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A mostrar mensagens de novembro, 2012

Pequena Cherbourg

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Encaro a brisa do Mar como uma memória de águas passadas. Faço-me marinheiro, em tempos, e deambulando pelo Mar Às vezes perco o sentido do que é navegar. E espera-me Cherbourg. Esperam-me amigos e marinheiros, Espera-me famílias de outras famílias que não a que tive, Esperam-me as rotinas monótonas e inertes. Hasteio a bandeira que me levou e atraco no cais o que trouxe... São tudo memórias: as que me prometeram e não vieram, As que me foram dadas de impossíveis e chegaram! Ó Deuses do Mar, Deuses da Terra, Deuses do longínquo infinito! Ó brisas insontes, Ó convés perdido, Ó navegação, Bebam do cálice a chuva desta tempestade! Não é possível! Não é possível! É impossível ter nascido, E ter vivido na aldeia humilde, para mais tarde eu morrer Sozinho, nesta ilha e neste inferno de haver ilha! Sejam caladas estas brisas infernais da maresia! Dão insónias, estonteiam sem mais poder querer! (Tenho saudades de Cherbourg...) Napoleão t

Sublime jardim

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O jardim, sem luz, deixa um rasto, Para que sigas com toda a luz Seu enigma indesvendável. Portanto, segue-o sem perturbações, Segue-o sem questionares nada, E encara-o como sábio e certo De toda a diversidade terrestre. Sem luz ao fundo de todas as dimensões... Sem dimensões nos candeeiros do jardim... Faz com que seja o teu caminho suposto, Faz com que dele dê certo a certeza Que serás feliz, que o futuro te sorrirá Como a mim não foi capaz de sorrir, Nem de abraçar... Este é o meu jardim De luz posta à luz das velas e do amor, Das naus expostas aos cais sombrios, Dos lobisomens em florestas alheias E de obscuros batimentos de dor. Mas em ti, Deus sorrirá altivamente. Vai com ele, ergue-te ao céu divino E canta melancolicamente a Querubim A alada virtude de seres formosa!... O futuro espera-te no futuro, O passado já de si saudoso chora, E o presente idolatra-te!... (Mas, como hei-de dar-te rumo? Se o meu jardim cessa Qua

Lua solitária

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Deixemos ao longe a lua brilhar intensamente Como se nesse brilho houvesse esperança, E ela, variando a sua cor, obscuramente, Razão de ser que nunca cansa Vêm ao horizonte cinzas que entoam A cantiga mais triste de cantada ser, E homens, mulheres e abismos haver De razões que voam... E deixemo-la solitária mudando de cor, De um pó estrelar e de uma cor esbranquiçada, Uma lua estranha e distanciada!... Baixa e amarelada enfermidade mortal, Alta e branca, deixando-a vendaval Traspassando dor. Álvaro Machado – 00:21 – 29-11-2012

Manhã do rio

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Hipótese intercalada de estar e de não-estar Vento lutuoso nas manhãs brumosas Junto ao rio, e quando vê-lo é passar Das horas frias às horas calorosas, Não sei para onde me olhar... Sei que o vento move um silêncio eterno, E elas movem a razão de o ser... Gotas caídas pelo fusco de estar a chover, De não haver mais frio de inverno, E só a paisagem deixando acontecer... Averno subtil e pausado do orvalho estagnado, Cantaria fúnebre delas sentenciadas ao fim, Raio de sol suprimido e ritmo dócil cessado... E nem saber se há um raio de sol iluminado Que se lembre de mim... E a paisagem há-de continuar paisagem, Assim como o vento será eterno vento! E a água que escorre pára num momento Em que finda isto e a sublime viagem! (Estando ou não, lamento...) Álvaro Machado – 20:14 – 27-11-2012

Manifesto

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Há-de vir, coração, o sopro longínquo dos males Que acercaram as cinzas do que de ti não resta, E ao topo de oiro e de luz, acima dos vales, A visão de crisólito manifesta. Dez árvores que resplandecem de azares O lado negro que agora, não sabendo, É razão infindável para não amares O lado que está sofrendo. E o cheiro a Hissopo faz as pálpebras lacrimejar Insensatamente… E a brisa de oiro e de luz Ali no cimo dos vales, pregando-o à cruz, Faz amar-te, assim, sem nunca cansar!... Álvaro Machado – 20:32 – 26-11-2012

Fugir de tudo

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Um bater de asas e fugir para o céu azul... Estando alguém com uma áurea esperando Para que as asas batam e fujam, nunca errando, E de longe o norte e sul... É ir ao fundo do mar e afundar As mágoas inertes que não movem, Apenas sentem e sempre comovem O que no fundo é amar... Mas é fugir a lei dos que não fogem. Suspensos sobre as terras enfáticas, Perdidos sobre os desertos que escondem As brisas doridas e cismáticas... E abro o cofre da minha vida para alguém, E estou suspenso num obscuro universo, E perco-me nas estrelas moribundas! Fugindo bato asas, fugindo desço ao fundo, Fugindo encontrarei a felicidade do meu mundo E de mais ninguém! E o cofre é complexo e repleto de almas erradas, E o cofre é maior do que os homens e do que o verso!... (É meu, só meu, e de mais ninguém!...) Álvaro Machado - 17:33 - 25-11-2012