na estação… E entre os carris eu desejo estar do lado de lá, (Talvez seja mais feliz do que cá…) Quem mo pede é o meu coração… E, por entre o céu cinzento, O meu ser quer estar na praia. Por lá me têm como barqueiro com talento E eu não quero que isso me saia. Álvaro Machado - 14:58 - 29-09-2013

Um fim...

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Entreguei-me precocemente ao abismo Deixei que o descontrolo entrasse em mim Apenas e só porque nunca tinha sofrido assim Se não fosse tamanho o cismo! Perdi a minha alma num recôndito sombrio Que ainda me dói pela tamanha perdição… O sentido que me tiraram quando deixo de estar sóbrio É a minha grande lição… Quem sente e escreve sobre o que sente Não tem, por natureza, o hábito de se purificar. Andar em cada momento a divagar E o seu ser nunca mente. Álvaro Machado - 00:37 - 29-09-2013

Natural.

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O mar move e o coração espanta Porque há-de se mover. E a alma acalma, deixa a onda correr: Tudo vai e volta, e sempre nos encanta. Álvaro de Magalhães – 12:53 – 28-09-2013

Lei natural

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Em viagem pelo Ártico. O sol poisa na consciência E eu oiço-o a sussurrar Porque ele naturalmente está a brilhar Com toda a sua essência. E os frios ermos da inconsciência São compostos por vales e abismos; Os homens da vida se propõem a defrontar riscos E cair abaixo é pela sua inocência… Nenhuma alma que cobice desmedidamente Tinha a coragem, o sacrifício, a valentia, De, sobre um vale que a morte chamaria, Se erguer triunfalmente. Porque assim dita a lei natural: O homem pertence à natureza E sobrevive lá como um animal. Quem vive é quem tem destreza. Mister Winston – 12:50 – 28-09-2013