Escrever-te
Vim para cá tão triste como a água que escorre,
E em mim só há devaneios e cansaços.
Vim para te dizer, desconhecido espírito, que perdi os laços
E tudo em mim é matéria que morre.
Tenho tantas saudades de todas as nossas conversas
Naquela mesa rústica que mais parecia medieval
Tanto discutíamos no rugido vendaval
E as conversas iam bem dispersas...
Continuo a escrever a carta, que é a maneira mais infeliz
Para cantar-te, sombra com luz, a minha amargura...
Tantas vezes sonhei a triste doença que não tinha cura
Para me tornar um homem feliz!
Quero dizer tanta coisa em tão pouco tempo. Que hei-de dizer?
Lá fora escorre a água em sangue morto, o céu está avermelhado...
Por isso, o que te direi eu às portas do sonho sagrado?
Cantar-te versos? Escrever apenas? Estou tão perto de morrer!
Empregada de mesa, agita a batina e serve a clientela!
E ela, sim aquela mulher, vai carregada de pedidos,
Uns querem um café frio, outros batidos...
Eu apenas quero uma vela,
Pois está perto de ela acender
Lume, chama, queimadura!
Ó avermelhada luz sem cura
És a culpa do meu desvanecer!...
E continuo a escrever-te por saber que não vais ler.
Não mereço que leias isto tudo, nada disto!
Ah! Esta vida impiedosa que me fez nascer
Fez-me também ver que não existo...
Álvaro Machado - 19:28 - 11-09-2012
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