Dia. Noite.


O dia tem contornos que a noite desconhece.
A luz destes dias ilumina a alma e purifica-a.
Em nós, que comandados somos, essa luz repete-se,
E brilha dentro do nosso coração que a esquece.

As sombras deixam de as ser; o espírito escurecido também.
O que há pouco não faríamos, agora fazemo-lo ávidos.
Assim, esse lado nosso, negro seria, agora vale um desdém
E somos todos ouvidos.

Eu sei isto e digo isto certo de que está certo dizê-lo.
Como é tão certo que há pouco vi um deambulante,
Mais à frente uma louca e agora mesmo um vagabundo.
Esse dia de contornos é feito à luz brilhante...

Ser dia é contemplar beleza desde que amanhece.
Ouvem-se pássaros mudar a rota, árvores a quebrar
Pelo vento forte que se faz sentir enquanto está forte.
E tudo isto num ápice de audição, nada mais.

Depois com ela, vem a outra: olhar.
Fitar o céu e sua cor, ver o estado de tempo,
Contemplar a simplicidade no seu todo...
Infindável forma de visão imaginar!

Passada esta chega o sabor insosso e incolor
Das mágoas, dos desejos, dos sonhos, das sensações...
Ar puro, céu aberto, ventania do amor...
Tudo ali fora pronto para despertar emoções.

E, todavia, como nos enganam os sentidos!
O dia tem confusões que a noite não tem,
Pois, em si reluz a confusão de sermos um todo
Confundido de tal forma que nos deixa unidos
Há forma de dia iludida.

A noite é-me diferente. Em si há calma e submissão.
Escurecem as casas - apesar de iluminadas - neste apagão
De ser noite cristalina e pura sem barulhos nas esquinas.

Meu descanso é agora eterno; é único sem precedente.
E a forma do que não tem forma, que é noite ardente,
Transforma essa luz num labirinto de solidão.

Álvaro Machado - 15:00 - 27-09-2012

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