Vontades.
Tem-me sido arrancada a vontade de uma luta já de si
perdida.
Paro e mais não luto, pois não vale a pena ser-se lutador
E lutar pelo que não é nosso, pelo que não pode ser nosso
De maneira nenhuma, pois tudo é nossa dor.
Enquanto ainda era dia e o sol animava, era feliz.
E agora na flor da idade esvai-se, noite esquecida,
O que de mim é memória de quem lutou, de quem
Lutou até mais não ser ninguém.
Vacância ignorante de quem tem pensado! Deixem-me!
Os sonhos têm-me tirado a vontade e acercam-me
O coração negro de pudor e de insignificância nas palavras
Que tenho escrito, seja na noite esquecida ou no dia
lembrado!
Eu sonho o que de mim faz parte, o que de mim já não é
parte!
Com castelos em ermos tristes, com sóis incandescentes
Que nem conseguem reluzir dentro em mim, dentro em minha
fronte!
(Sou o calor do fogo e das chamas ardentes)
Não durmo e penso porque paro neste sonho constrangido...
Quando vagueio pelas estradas esquecidas às horas esquecidas
Penso em tudo o que foi meu, nas palavras que me haviam
dito,
Nas promessas tão bem prometidas...
Vou vagueando, ainda. Vagueio até ao bater da madrugada
cristalina.
O meu corpo está frio como o frio que sinto atravessar-me o
corpo,
E é enquanto vagueio que posso chorar o enfado pesadelo
Do que é luta perdida à noite sem velas.
Ó minha noite escura, noite sem lua, sem velas e sem amor,
Brilhas mais sozinha do que todos os astros do sistema
solar,
Encantas mais corações e dás mais alegria do que o Mar,
E és mais bela do que eu, que só tenho dor...
Álvaro Machado – 21:34 – 22-11-2012
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