Chegado o train


Decido partir à luz das velas. Acendo o cachimbo.
Calmamente, pego na mala de viagem e no casaco sujo.
Precipito-me para fora, apressado já, quase que fujo
E abro portas a meu próprio sonho, que é cair no limbo.

Horas passam dentro desta inconstante decadência.
Ora vêm silenciosos repiques cantando à pátria,
Ora vêm bruscos ocidentais repugnando essa pátria
E apenas dão horas em dias de excelência.

E vem el-rei, ressuscitado de sonho, a encarnar
Sangrentas batalhas travadas de Sul a Norte...
Nem discursa na sua poltrona, apenas o vejo acenar
Como forma de reconhecer sua sorte...

Pio IV também... Tem-me vindo à lembrança ultimamente...
Cristãos sabedores do regime papal sabem perfeitamente
O que é ser-se mera perfídia aos santos Domingos
E fitar o altar, símbolo de sacrifícios, inutilmente.

Corações duros acham que matar saudades
Leva-os à outra dimensão do perdão.
Mas o que é afinal ser saudoso do coração
Quando tudo que se sente são contrariedades?

Chega o train. Entro sem vontade de entrar
Lá dentro vão os reformados da vida esperando
O longo corredor tenebroso; O órgão vai tocando
Músicas infernais até tudo desabar...

Álvaro Machado - 21:27 - 19-09-2012

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